Ainda que "as arrugas são sorrisos gravados", como dizia o escritor francês Jules Renard, o negócio da perfumaria e a cosmética é um filão que este 2022 atingirá a cifra de 5.500 milhões de euros em Espanha, segundo o Observatório Sectorial DBK de Informa --filial de Cesce--. E, entre suas diferentes categorias, o segmento de produtos para o cuidado da pele é o mais importante, com o 29,3 % das vendas totais. Mas, por qual decantarse? Por um creme de marca branca ou por uma de luxo?
O creme antiarrugas Q10 Dia da marca Cem vende-se em Lidl por 2,99 euros e tem sido premiada por sua relação qualidade-aprecio. Mercadona comercializa baixo sua marca Deliplus o creme antiedad Sisbela (5 euros), que tem os mesmos ingredientes e princípios activos que Revitalizing de Alain, cujo preço supera os 35 euros --mais sete vezes-- em outras lojas. Então, é verdadeira a crença popular de que todos os cremes fazem o mesmo? Por que existe tanta diferença de preço nos produtos cosméticos? Está justificado?
1. A formulação importa
A acção de um cosmético baseia-se na textura e nos ingredientes activos, que são o equivalente ao valor nutricional de um alimento: ácido hialurónico, vitaminas, extractos de plantas e um longo etcétera de activos que se demonstrou que têm uma acção fisiológica sobre a pele. Até verdadeiro ponto, modificam o comportamento da pele. "As marcas brancas costumam fazer cosméticos com texturas muito dignas, mas com poucos activos e em pequenas quantidades", expõe a este meio a directora técnica e responsável por I+D de Laboratórios Magriña, Mar Jal i Mora, quem explica que, às vezes, "te copiam a fórmula e a sacam ao mercado reventada de preço".
Assim mesmo, os processos de fabricação e a qualidade variável de uma mesma denominação também podem influir no preço final. Nos cosméticos "podes encontrar ácidos hialurónicos que custam 50 euros e outros que saem a 2.000 euros o quilo. Obviamente, a qualidade, a pureza, o tamanho da molécula, a efectividade e a penetração é muito diferente", aponta a engenheira química e directora de Lico Cosmetics, Estefanía Ferrer. Ainda que a eleição de um princípio activo ou outro e a quantidade do mesmo pode influir no preço final, estes ingredientes rara vez superam o 2 % do conteúdo da embalagem --o resto são ingredientes baseie como água, silicona, azeites…--, pelo que alguns experientes opinam que é difícil justificar a abismal diferença de preços nos produtos cosméticos se fixando só na formulação.
2. Muito márketing e poucos ensaios
Os preços das marcas de cosmética convencional "estão directamente correlacionados com o marketing e o prestígio do laboratório", resume, sem cabelos na língua, a cosmetóloga e autora do livro Beleza e cosmética natural (Editorial RBA, 2019), Marcela Burgos. Aparecer em Vogue ou em Elle ; ir à gala dos Oscar como a marca Natura Bissé; contratar a uma modelo de renome ou à influencer do momento para o anúncio; tudo isto repercute no preço final, porque a cosmética vai sócia ao glamour.
"Há que procurar marcas transparentes que invistam mais em produto e não tanto em publicidade ", aconselha Ferrer, quem explica que, em ocasiões, o consumidor não pode distinguir se investe num produto de qualidade e com investigação e desenvolvimento (I+D) detrás, ou num cosmético com uma listagem de ingredientes mediocre e muito marketing. Para sair de dúvidas, a experiente aconselha comunicar-se com a merca, perguntar e inclusive pedir resultados de eficácia. Também os aplicativos Yuka e Inci Beauty, que ajudam a analisar os ingredientes de cada produto, podem ser úteis para o consumidor.
3. O perfume
Após o marketing e a formulação do produto, a eleição do perfume também repercute no preço final. "O perfume desenham-no-lo sob medida para cada cosmético, e isso se paga", explica a directora de Lico Cosmetics.
De facto, o perfume é um ingrediente de complemento "cujo preço oscila entre os 30 e 500 euros o litro", aponta Jal i Mora, quem faz finca-pé em que a exclusividad tem um preço.
4. A embalagem
Entre os cinco factores que influem no preço de um cosmético também se encontra o continente. Não é o mesmo um frasco único e exclusivo, que uma embalagem do montão. Não é o mesmo um frasco dourado com uma pérola para valer, que a embalagem do chinês, da marca branca de Clarel ou do Tiger.
"Nosso packaging é bastante regular e funcional, investimos em I+D . Quando vais comprar um creme de 300 euros, te fixa no packaging. Isso canta", adverte Ferrer.
5. A quantidade também altera o preço
Por último, também não é o mesmo vender três cremes ao mês numa loja de luxo, que vender 5.000 unidades numa corrente de grande distribuição. "O impacto do canal de venda no preço é brutal", reconhece Jal i Mora. Por sua vez, Ferrer também assegura que o volume de vendas "marca a diferença".
Também há marcas que têm cremes de primeira e lociones de segunda. "As políticas comerciais das marcas também afectam. 'Pomo-lo a 150 euros para que seja mais exclusivo, mais de luxo?'. 'Sim, 150 outorgar-lhe-á mais valor acrescentado'", reproduz Jal i Mora.