O 6 de maio, Julián Serrano apanhava o comboio das 18.45 horas em Málaga com destino à estação Madri-Porta de Atocha-Almudena Grandes. Chegou com tempo suficiente para atravessar o controle de acesso com apacibilidad. Além de sua mala, o passageiro portava sua bicicleta dobrada e coberta por uma carteira. Cumpria as medidas exigidas por Iryo (90x120x40 centímetros) e no trajecto de ida (com a mesma companhia) não teve contratiempos, de modo que Serrano, depois de de passar o código QR com o bilhete, perguntou despreocupado a uma das empregadas onde podia deixar a bicicleta.
"Imediatamente, todo o pessoal da zona de embarque me negou rotundamente a entrada ao comboio, sem me dar alternativa", relata o agraviado que, ante esta negativa, se subiu ao vagão número 7, onde estava seu assento, afirmando que cumpria com o regulamento de Iryo e do Ministério de Transportes. "O trato foi indignante. Gritaram-me, ameaçaram-me e me tacharon de ser um passageiro conflictivo", translada a Consumidor Global.
A chegada da polícia
"Os responsáveis entraram no vagão gritando, causando mal-estar ao resto de passageiros e ameaçando com que a partir de agora ia ter ainda mais complicado viajar em Iryo com bicicleta", assegura Serrano. Finalmente, ante o grau do altercado, a polícia foi ao lugar e convidou a baixar ao passageiro daquele comboio. "Quando chegou a polícia, baixei sem mostrar nenhuma oposição", puntualiza.
Serrano viu como se fechavam as portas diante seu. Com uma mistura de resignação e desespero ficou na plataforma enquanto o comboio de Iryo afastava-se rumo a Madri. "Tive que comprar outro bilhete para o dia seguinte, desta vez para viajar num Ave", expõe o malagueño, quem acrescenta que não teve nenhum percance para fazer o trajecto com sua bicicleta.
A versão de Iryo
Consumidor Global pôs-se em contacto com Iryo para conhecer a versão dos factos da companhia. "A história dista bastante da do passageiro já que, desde o início do embarque, a companhia indicou-lhe que devia manter à espera até comprovar que tivesse espaço no comboio", expõem. Isto é, que, segundo Iryo, o passageiro pode ficar em terra pese a ter bilhete e cumprir com as medidas exigidas da bagagem.
"O cliente não esperou e forçou o embarque. Depois de discutir com os assistentes e ignorar todas suas indicações, a companhia teve que chamar à polícia que procedeu a sua desembarco do comboio", comunica Iryo a este meio. Não obstante, Serrano faz finca-pé em que em nenhum momento lhe disseram que esperasse. "A negativa a entrar com a bicicleta foi rotunda, por isso segui pára adiante. Se dizem-me de esperar, eu espero, como já fiz na ida", realça.
Outros passageiros avalan a Serrano
Os passageiros avalan a história de Serrano e tachan o comportamento da companhia como indignante. "Eu viajava nesse vagão e o que ocorreu é que a tripulação ignorava o regulamento de transporte de bicicletas em comboios de longa distância. Quando se deram conta de seu erro se inventaram a desculpa de passageiro conflictivo. Coisa que é totalmente falso", destaca nas redes sociais Manuel Vico Castillo.
Também Jorge H. assinala que Iryo tem "uns trabalhadores com poquísima educação". "Temos esperado 15 minutos porque uma hospedeira maleducada diz-lhe a um garoto que não pode viajar com seu bici dobrada e com funda quando a lei é outra muito diferente. Ela lhe começou a gritar que era um passageiro conflictivo e fez chamar à polícia. Faz favor, façam provas a vossos trabalhadores, ao menos, os que estão face ao público", faz uma petição à empresa ferroviária.
Ameaças por megafonía
"Nós estávamos a viajar nesse comboio e o que sim temos ouvido de uma testemunha directa é que os que têm abusado de autoridade e falta de respeito têm sido os trabalhadores da companhia. Inclusive têm ameaçado a quem difunda vídeos do incidente com demandas por megafonía", realça Esteban Gómez, outro passageiro do comboio.
Por sua vez, Iryo sublinha que cumpre com o regulamento europeu sobre direitos e obrigações dos viajantes de caminho-de-ferro 2021/782. Segundo esse regulamento, as empresas de transportes podem restringir o acesso de bicicletas por razões de capacidade. "Essa é a verificação que se ia fazer, procurando uma localização segura", comunicam.
Que diz a lei
"Na política de bagagens de Iryo não especificam nada. Não obstante, em seu apartado de perguntas frequentes sim que indicam que só se permite o acesso ao comboio com bicicleta, sempre que esteja desmontada, contida numa carteira ou mala apta para seu transporte e fechada. A bicicleta considera-se um bulto na política de bagagem, e por isso deve cumprir com as medidas máximas permitidas para a bagagem dentro do comboio", contribui o advogado Jesús Jesús P. López Pelaz, director do bufete Advogado Amigo.
Na página site da companhia informam que para os bilhetes adquiridos dantes do 18 de abril de 2024, o cliente poderá levar uma bicicleta a bordo, sujeito a disponibilidade de espaço em função da ocupação do comboio. "Eu adquiri o bilhete o 25 de abril, de modo que tinham que aceitar a bicicleta. De todas formas, a hospedeira me disse que não tinha oco sem o comprovar. Directamente disse-me não, com o qual eu me quiquei", reconhece Serrano. "Peço que me devolvam o dinheiro de meu bilhete, que me paguem o de Ave e que dêem uma indemnização",exige.
Há direito a uma indemnização?
"Se a bicicleta estava desmontada e em carteira, conforme ao estabelecido nas condições, e o bilhete foi comprado após o 18 de abril, então os trabalhadores incumpriram o regulamento e Iryo seria responsável", conclui o advogado. "Obviamente devem oferecer a devolução do preço do bilhete e o pagamento da alternativa já que é a restituição do dano criado pelo incumprimento.
A indemnização em princípio seria esse reparo do dano, não um pagamento a maiores pelas moléstias", explica. "No entanto, o incumprimento pode ser comunicado às autoridades de Consumo para que, se o consideram oportuno, abram expediente sancionador a Iryo", destaca.
O risco de levar uma bicicleta com Iryo
O advogado Iván Rodríguez incide em que Serrano está em seu direito de exigir o serviço que Iryo prometia em suas condições e, por tanto, os serviços que se comprometia a prestar. "Agora bem, aqui entram vários pontos, como que não exista uma letra pequena que avise de que no caso que não se caiba a bicicleta no comboio terá que correr o risco", expõe.
"Ante qualquer dúvida que nos proponha palcos similares a este, é sempre recomendável fazer as consultas por escrito, via email ante a empresa, para que nos responda por escrito sobre as condições e possíveis situações para que, no caso que se dêem em sentido contrário, possa ser mais fácil propor a negligencia e responsabilidade da empresa", finaliza Rodríguez.