Primeiro foi Mastodon e depois Bluesky, mas o verdadeiro é que nenhuma delas tem chegado a fazer tremer a Elon Musk como o pode estar a fazer Threads, o novo Twitter de Instagram (Meta). A app de Mark Zuckerberg acaba de aterrar em Espanha e em só umas horas já está a dar muito de que falar.
E daí é Threads? Trata-se de uma nova rede social de microblogging , as originadas para publicar mensagens curtas. Está criada por Meta, a empresa encarregada de Facebook, WhatsApp e Instagram, ainda que é com esta última com a que mantém uma especial relação, já que tem sido desenhada por sua equipa.
O que Mastodon ou Bluesky não têm conseguido
Threads está vinculada a Instagram, de modo que aqueles utentes que já fazem parte dela não têm que se criar uma conta para esta nova rede social. A sensação que dá ao abrir o aplicativo de Threads é que realmente estás em Twitter. E, ainda que pareça absurdo, é aí onde está a chave de seu sucesso.
Já há um grande número de perfis criados para meios de comunicação, artistas e famosos, o que faz sentir que estás numa rede em massa como o é Twitter. E por que todo mundo quer estar em Threads? A diferença do que ocorreu com Mastodon e Bluesky, são muitos os utentes que estão a ir ao unísono à nova plataforma.
Vinculada a Instagram
"Threads não é qualquer coisa. Trata-se da nova aposta de Meta e uma de suas fortalezas é que, de partida, já há uma percentagem altísimo de seguidores de forma automática aos novos perfis por sua vinculação a Instagram, que era uma das debilidades de Mastodon ou Bluesky", explica a Consumidor Global Cristóbal Fernández, vicedecano de Comunicação da Faculdade de Ciências da Informação da Universidade Complutense de Madri e professor de comunicação digital.
Na mesma linha opina Ferran Lalueza, experiente em social média e professor da Universitat Oberta de Cataluña (UOC). "Mastodon tinha um problema de base e é que não era nada intuitivo, além de estar organizado em diferentes âmbitos. A graça de uma rede social que aspire a ser mainstream é que não tenha fronteiras e na que te possas encontrar a todo mundo", conta.
Deixar de lado Twitter
No caso de Bluesky tem passado algo similar. Apesar de estar criada por Jack Dorsey, um dos fundadores de Twitter, a app não acabou de convencer. "Eu pensava que sim que podia ser uma alternativa a X tendo em conta quem era seu criador. Quiçá faltou-lhe o músculo económico e empresarial como o que tem Meta", opina Lalueza.
"Com Threads, Meta tem posto toda a carne no asador para que a gente deixe de lado Twitter, ademais com a capacidade de conseguir a visibilidade e o interesse de todas as plataformas de Mark Zuckerberg", acrescenta o professor da UOC. Por se isso não fosse suficiente, o aplicativo traz novas funcionalidades e ferramentas que a fazem ainda mais atraente.
Como funciona Threads
Por exemplo, além de texto, fotografias e vídeos, podem-se publicar notas de voz, uma funcionalidade "rompedora" que destaca Lalueza. "Eu mesmo me estreei com uma mensagem de voz. Parece-me interessante poder fazer um comentário em qualquer momento de maneira mais espontánea e sem ter que digitar", assinala.
O limite de caracteres por publicação é de 500, para seguir mantendo a esencia de microblogging, mas com uma interessante novidade e é que se podem editar. Com X só podem editar suas publicações aqueles utentes que contam com uma assinatura de pagamento. Outro dos aspectos positivos de Threads com respeito a X é que não contém publicidade. Também não transmite esse afán de monetizar que tem X e seu sistema de assinaturas.
Um espaço amável em frente à hostilidade de X?
Outro dos aspectos que tem gerado rejeição durante este tempo em X é o ambiente de hostilidade e polémica que campaba a suas largas nas conversas. Threads, por enquanto, converteu-se para muitos num espaço idílico no que não há tanto ódio. "De partida há muito bom ambiente e isso supõe dar uma oportunidade à nova ferramenta", assinala Cristóbal Fernández.
Para Ferran Lalueza, é questão de tempo que essa migração em massa que se espera para a plataforma inclua também haters e gente que faz um "uso tóxico" da rede. "Os primeiros que aterram nas novas redes sempre são gente motivada com vontades de lhe dar um bom uso. Precisamente fugindo dos meios tóxicos como o que pode ter em X, mas depois pode voltar a se encher de más práticas", aponta.
Elon Musk deve preocupar-se
Ambos experientes têm claro que Elon Musk deveria inquietar pelo lançamento de Threads. "Deve estar preocupado. Por enquanto há mais de 100 milhões de utentes quando X tem 500 em todo mundo, mas há que ver como evolui nas próximas semanas", vaticina Cristóbal Fernández, vicedecano de Comunicação da Faculdade de Ciências da Informação da Universidade Complutense de Madri.
O professor da UOC e experiente em social média Ferran Lalueza coincide nesta linha. "Musk tem que se preocupar. Quando tens convertido a Mark Zuckerberg numa personagem relativamente simpático é que tens um problema, com toda a má reputação que tem arrastado", conta. Sobre os próximos passos de Threads, Lalueza augura um futuro "esperanzador" por seu crescimento imparable em Estados Unidos e agora em Europa, onde "tinha muitas vontades de que esta nova rede social chegasse", conclui.