Depois das ameaçadoras notícias sobre a escassez de abastecimento, depois dos gargalos terríveis, o consumidor, com o ânimo borbulhante, já acaricia o saca-rolhas para regar os momentos de Natal. Da mesma forma, os bares e restaurantes preparam-se para as festas nas quais esperam melhorar os dados do ano passado. Para muitos setores (como o vinho), as festas de Natal representam um período chave com picos de consumo.
O diretor da Espirituosos Espanha, Bosco Torremocha, conta à Consumidor Global que o Natal, pelas suas características ("uma época na qual se celebra o importante e se faz em companhia, à volta de uma mesa e associado à diversão") propicia o aumento do consumo de bebidas espirituosas no general. No entanto, Torremocha reconhece que as que ganham uma especial relevância nestas datas são alguns tampados, como o brandy, os licores e os produtos tradicionais do estilo do anis. Os desarrolhamos.
O brandy, 36 graus de tradição
A percepção geral que se tem do brandy é que se trata de uma bebida masculina, asscoiada a um consumidor idoso ou directamente mais velho. Além disso, não tem um consumo tão social como outros produtos: está associada à intimidade, a um cadeirão e talvez inclusive a um charuto. Ou ao respingo que revigora o café. 2020 foi um mau ano para o brandy, que registou um descréscimo das vendas de 29,8 % face ao ano anterior. Foi um desastre, mas um pouco menos que o gin (-36,5%) ou o rum (-33,3%). No entanto, muitas pessoas optaram por beber nas suas casas.
Quando os meios de comunicação publicaram que neste ano poderia haver escassez de abastecimento do Seagram's ou Tanqueray, as redes sociais encheram-se de comentários jocosos que reivindicavam, em tom mais ou menos irónico, esta bebida: "Pois a beber brandy de Jerez, como toda a vida". Quanto às suas características, tal como se especifica no site da Espirituosos, o brandy obtém-se através da destilação do vinho e deve chegar ao consumidor com um mínimo de 36% vol. de grau alcoólico. Da mesma forma, em Espanha existem duas regiões produtoras principais: Jerez (Andaluzia) e o Penedés (Catalunha). Por outro lado, o brandy é um clássico na hora de preparar sobremesas.
Anis
Falar de anis é falar do Anís del Mono, uma marca catalã que no passado outubro cumpriu 150 anos com uma edição especial. Outras marcas espanholas centenárias são Anís La Asturiana, Anís Balmaseda e Anís La Castelhana. Para além das suas características, este licor associa-se ao Natal porque a garrafa é um aliado icónico para cantar canções de Natal pela percussão que se pode conseguir riscando com os talheres. Bebida e instrumento incorporado.
Entre as suas propriedades, o anís é reconhecido pelas suas faculdades digestivas. É feito a partir de extractos naturais de plantas que, como especificam da Espirituosos, "possuam a fragancia característica do anís, tais como erva-doce, anís verde e funcho". Os licores de anis gozam de grande implantação em todo o território espanhol.
"Apelar à necessidade de manter vínculos"
Torremocha explica que o seu é um setor centenário: "Muitas das nossas empresas criaram-se em 1.700". Por isso, sustenta, a comunicação com o consumidor é chave não só para se atualizar, mas também para transferir a proposta de valor da marca e tambémos seus valores. Considera que está a dar certo. "As espirituosas têm liderado a comunicação ao longo de muitas décadas e há exemplos maravilhosos que se estudam nas escolas de márketing", argumenta.
"Fruto disso, ainda vemos exemplos de campanhas que transcendem inclusive à marca e que tocam a fibra sensível dos consumidores". Tal como afirma o diretor da Espirituosos, ao falar de licores falamos também de emoções. "A ninguém se lhe escapa que nos tocou viver momentos muito duros e que desejamos momentos de felicidade e companhia depois desse outro efeito secundário da pandemia, a solidão. Não podemos deixar de apelar à necessidade de manter e cuidar os vínculos e as relações pessoais". Neste sentido, Torremocha alude à campanha de Ruavieja, uma marca centenaria que produz licor de café, creme, licor de ervas e que neste ano surpreendeu adaptando-se aos gostos do consumidor moderno com um creme de arroz vegan e sem lactose. "Campanhas como Temos que nos ver mais e temos que nos ver melhor são um magnífico exemplo", afirma Torremocha.