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Festivais de música no verão? Quando a despesa em água supera o preço de um bilhete
Os espectadores e participantes nestes eventos queixam-se do "excessivo" custo por um bem básico e reclamam às promotoras fontes nos recintos
Por fim, o primeiro verão sem restrições desde 2019. Os grandes festivais de música celebram o seu reencontro com o público numa temporada carregada de diferentes propostas artísticas para escolher por toda a Espanha. No entanto, este regresso traz de volta um assunto polémico entre alguns dos eventos musicais mais conhecidos: a exigência de água gratuita por parte dos participantes. É que a despesa com esta bebida num espectáculo deste tipo supera o preço de um bilhete, tal como confirmam vários participantes deste tipo de eventos.
A maioria destes eventos celebram-se durante o verão, quando as altas temperaturas se convertem em autênticas cabeças de cartaz de qualquer festival e refrescar-se e hidratar-se é fundamental. A cerveja é a bebida que mais se consome nestes eventos, mas a água lidera como o refresco mais pedido nos bares, segundo um relatório de hábitos de consumo em festivais de 2019, o último verão pré-pandemia.
A água como um produto de luxo nos festivais de música
Francisco Artacho, participante habitual de concertos e responsável pela petição Água potável e gratuita nos festivais de música no Change.org, denuncia os preços "excessivos" das garrafas e explica a sua experiência no festival Cabo de Prata em Barbate (Cádiz) . "Estava no barr a a uma rapariga ao meu lado foi recusada várias vezes um copo, a única forma que tinha era pagar 4 euros por uma garrafa que custa céntimos. Ela não tinha dinheiro suficiente de modo que lha comprei", relata.
Artacho assegura que num evento que dura três ou quatro dias se pode deixar 30 ou 40 euros só em bebida e com uma média de quatro garrafas por dia. Esse é o preço que vale o bilhete de muitos destes eventos. "Quanto dinheiro tens que levar para estar hidratado?", pergunta-se indignado.
Quatro euros por algo que custa céntimos no supermercado
Sara Galindo, outra participante, diz que no Arenal Sound de Burriana (Castellón) a cada garrafa lhe custou também 4 euros, o preço mais caro que se lembra de ter pago. Por outro lado, indica que o evento no qual mais baratas viu as garrafas foi no Festas Rock de Adra, Almería, onde valiam 2,50 euros, sendo ainda na sua opinião "caras".Por outro lado, conta que a zona de camping sim dispunha de fontes pertencentes à rede do município.
"Se o conseguir a um preço mais barato, posso comprá-lo e não terei de sair do local e perder os concertos", justifica.
O setor defende-se
Doutro lado, Alexander Garvin, chefe de produção de festivais como En Órbita em Granada, assinala que, apesar de não dispor de fontes e pontos de água potável em recintos como os deste festival, "sempre pedimos aos chefes de bar que se alguém solicita um copo lho dêem grátis".
Por outro lado, Garvin opina que se um evento vende garrafas é porque não tem acesso à rede e não tem outra alternativa. Além disso, o empresário desmente que os promotores lucrem com a venda de garrafas porque "os lucros são ridículos", assegura.
Os dias de água paga estão contados
Em maio de 2022, o Ministério para a Transição Ecológica enviou à Comissão Europeia o projecto do real decreto de embalagens e resíduos pelo que obrigar-se-á aos eventos musicais e desportivos a oferecer água grátis –como também terão que fazer os bares espanhóis–. O motivo é reduzir os resíduos e fomentar a reutilização e o reciclagem. Sobre a sua entrada em vigor, Transição Ecológica espera que a norma seja aprovada definitivamente antes de fim de ano.
Sobre esta medida, o promotor Alexander Garvin responde que lhe parece "perfeito", sempre que se faça em "boas condições". "TNão faz sentido ter água a ferver a sair das fontes. Se me derem instalações, sejam subsídios ou a instalação, parece-me genial, mas ter que pagar eu a fonte fria, pois não", manifesta.
A hidratação como um direito básico
Félix Martín, perito em previdência e segurança alimentar, lembra que é "absolutamente necessário" ter acesso à bebida e poder hidratar-se nestes eventos, especialmente quando chega o calor. "A água é fundamental para regular a temperatura do corpo, se não bebemos, esta sobe e ocorre um golpe de calor", remarca. Além disso, explica que no verão, devido ao suor, se produz uma maior evaporacção da água e é primordial repô-la
Martín acrescenta que o direito à hidratação é básico e não se pode privar a uma pessoa de água. "Se não me deixas entrar no recinto tens que me dar pontos nos quais eu possa refrescar-me", sublinha. Nesse sentido, opina que é "muito positivo" que a administração tome conta do assunto com a obrigatoriedade de facilitar pontos de acesso grátis nos concertos porque "as autoridades têm que velar pela saúde das pessoas". "Não esqueçamos que os golpes de calor podem chegar a acabar com a vida de alguém ou causar sequelas graves", recorda.
Festivais que já contam com fontes nos seus recintos
Já há alguns eventos em Espanha que se adiantaram ao Executivo e há vários anos oferecem água grátis ao seu público. Mais especificamente, a Comunidade Valenciana pediu aos promotores para facilitar este acesso aos seus eventos em 2017 e alguns dos festivais que já contam com fontes nas suas instalações são o Low de Benidorm ou o Festival Internacional de Benicàssim (FIB).
Fora de Valência, o Resurrection Fest de Vigo, o Primavera Sound em Barcelona, o Mad Cool em Madrid ou o Monegros em Zaragoza também se juntaram a esta prática que muitos consumidores reclamam desde há tempos e que pouco a pouco parece chegar a mais eventos, ainda que seja a golpe de real decreto.
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