Quase sempre se repete a mesma fórmula. Uma oferta muito llamativa que esconde umas despesas de administração e uma fiança que roza os 1.000 euros. Pequenas rayaduras quase imperceptibles servem para reter esse depósito de garantia durante dias e inclusive acabar imputando danos que já estavam no veículo. As empresas de rent a car geram a cada vez mais desconfiança nos consumidores por culpa de suas duvidosas práticas. Mas, que há por trás deste modelo para acabar com tantas experiências negativas?
Os casos mais temidos vêm de empresas muito conhecidas do sector como Sixt, Hertz, Centauro ou Avis. Todas elas arrastam o peso das críticas de muitos consumidores que têm tido que recorrer a seus serviços para viagens de férias ou traslados pontuas.
Recuperarei a fiança?
"Acho que passa um pouco como ocorre com as aerolíneas e a bagagem. O processo de reclamação é complicado para o cliente e muitas vezes não lhe compensa. As companhias de rent a car têm muito que ganhar e pouco que perder", resume Vale Bascón, advogada especializada em direito do consumidor do despacho Sem Comissões.
Quando se aluga um carro com uma empresa deste tipo, ao cliente se lhe bloqueia uma quantidade determinada de dinheiro por um prazo de um mês em conceito de fiança. "Durante esse tempo, a empresa pode decidir combinar-se com o dinheiro de forma unilateral com a desculpa de qualquer defeito, seja este real ou não", explica Bascón a Consumidor Global.
A "duvidosa confiabilidade" das empresas de 'rent a car'
O da rayadura é sem dúvida um clássico nas armadilhas que levam a cabo muitas destas empresas. Em opinião da advogada, "quando a empresa reclama um defeito e este não é real, reclamar se converte num processo longo e tedioso que não costuma compensar aos clientes pela quantidade de dinheiro que costuma supor".
Tal e como explica Bascón, desde o despacho Sem Comissões recebem com frequência muitas queixas de danos que o cliente afirma não ter realizado e que chegam dias após devolver o carro. "Normalmente, estes danos são minúsculos e vão acompanhados de uma foto que deixa um pouco que desejar assim que confiabilidade", assinala.
Fazer sempre fotos
Ademais, a jurista critica que os custos que costumam cobrar as companhias por pequenas rayaduras "estão inflados e injustificados". "Para fazer-se uma ideia, podem chegar a pedir 240 euros por uma listra quase imperceptible no tapacubos", critica Bascón.
Javier Risueño é advogado no despacho AMG Legal. "É um sector que, em temporadas altas, com tanta demanda, aumentam muito as incidências e as fraudes", assinala. O jurista remarca a importância de tomar fotos sempre dantes e após usar estes veículos, tanto na recolhida como na entrega, para evitar acusações falsas.
Revisar os contratos
"As cobranças fantasma que algumas companhias realizam a seus clientes se disparam em época estival", acrescenta Estel Romero, advogada do despacho Sanahuja Miranda Advogados. Em muitas ocasiões, leva-se a cabo esta prática com a desculpa de costear uns reparos no veículo depois de finalizar o período de aluguer. No entanto, "os danos que pretendem imputar ao cliente não são responsabilidade deste, sina que já existiam dantes de tomar posse o veículo ou são posteriores à relação contratual", revela a advogada.
Os advogados coincidem na importância de revisar bem as condições dos contratos. "Ao alugar um veículo, é importantíssimo ler as condições que se estão a aceitar com nossa assinatura", assinala Romero. Se detecta-se qualquer cobrança extra depois da devolução, há que recorrer ao contrato e "procurar se existe referência alguma a que a empresa poderá carregar reparos sem que se tenha demonstrado que o utente tenha tido um acidente com esse veículo", aconselha a letrada, que considera esta cláusula abusiva.
Prestar atenção aos seguros com franquia
Para evitar este tipo de incidentes com as empresas, a advogada de Sem Comissões, Vale Bascón, recomenda não se guiar só pelo preço ou o tipo de carro, sina que há que dedicar um tempo a revisar as opiniões on-line da companhia, já que "pode dar muitas pistas sobre a probabilidade de que se tenha um problema com eles.
Bascón também adverte dos seguros que se tentam vender à hora de alugar um veículo. "O primeiro que recomendo é que se fixem em que o seguro seja sem franquia para que o cliente não tenha que pagar um euro em caso de danos e, ademais recomendo se fixar em que estejam a contratar o seguro com a própria companhia e não com um terceiro já que em muitas ocasiões obrigar-lhe-ão a adiantar o dinheiro e depois terá que brigar com a companhia terceira para que lho devolvam", remarca.
"Aproveitam-se da gente em férias"
São conselhos nos que também coincide Javier Risueño. "Há que tentar ir a empresas conhecidas do sector, ler detidamente as políticas da cada uma e ter muito em conta que o barato ao final sempre costuma sair caro".
Para Risueño, o principal problema do modelo dos rent a car é que estas empresas se podem aproveitar da confiança da gente que está de férias. "Alguém que se vai de férias não quer líos e igual lhe sai melhor pagar 100 euros a mais que se pôr a reclamar e denunciar esses abusos", conclui.