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Os perigos do uso diário de óculos de leitura que podes encontrar em farmácias e bazares

Os peritos recomendam não abusar destas lentes que atuam como lupas e alertam dos riscos de as comprar em lojas não especializadas em saúde visual

Alberto Rosa

Óculos de leitura de uma farmácia ou bazar / PEXELS

Ter problemas de visão com a idade é algo muito habitual. Conhece-se como presbiopia ou vista cansada e costuma aparecer a partir dos 45 anos. Uma das primeiras soluções às quais se costuma recorrer são os chamados óculos de leitura ou de farmácia, que também se vendem ou encontram em bazares e que podem ser muito prejudiciais para a saúde visual.

Este tipo de binóculos são armações simples  com lentes esféricas de igual potência em ambos os olhos que atuam como lupas, daí que também se conheçam como óculos-lupa. Foram desenhados e fabricados com o único objectivo de servir como auxiliares de visão de perto em situações de emergência. Podem-se encontrar em ópticas e farmácias, mas também numa infinidade de lojas de presentes, bazares ou estações de serviço por preços que rondam os 3 euros. Demasiado barato para ser bom?

Uns óculos baratos com efeito lupa

"São basicamente umas lupas, com a mesma potência em ambas as lentes e sem correcção de miopía e astigmatismo", resume sobre este tipo de lentes a óptica Raquel Soria. A equipa da Consumidor Global visitou vários centros para conhecer mais a fundo este tipo de artigos e, em especial, os perigos que podem provocar. "Como urgência e para um momento muito pontual podem servir, mas nada de uso diário", alerta nesse sentido Ángela Fernández, trabalhadora da VistaOptica, um centro localizado na rua Bravo Murillo de Madrid.

Gafas lupa ou de leitura num bazar chinês / CG

Além de atuar como lupas, apresentam a mesma graduação em ambas as lentes e "quase todas as pessoas têm diferentes necessidades em cada olho, por isso, uns óculos pré-montados não são a melhor opção", remarca Ana Belém Cisneros, vice-presidente do Colégio de Ópticos-Optometristas de Castilla e León. Outro dos problemas que destaca esta perita é que os ditos óculos não medem os centros ópticos, que é a distância entre ambas as pupilas, e apresentam uma medida padrão que não se pode modificar.

Os perigos do uso diário destas lentes

O uso diário de umas lentes pré-montadas pode originar uma série de deficiências e danos na visão que, a curto e médio prazo, pode derivar em problemas mais graves. Do Colégio Oficial de Óptico-Optometristas de Andaluzia assinalam alguns riscos, como erros no cálculo das distâncias, lacerações e dores de cabeça ou vertigens.

Uns óculos sobre um livro / PEXELS

Por outras palavras, a utilização excessiva deste produto pode agravar uma doença em vez de ser um remédio. Segundo os especialistas, pode desenvolver novas patologias visuais pela falta de controle profissional, bem como a perda da visão num dos olhos por exclusão ou diminuição do seu uso ou inclusive aparecimento de estrabismo, transtorno conhecido como "olhos bizcos".

Disponível em qualquer loja a partir de 3 euros

Além de ópticas e farmácias, este produto também se vende de forma indiscriminada em bazares, estações de serviço e lojas de presente de todo o tipo, algo que os profissionais optometristas criticam e aconselham evitar. "Não recomendamos a sua utilização, mas se optar por eles, aqui nas lojas de óptica eles pelo menos passam um exame de saúde e as lentes incluem filtros, não são apenas lupas" indica a este meio Consolo Guijarro, trabalhadora da Alain Afflelou.

O preço das lentes pré-montadas nesta rede é de 39 euros face aos 3 euros que podem custar num bazar. Segundo conta a empregada, as lentes incluem um filtro de luz azul para os ecrãs dos dispositivos. "São as únicas que temos porque na verdade não recomendamos este tipo de lentes, a nossa missão como profissionais de saúde é fazer uma prescrição e consciencializar que o uso de lentes de aumento só deve ser usado ocasionalmente", enfatiza Guijarro.

O erro de auto-graduar a visão

A vice-presidente do Colégio de Ópticos e Optometristas de Castilla e León, Ana Belém Cisneros, fala de uma espécie de anacronismo no facto de que haja pessoas que hoje experimentem diferentes óculos de leitura sem um assessoramento profissional: "Num mundo em que avançámos tanto com as novas tecnologias, há pessoas que fazem como antes e experimentam óculos para ver com os quais podem ver melhor. É uma incongruência total", sublinha com indignação.

Óculos de leitura num bazar chinês / CG

Nesse sentido, Consolo Guijarro da Alain Afflelou acrescenta que quando alguém utiliza uns óculos com os que apensa poder ver bem, mas sem saber a sua graduação, corre o risco de corrigir em excesso  e aumentar ainda mais a graduação. "É o que se conhece como olho preguiçoso", sustenta Lidia P., da farmácia Zugasti Goñi, do bairro madrileno de Tetuán. Os óculos pré-montados que se vendem neste local têm um preço de 15 euros e são "lupas básicas e sem nenhum filtro". Ao perguntar por estas, a trabalhadora indica que as há de uma e até de três dioptrías, que é o valor que determina a potência da cada lupa. Seja como for, tal como insistem os peritos, a melhor solução face o aparecimento de presbicia ou vista cansada é ir a um médico ou centro óptico para realizar uma graduação completa "e que se valorizem realmente as necessidades que tem cada um de nossos olhos", detalha Ana Belém Cisneros.