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O festival Warm Up proíbe a uma mulher sair e entrar ao recinto para dar o peito a seu bebé

Os organizadores do evento que celebrar-se-á este 3 e 4 de maio asseguram que rectificam e asseguram que estão a trabalhar numa solução

Ana Carrasco González

Imagen de archivo del Warm Up 2023 EP

Essa anarquía pacifista cheia de liberdades que caracterizava aos festivais de outras épocas, como aquele soado da Ilha de Wight em 1970, se apaziguou e nada têm que ver os modernos eventos onde as restrições parecem rechear mais ocos que os nomes dos artistas nos cartazes. Este fim de semana celebra-se o Warm Up em Múrcia, e seus organizadores puseram-se muito estritos com uma mulher em período de lactancia.

"Meu casal perguntou se podia sair e entrar do recinto para dar o peito a nossa bebé", começa a narrar Jesús Ropero. A resposta por parte do festival não se demorou, mas o ditame final não gostou. "Disseram-me que não é possível. Parece-me fatal a resposta. Que pouca consideração têm com uma situação assim", clama o utente sobre o austero evento que terá lugar este 3 e 4 de maio na Fica de Múrcia e que arranca com todos os abonos esgotados.

A pressão social

Ropero não duvidou em fazer pública a tesitura na que se encontra ele e seu casal. Em sua conta pessoal da rede social X informou ao resto de internautas da proibição de Warm Up. "O único que queremos é que ela possa entrar e sair para dar de peito à bebé e seguir desfrutando dos concertos. Nada mais. É uma situação excepcional muito concreta", implora sobre o festival que aglutina a música dos Planetas, Arde Bogotá, Sen Serra, A A Love You ou Vinte e um.

O cartaz do festival Warm Up 2024 / WARM UP

"Parece-me desumano", "Uma pedra mais no caminho da maternidade", "Que a estas alturas estejamos assim…", são algumas das frases que se empilharam em mostra de apoio a estes pais depois da publicação de Ropero. "Não lhe permitem voltar a entrar após dar lactancia a nossa filha de meses que, obviamente, não estará no festival. Ainda lhes explicando que é uma situação excepcional, que não pode beber álcool, etc. Não há maneira", faz finca-pé o afectado.

O sonrojo de Warm Up

A pressão social conseguiu sonrojar a Warm Up que, depois da consulta de Consumidor Global, se pôs em contacto de novo com a utente. "Estamos a procurar uma solução. Nestes casos sempre o gerimos com o pessoal de segurança e não há problema", responde a este meio. Agora sim, a negativa inicial se converteu numa "possibilidade".

Ropero reconhece que na entrada estava detalhada as condições do festival, mas considerava a situação algo excepcional. Os organizadores do evento musical consideraram-no depois do estallido da opinião pública. Mas, menos é mais e algo é mais que nada.

É ilegal proibir sair e entrar a um festival?

O verdadeiro é que ainda que se trata de uma prática legal, é "abusiva e desleal". Assim o explica a Consumidor Global a advogada de Legálitas Araceli Durán. "O facto de deixar ou não voltar a entrar ao recinto não faz parte da prestação de serviços de um festival e por tanto não se deve cobrar por isso. Deixar passar ao que tem mais dinheiro supõe uma conduta discriminatoria e desleal", sentencia a jurista.

Público num festival / EP

Segundo Durán, cobrar o reacceso vulnera vários pontos da Lei Geral para a Defesa dos Consumidores e Utentes, como é oferecer "cláusulas abusivas que vão na contramão das exigências da boa fé e limitando os direitos do consumidor", acrescenta esta especialista. Coincide com Jorge de Gonzalo, advogado de UB Consultores. "Entende-se que esta prática não cumpre a boa fé e está orientada unicamente a incrementar sem justificativa os ganhos do festival em si, sem que exista contraprestación. Baixo meu critério esta meçama é totalmente abusiva e desequilibrada", afirma De Gonzalo a este meio.

Não deixam voltar a entrar nem pagando

Na mesma linha opina a advogada Rosana Pérez Gurrea. "É uma prática abusiva porque vulnera o artigo 82 da lei de consumidores e utentes ao impor de forma unilateral pelas empresas promotoras um sobrecargo que não está justificado", detalha a vogal da Subcomisión sobre Direitos dos Consumidores do Conselho Geral da Advocacia Espanhola.

"Não é que tenha que pagar para voltar a entrar, é que com as entradas de dia não se pode entrar e sair, mas com o abono sim que se pode", detalha Ropero a este meio de comunicação. Não obstante, segundo a conclusão dos experientes consultados, seja pagando ou não, a prática de não deixar voltar a entrar é "abusiva e desleal".

Por que o festival o proíbe?

Consumidor Global tem perguntado aos organizadores do Warm Up sobre a razão que justifica esta medida imposta e que, por enquanto, não tem confirmado se acabará cedendo ao casal de Jesús Ropero neste caso concreto. Não obstante, ao termo desta reportagem não se recebeu nenhuma resposta sobre esta questão.

Em opinião da advogada Pérez Gurrea, estas práticas seguem-se realizando porque não se reclama o suficiente e porque em muitos casos "as sanções são irrisorias e não têm um efeito disuasorio", expõe a advogada, que convida a reclamar a todos aqueles utentes afectados.