Chega o verão. O calor é sufocante. Às vezes, mais do que o habitual. É tempo de renovar o armário. Talvez não seja, mas é isso que muitos consumidores pensam. E ao sair às compras, passa por uma Zara, a popular marca da rede têxtil que reina nas principais arterias comerciais espanholas. No entanto, em vez de ter uma surpresa ao passar pela caixa, o grande choque de muitas compradoras agora chega no provador. O vestido da Zara no tamanho M fica mais folgado e as calças tamanho 38, também. Agora são maiores os tamanhos da Inditex ? Escutou a Zara as súplicas de muitas das suas clientes? Algumas críticas, até há pouco muito focadas num tamanho especialmente pequeno, deram uma reviravolta de 180 graus.
A Inditex ainda não se pronunciou a respeito. Nem para bem, nem para mal. Mas as utilizadoras, sim. Ao pedir aconselhamento a algumas funcionárias do grupo por telefone e através do chat de atendimento ao cliente, afirmam que não têm provas de que tenha mudado o padrão da empresa neste sentido. Então, pode que ser que trate de uma mera sensação?
"A Inditex fez os tamanhos maiores ou estou louca?"
A jovem Alicia León conta à Consumidor Global que foi à Stradivarius e à Pull&Bear comprar uns shorts para este verão e se surpreendeu. Segundo ela, sempre usou um tamanho 36, mas, agora, o 32 fica-lhe largo. "Cheguei a ter muito menos peso que o que tenho agora e a 36 era a que me ia bem porque sou um bocado larga de pernas", explica a este meio. Por outro lado, acrescenta que também nota os vestidos de Zara maiores, já que sempre usou um XS e agora este lhe fica muito largo.
Ela não é a única. A utilizadora @sarahrnandez afirma nas redes sociais que "é espantoso o que Inditex está a fazer. No ano passado usava um 36 e agora uso um 32 porque o 34 é enorme", explica. E, na mesma linha, @albatoch explica que precisa que a Inditex voltasse ao tamanho normal "porque isto de ir procurar um 34 e que seja como um 38 não pega".
Uma possível resposta ao "caos" dos tamanhos
Sobre o tamanho das peças, entre as diferentes redes de roupa também há divergência. Experimentar um 36 de umas calças da Bershka e ver que o mesmo tamanho da Mango não corresponde é algo que já não surpreende a estas alturas. María Martín-Montalvo, diretora de Relações Institucionais do ISEM Fashion Business School, esclarece que "cada rede e cada marca de moda é dirigida a um público objectivo diferente" e, por isso, a publicidade, os materiais, os preços e, também os tamanhos, estão focados a este. Neste sentido, "não é o mesmo a roupa que está dirigida a adolescentes que a que está dirigida a uma mulher de meia-idade". Portanto, o tamanho S de uma adolescente de 16 anos não será o mesmo que o tamamho S de uma mulher de 35, explica essa perita.
No caso da Zara, por exemplo, há três seções: Trafaluc, para pessoas jovem (assinalada com um triângulo na etiqueta); Basic, para maiores de 35 anos (com um quadrado na etiqueta); e Woman, mais elegante (etiquetada com um círculo). Segundo María, "inclusive dentro da Basic os padrões podem variar porque há peças que pelo seu próprio desenho e padrão, oversize por exemplo, são diferentes de outras que são slim". Por isso, como enfatiza, "uma unificação a nível nacional é complicada e não faria demasiado sentido". Do mesmo modo, "a nível europeu, complica-se mais ainda porque as alturas e os tipos de corpo não têm nada a ver nuns lugares e outros".
O 'vanity sizing': a prática enganosa de algumas marcas
O vanity sizing –ou tamanho vaidoso– consiste em etiquetar uma peça com um tamanho inferior ao que tem. Por exemplo, que uns shorts com tamanho 36 tenham, na verdade, as medidas de um 40. Trata-se de uma estratégia de marketing que põem em prática algumas marcas para satisfazer o cliente, que, ao usar um tamanho mais pequeno da que esperava, pensa, enganado, que baixou de peso. Aqui entram em jogo a fomentação dos estereotipos sociais, o que pode incentivar a transtornos psicológicos.
Segundo um estudo sobre Imagem e Percepção do Fashion Retail em Espanha da consultora Kantar Worldpanel, entre os principais motivos na hora de escolher uma rede de moda, os consumidores procuram, entre outras coisas, uma disponibilidade de variedade de oferta e tamanhos. No entanto, segundo as várias queixas das consumidoras, parece que ainda há muito caminho para percorrer neste sentido.
As Kardashian e Rosalía: precursoras dos tamanhos maiores?
Sobre se são inclusivos os tamanhos, Martín-Montalvo explica que "a oferta tem vindo a aumentar em todas as redes de moda rápida nos últimos anos, por um incremento da procura e também por pressão social". As modelos delgadas de inícios da década dos 2000 ficaram para trás e "estamos numa tendência provocada por fenómenos como as Kardashian ou Rosalía, que são mulheres com curvas que estão vestidas à última moda". Por isso, segundo explica, "todas as pessoas --de todas os tamanhos-- querem estar na moda".
Que o tamanho da Inditex tendem a ser pequenos é vox populi. Então, poderia ser que, por fim, a marca tenha escutado a suas clientes? Martín-Montalvo explica que nas redes de fast fashion "há algumas peças que devido ao seu padrão podem ser usadas pessoas com tamanhos grandes e que há também uma oferta crescente de oversize nas próprias colecções". No entanto, ainda que "a modelação tenha melhorado e o 38 de há uns anos é agora mais inclusivo que então e nas peças básicas --de fundo de armário-- a oferta é maior", na roupa de tendência de cada temporada as marcas dimensionam este tipo de serviços para evitar um sobrestock.