Loading...

Disney despreza o formato físico em Espanha para empurrar os seus seguidores para o 'streaming'

O gigante do entretenimento evita a edição dos seus filmes em 4K Ultra HD em disco, enquanto noutros países e na sua plataforma on-line sim pode-se desfrutar da máxima qualidade

Alberto Rosa

Filmes em formato físico na prateleira de uma loja de vídeo / PIXABAY

O acesso a uma qualidade de imagem e som óptima em filmes de formato doméstico também é uma luta aberta por parte de muitos consumidores e amantes do cinema. Se a Warner e a Paramount desprezavam o utilizador espanhol no som das dobragens das suas fitas Blu-Ray, Disney também despreza os cinéfilos espanhóis que querem desfrutar dos seus filmes em casa com a maior qualidade de imagem possível.

É que o gigante do entretenimento nega-se a distribuir em Espanha todos os seus filmes em disco 4K Ultra HD, uma exigência que os aficionados do Blu-Ray solicitam desde há tempo. "Tal como o resto da Europa chegam os filmes em 4K, não entendemos por que aqui não o fazem", expõe à Consumidor Global Javier González, artífice de uma petição em Change.org para que a Disney edite neste formato e que junta mais de 1.300 assinaturas.

A tecnologia 4K Ultra HD

Desde o aparecimento da televisão, a qualidade da imagem através da resolução dos ecrãs tem evoluído de forma considerável até chegar à última tecnologia em imagem: o 4K Ultra HD. Os televisores mais actuais contam com este sistema e a qualidade é quatro vezes mais que a que atingem os televisores HD, com uma resolução de 3840x2160 pixels. O primeiro formato doméstico que surgiu foi o DVD, depois chegou o Blu-Ray e, por último, o 4K Ultra HD, com uma qualidade até 16 vezes maior que o já antigo DVD.

 

E, é acessível esta tecnologia? A verdade é que sim. "Os televisores 4K estão na ordem do dia e ao alcance de todos, o seu acesso está bastante democratizado", opina González, um amante do formato doméstico para visionar filmes em casa. No entanto, tanto os filmes da Disney como as da 20th Century Studios (é preciso lembrar que a empresa do Mickey Mouse comprou a Fox em 2019) não chegam a Espanha em disco 4K Ultra HD devido a uma estratégia da companhia para, supostamente, empurrar o consumo de streaming no Disney+, onde se se oferece esta tecnologia de visionamento.

Os filmes da Marvel, uma excepção

"Já que não editam o disco em Espanha, que ao menos incluam o castelhano nas edições para o resto dos países de Europa e que as distribuam também aqui", exige González. É que se alguém quer adquirir um disco com esta qualidade em Espanha será difícil porque não existe no mercado, nem sequer os títulos editados na versão original. Comvém lembrar que nos próximos meses, a 20th Century Studios lançará novos títulos com tecnologia 4K. É o caso de Avatar ou Titanic, filmes que os utilizadores já reconhecem que "se não continuamos a fazer pressão para que cheguem na máxima qualidade, não nos vão chegar".

O logo e o famoso castelo da Disney / DISNEY

"Há um desejo de 4K". É a ideia que os cinéfilos querem transmitir sem descanso à Disney. "Uma das explicações que se costumavam dar sobre a não edição destes formatos é que não era rentável", assinala González. No entanto, este argumento tem pouco peso, pois o resto dos revendedoras como a Warner, Paramount ou Universal sim que editam em 4K UHD em Espanha. "Eu acho que não o fazem porque querem impor a plataforma da Disney+, mas não o entendo, porque uma coisa não é incompatível com a outra", opina este aficionado.

Procura de assinantes e medo de pirataria

"Não me estranha que sejam zelosos do seu conteúdo e que enviem para a plataforma utilizadores que queiram ver filmes da mais alta qualidade", opina Antoni Roig, especialista em cultura audiovisual e professor de Ciências da Informação na UOC. Roig afirma à Consumidor Global que esta estratégia da Disney pode dever-se a dois factores: a procura de mais subscritores em Espanha para Disney+ e o medo da pirataría.

Vários discos DVD / UNSPLASH

"Acho que querem atrair o público adulto e conseguir mais subscritores. Por isso optam por estratégias como esta", conta o professor. Além disso, Roig lembra que a imagem de Espanha tem estado muito vinculada à pirataria, o que poderia ser outro motivo do gigante para se negar a editar em formato físico os seus títulos na máxima qualidade. "É verdade que o impacto das plataformas reduziu de forma drástica a pirataria, mas precisamente por essa saturação que vivemos agora de conteúdos em streaming não me surpreenderia se houvesse um receio de uma retoma destas práticas", sublinha o perito.

A Disney e a sua desconfiança em relação ao formato de casa

O formato físico, como ocorre noutras manifestações artísticas como a música com o vinil, volta a estar na ordem do dia e há uma "clara reivindicação" devido ao contexto atual de excesso de oferta de conteúdos em streaming e de plataformas . "É a primeira vez que se começa a falar de crise com base nos grandes volumes de subscritores. Também é importante a ideia de que nem todos os títulos vão estar para sempre disponíveis, os direitos caducam".

É essa confusão a que, segundo considera Roig, propicia um mercado "muito de nicho" em relação ao consumo de cinema e séries. "Este mercado existe, mas há que ter em conta que a Disney sempre foi muito receosa sobre quando e como lançava os títulos em formato doméstico, e falo de tempos do VHS. É uma estratégia de marketing que sempre os identificou", conclui.