Um ovo de cor negra brilhante --pelo uso da pedra obsidiana-- para fortalecer o assoalho pélvico que se pode adquirir por um módico preço que oscila entre os 10 e os 25 euros. Este produto, ante o assombro de muitos utilizadores, voltou-se a estar na moda pelos benefícios que promete. No entanto, até que ponto faz algo novo ou diferente? "Pelo seu formato parece-se às bolas chinesas que se usam para reforçar a musculatura interior da vagina com exercícios dirigidos por especialistas", diz à Consumidor Global a ginecologista Susana Pérez, membro de Doctoralia.
No entanto, algumas publicações e influencers atribuem a este ovo vaginal efeitos quase sobrenaturais. Com explicações chamativas do tipo "limpa o teu passado sexual" ou "pode eliminar quistos e infecções", este produto tem ganhado certa fama, ante a estupefação de alguns especialistas. "Desconheço as propriedades desta pedra. Eu prefiro a medicina baseada na evidência e este ovo não conta com nenhuma", acrescenta Pérez. Segundo esta ginecologista há produtos no mercado baseados na medicina chinesa que se vendem quase como milagrosos, mas, "a verdade é que é algo que está muito longe", assegura.
"Prometer coisas sem sentido para as pessoas"
Este halo de espiritualidade e misticismo que rodeia os ovos de obsidiana se deve em boa medida às redes sociais. Em plataformas como TikTok podem-se encontrar publicações de utilizadores que asseguram ter tido experiências positivas com este objeto e que beiram o esotérico. "Não podem atribuir propriedades mágicas a esta pedra", diz a obstetra e ginecologista Annalisa Di Rocco. No entanto, esta especialista em saúde feminina reconhece que pode ter certas aplicações, ainda que são as mesmas que oferecem outros produtos semelhantes de vidro, por exemplo. Isto é, que o ovo seja de obsidiana carece de relevância.
Este produto, no entanto, pode converter-se numa boa ferramenta para ajudar algumas mulheres com determinados problemas. "Ao utilizá-lo consegue-se ter mais consciência do assoalho pélvico e aumenta-se a livdez", argumenta. As terapias com objetos deste tipo, por outro lado, devem assoalho ser orientadas por profissionais e podem complementar-se com exercícios de contração ou hipopressão para uma maior eficácia. Outra das vantagens destes ovos tem que ver com a melhoraria do fluxo sanguíneo da zona, explica Di Rocco. "O importante nestes casos é que não se deve prometer coisas as pessoas que não têm nenhum tipo de sentido", recalça.
Os riscos da sua utilização
Na maioria dos sites onde os benefícios, quase milagrosos, dos ovos de obsidiana são mencioanados é dada uma série de orientações sobre a sua utilização. Em geral recomenda-se evitar o seu uso durante a gravidez, se estiver menstruada ou se houver sangramento. Di Rocco acrescenta a esta lista o pós-parto ou quando há algum tipo de infeção vaginal.
Da mesma forma, para minimizar os riscos a especialista recomenda que os objetos deste tipo utilizados em terapias de saúde sexual sejam produzidos com materiais homologados. "A superfície tem de ser totalmente lisa para que seja mais fácil a lavagem e evitar recantos onde se acumulem batérias ou vírus e causar problemas", adverte.
Gwyneth Paltrow já esteve em apuros por vendê-los
Em setembro de 2018, a famosa actriz norte-americana Gwyneth Paltrow teve problemas legais por este tipo de ovos vaginais. Especificamente, eram de jade e de quartzo rosa. A polémica arrancou então pelas extravagantes propriedades que lhes atribuíam e que se difundiram através do Goop, o site de tendências e lifestyle que a estrela de Hollywood possui desde 2008. Na página vendiam-se estes objetos por 60 dólares --uns 50 euros-- e afirmava-se que equilibravam as hormonas e a energia.
O assunto pôs em pé de guerra os especialistas e chegou às autoridades. O escritório de proteção ao consumidor da Califórnia denunciou o conteúdo e Paltrow teve que fazer frente a uma multa de 145.000 dólares –à volta de 124.000 euros--. "A saúde e o dinheiro dos residentes do Condado de Santa Clara nunca deve se colocado em risco por publicidade enganosa", disse o promotor Jeff Rosen numa declaração escrita. "Protegeremos os consumidores contra as companhias que prometem benefícios de saúde sem o apoio de qualquer ciência", acrescentou. Além da multa, Goop ofereceu-se para reembolsar o dinheiro aos consumidores que compraram este produto.