Nunca antes o ser humano tinha metido dispositivos eletrónicos no corpo. Por um lado, estão os dildos de vidro, metal, silicone ou madeira de toda a vida, mas se os brinquedos sexuais conquistaram 53% das mesas-de-cabeceira de Espanha não tem sido graças a eles.
Se o autoprazer está na moda é graças ao desenho de uns dispositivos que contam com uma tecnologia capaz de fazer que as mulheres atinjam o orgasmo em matéria de segundos e apenas apertando um botão. Desde que a Womanizer revolucionou a indústria dos brinquedos sexuais em 2014 com o lançamento do primeiro sugador de clitóris, a imaginação deixou de ser a melhor aliada da masturbação e a sofisticação e inovação destes produtos atingiu limites inimagináveis. Mas como é o processo de fabricação destes artilugios capazes de levar o orgasmo a outro nível?
À procura do prazer
Desenvolver um novo brinquedo sexual é um processo longo. A primeira dificuldade está em "descobrir o que gosta e faz desfrutar as pessoas, porque muitas pessoas ainda não falam disso e, às vezes, não sabem o que as pode fazer gozar", expõe à Consumidor Global Johanna Rief, diretora de empoderamento sexual da Wow Tech, um grupo empresarial de produtos de prazer íntimo que conta com marcas como Womanizer e We-Vibe no qual 30% dos seus empregados são engenheiros, cientistas e desenhadores que trabalham em inovação, investigação e desenvolvimento de produto.
Tal como explicam da empresa alemã, a primeira fase de desenvolvimento de produto consiste em encontrar novos conceitos de estimulação do prazer. "Os primeiros protótipos provêm de uma impressora 3D e ajudam-nos a ter uma ideia mais precisa possível de como será o produto final", acrescenta Rief.
O Masturbateam
Uma vez desenhado um novo dispositivo, submete-se a uma série de provas que asseguram que o tamanho, a forma, os materiais utilizados e a tecnologia cumprem os padrões de segurança e qualidade que estabelece cada empresa. Umas revisões que garantem a durabilidade, segurança, biocompatibilidade e electromagnetismo, entre outras características, do dispositivo electrónico, e que "ajudam a identificar as deficiências e pontos fortes do produto", aponta a especialista.
A posteriori, todos os produtos da Wow Tech passam por três etapas de prova. Os primeiros protótipos "são testados por um grupo de empregados que se oferecem como voluntários", aponta Rief, que explica que, depois das primeiras mudanças baseadas em comentários, os produtos entram numa segunda fase de provas com amigos e familiares dos membros da equipa. Se as provas são positivas, os brinquedos são enviados a um grupo internacional de utilizadores da marca denominado Masturbateam. "O feedback dos utilizadores, que nos explicam o que sentem e experimentam com os brinquedos, é de grande importância, porque o que gosta uma pessoa não é necessariamente o que gosta a outra", acrescenta a especialista.
Um orgasmo que se desvanece lentamente
Os últimos dispositivos da marca Womanizer são capazes de fazer autênticas truques. O estimulador de clitóris Classic 2, por exemplo, conta com a função Afterglow, uma tecnologia que proporciona um final suave após um orgasmo intenso. Quando o clitóris está na sua máxima expressão de sensibilidade, se pressionado brevemente o botão de ignição e o produto volta à intensidade mais baixa. Desta forma, os utilizadores podem deixar que o seu orgasmo se desvaneça de forma agradável e sem necessidade de pressionar compulsivamente o sinal de menos.
"Integrámos uma ampla retroalimentação dos utilizadores para melhorar as funcionalidades na nova geração de alguns de nossos produtos mais vendidos", expõe à Consumidor Global Tobias Zegenhagen, diretor de tecnologia da Womanizer. Assim, o modelo Premium 2 inclui Autopilot 2.0, uma função que permite aos utilizadores ceder o controle enquanto o brinquedo muda harmoniosamente entre os diferentes níveis de intensidade. As transições do novo Autopilot 2.0 "agora são ainda mais suaves e oferecem mais variedade", acrescenta Zegenhagen sobre este modelo que conta com 14 níveis de intensidade. Outra das inovações mais surpreendentes recebe o nome de Smart Silence, e permite que a estimulação se inicie só quando há contacto com a pele. Até esse momento, o dispositivo está em modo espera.
Materiais proibidos
Ao ser todos eles produtos íntimos, convém lembrar que as marcas reconhecidas e fiáveis não utilizam na elaboração de seus dispositivos substâncias como ftalatos, cádmio ou alquilfenóis porque podem provocar irritações e alergias e não devem estar presentes nos materiais que entram em contacto com a mucosa, segundo a norma ISO 3533. "Também desenvolvemos a nossa própria silicone, Cleantech, para Arcwave Íon, o primeiro produto masculino com tecnologia Pleasure Air", explica Rief, que afirma que a alta densidade e biocompatibilidade desta silicone faz com que esteja a salvo de patógenos e germes. Além disso, "esta silicone é hipoalergénica e resistente à luz ultravioleta, o que a faz mais duradoura e higiênica que os materiais convencionais para produtos masculinos do mercado".
Ao mesmo tempo, "há muitos fabricantes piratas que imitam desenhos e mecanismos de marcas consolidadas", alerta Oscar Ferrani, divulgador sexual e assessor da casa erótica Amantis. Nestes casos, a qualidade dos materiais é menor e os principais defeitos têm a ver com a maquinaria. Costumam ser dispositivos mais ruidosos, toscos na mudança de programa e com uma má ou nula impermeabilidade. "Duram menos, não oferecem garantias e podem ocasionar problemas", insiste Ferrani.
Informação no ponto de venda
Na hora de comprar um brinquedo sexual, sempre é aconselhável dirigir-se a um ponto de venda especializado. A primeira pista para saber se um produto é fiável ou não é se ele tem dados claros do fabricante ou revendedor final e oferece uma forma de contacto . Um brinquedo seguro também deve indicar as incompatibilidades que tem. Por exemplo, se os materiais de contato direto com o corpo, ao entrar em contaco com determinados lubrificantes ou óleos de massagem, podem ver alteradas suas caraterísticas.
"Desconfiemos dos fabricantes dificilmente identificáveis e daqueles que não informam devidamente ao comprador das características e incompatibilidades do produto. Ainda que ofereçam preços baixíssmos, desconfiemos deles", diz Ferrani.