O Guernica foi um encarrego do Governo da Segunda República a Pablo Picasso em 1937. Nesse mesmo ano, depois de dar-se a conhecer e mostrar a crudeza da Guerra Civil espanhola (e o colaboracionismo nazista com o regime franquista) na Exposição Universal de Paris, a tela exibiu-se em várias cidades dos países nórdicos e de Inglaterra até recalar, por desejo expresso de Picasso, no Museum of Modern Art (MoMA) de Nova York. Ali permaneceu entre 1939 e o 24 de outubro de 1981, quando se exibiu por vez primeira em Espanha.
Nada mais aterrar em nosso país, o Guernica foi depositado no Museu do Prado, ainda que, por logística, expôs-se no vizinho Casón do Bom Retiro até 1992, quando a tela de grandes dimensões foi transladado ao Museu Reina Sofía. Mas qual era o sonho de Picasso com o Guernica? Onde queria o artista malagueño expor sua grande obra?
O sonho de Picasso
Pablo Picasso tinha muito claro onde devia estar exposta sua obra mais emblemática: junto às Meninas de Velázquez . Esta era a vontade do artista malagueño porque "o se queria confrontar com os grandes maestros", aponta a experiente em Picasso e doutora em História da Arte Genoveva Tusell.
No entanto, Tusell considera que, na actualidade, "não faria sentido" transladar o Guernica ao Museu do Prado, pese a que Picasso assim o manifestou.
O melhor lugar para o Guernica
"Tendo em conta o bem exposto que está no Museu Reina Sofía, o bem cuidado e o bem exibido que está, acho que não faria sentido nenhum o mover. Está fantasticamente bem no Rainha Sofía", expõe Tusell numa entrevista concedida a Europa Press com motivo do 142 aniversário do nascimento de Picasso e depois do 42 aniversário da chegada do Guernica a Espanha.
"Muitos dos implicados, entre outros, meu pai Javier Tusell, se mostraram na contramão desse translado ao Rainha Sofía. Acho que agora o melhor lugar onde pode estar é no Rainha Sofía. E, por suposto, as condições de conservação desaconsejan que se preste ou que se mova a qualquer outro lado, ainda que seja temporariamente", assegura a experiente, quem recorda que o regresso da obra a Espanha foi um labor "muito complicado".
As negociações
Genoveva Tusell, que qualifica o Guernica como "o último exilado", viveu de perto a negociação com o Museu de Arte Moderna (MoMA) de Nova York para a devolução do mural porque seu pai, Javier Tusell, era então director geral de Belas Artes em Espanha.
"A primeira tentativa por recuperar a obra foi em 1968, quando ainda estava Franco no poder. Estava a construir-se o que seria o Museu Espanhol de Arte Contemporânea e o que se pensou era que o Guernica podia ser a estrela desse novo museu. Sabia-se que tinha sido um encarrego da República, que era propriedade espanhola, e então o próprio general Franco deu seu visto bom e encarregou a Carrero Blanco que fizesse averiguaciones e que começasse a solicitar informação ao MoMA", relata.
O artista e Franco
Esta primeira aproximação resultou ser um "falhanço" porque, tal e como aponta Tusell, Picasso, assim que conheceu as intenções de Franco, chamou a seu advogado e redigiu um documento no que estabeleceu as condições do depósito no MoMA.
"As condições foram que a obra não regressaria a Espanha até que se reinstaurara a República. Depois, por conselho de seu próprio advogado, mudou um pouco essa explicação e substituiu-o por até que voltassem as liberdades públicas a nosso país", indica. A partir do ano 79, pôs-se em marcha o regresso da obra de uma maneira bem mais "decidida". Algo que finalmente se conseguiu em 1981.
O último exilado
"Picasso sempre quis regressar a Espanha, sempre realçou seu españolidad, mas tinha muito claro que não viria enquanto em Espanha tivesse uma ditadura", assegura Tusell.
"A obra acho que significa o ponto final de uns anos maus em Espanha e sua chegada esteve acompanhada de muitas coisas, para muitos artistas significou sua volta do exílio", comenta, dantes de acrescentar que na actualidade é um "telefonema de atenção" e uma lembrança do "passado espanhol".