Micropagamentos: um negócio de poucos euros em ascenção na indústria dos videojogos

O sector 'gaming', um dos mais sólidos, aproveita-se de pequenas transações on-line, feitas pelos utilizadores para continuar com as suas maratonas de jogos e assim arrecadar milhares de milhões de euros por ano

Albert Lluis

Jornalista

EuropaPress 2644002 ndep liga provincial fortnite guadalajara arranco fin semana yebes
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Anos atrás, os gamers iam a lojas especializadas para comprar os videojogos mais recentes para as suas consolas, pagavam apenas uma vez por cada título e não gastavam novamente até o lançamento de outra novidade. Atualmente, porém, o utilizador pode adquirir um jogo on-line nas lojas virtuais das diferentes plataformas, como a PlayStation Store, a Microsoft Store e a Nintendo eShop. O preço destas aquisições oscila entre os 50 e 80 euros pelas versões padrão de novos títulos. Porém, depois de comprar um jogo completo, as produtoras oferecem complementos, como as loot boxes ou caixas de recompensa, que também têm um custo.

Neste sentido e já há algum tempo, as diferentes empresas têm implementado o que se conhece como micropagamentos ou o pay to win nos seus jogos. Desta forma, as companhias especializadas obtêm uma fonte de rendimentos continua. Embora estas transacções tenham sido destaque por serem consideradas um tanto polémicas e inclusive abusivas, elas também são amadas por alguns jogadores.

Quanto pode gastar um 'gamer' em micropagamentos?

É difícil encontrar um número exato do que uma pessoa pode chegar a gastar  com as microtransações dos videojogos, já que depende da cada jogador. "No nosso centro temos tido alguns casos de dependência extrema. Na verdade, um adulto chegou a gastar-se uns 6.000 euros nuns meses através de micropagamentos", explica à Consumidor Global Consolo Tomás, psicóloga e diretora do Instituto Valenciano de Ludopatía e Vícios não Tóxicos.

Por outro lado, os menores, que representam 19% do total de jogadores, segundo o Anuário 2019 da Indústria do Videojuego em Espanha, costumam ser os que menos autocontrole têm no investimento de seu tempo e dinheiro em videojogos. "No caso das criança, poderíamos dizer que a despesa média ronda os 1.000 euros, dado que não são conscientes do que estão a gastar", enfatiza Tomás. Além disso, normalmente, os menores usam o dinheiro dos pais para comprar as ditas recompensas. A preocupação chega quando isto se converte num vício. "Os micropagamentos podem definir-se como o prelúdio do jogo", confessa Consolo. A questão com estas pequenas transacções é que oferecem ao jogador a possibilidade de contar com certas vantagens quando jogam com outras pessoas. "Isto faz que o utilizador queira continuar a comprar porque vê que as loot boxes lhe dão mais oportunidades de ganhar. E o cérebro quando começa a armazenar mais coisas sente prazer" enfatiza Tomás. Portanto, uma pessoa que acaba demonstrando um vício pode gastar enormes quantidades de dinheiro.

Um modelo de euros

Para compreender as diferentes modalidades de micropagamentos, há que ter em conta o conceito de free to play, que faz referência aos videojogos que se adquirem de forma gratuita --Fortnite é um exemplo claro--, mas possuem pacotes com um custo, normalmente baixo, que o utilizador não está obrigado a pagar para jogar. Estes complementos oferecem novas habilidades para os jogadores, roupas para personagens, mapas, moedas virtuais para gastar dentro dos jogos, etc. Existem três modalidades de micropagamentos segundo o jogo: pagamentos que oferecem objetos novos e exclusivos, pagamentos para adquirir mais experiência ou nível e pagamentos para personalizar ou aperfeiçoar a estética, os quais se denominam cosméticos.

No entanto, os criadores por trás destes jogos vendem-nos de uma forma tão atraente que muitos caem na tentação de comprar um destes lotes. "Nos videojogos jogam com a consciência humana, pois vendem ao utilizador opções mais rápidas de ganhar o jogo ou uma melhor experiência de jogo" explica Elisabet Ruiz, professora de Economia e Empresa da Universitat Politécnica de Cataluña. Por sua vez, o preço é muito chamativo. No Fortnite , por exemplo, comprar moedas virtuais tem um custo que vai desde os 7,99 euros até os 79,99 euros. Outro exemplo é o do novo jogo Call of Duty: Warzone, cujo preço dos packs de pontos ou points vão de 9,99 euros aos 99,99 euros. No entanto, às vezes, o conteúdo acaba por não ser o esperado porque algumas empresas vendem pacotes surpresa. "Ganham muito pelo preço, mas o utilizador às vezes não sabe o que está a comprar", enfatiza Ruiz.

Os números dizem tudo

Estas microtransações são uma boa fonte de rendimentos para a indústria do videojogo e para as empresas que a compõem. Os micropagamentos são um modelo de negócio que oferece grandes benefícios aos estudios de desenvolvimento. No caso dos jogos free to play (F2P), a Fortnite, por exemplo, chega a faturar à volta de 1.800 milhões de euros por ano graças às pequenas transações, segundo o relatório Micro Transactions per Minute da Slotty Vegas. Outros jogos que arrecadam grandes quantidades ao ano são o League of Legends, com mais de 1.500 milhões de euros por ano e Pokémon Go, com mais de 1.400 milhões.

Por outro lado, com os videojogos premium como o FIFA, no caso da versão FIFA20 a marca arrecadou um pouco menos que nos anos anteriores, mas mesmo assim foram cerca de 500 milhões de euros. Este jogo utiliza os micropagamentos para que o utilizador tenha uma quantidade determinada de Fifa Points ou moedas virtuais que se utilizam para comprar os chamados envelopes. Estes envelopes contêm jogadores de futebol para que o utilizador possa criar a sua equipa personalizada. De facto, alguns jovens chegam a tal ponto para conseguir estes envelopes que são capazes de gastar parte das poupanças dos seus pais nestes micropagamentos, como aconteceu a um jovem britânico de 17 anos que fez com que os seus progenitores perdessem mais de 3.000 euros. Sem dúvida, trata-se de um jogo perigoso se não for controlado.

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