"Meu passatempo favorito é meter-me na Shein e ver toda a roupa que não me vai chegar", brinca no Twitter uma utilizadora que se diz chamar Cittlally. É que num contexto bélico, depois da invasão da Ucrânia, e com uma greve de transportadoras pelo meio os estragos no setor da logística tornam-se habituais. Assim, alguns consumidores perguntam: onde está meu pacote? Por que não chega?
Até o momento, as empresas asiáticas tinham resistido à tempestade, mas desde há umas semanas, parece ser que algo falha na China e os pacotes da Shein chegam mais tarde do que o normal. E a guerra não é a desculpa. "No geral, demoram uma semana, mas na página já me alertaram que o meu pedido chegará por volta de 25-27 de abril. Pedi-o na sexta-feira 10 de março", conta à Consumidor Global, Montse Bernaus, uma das afetadas. Mas, que problemas tem então o gigante asiático?
A China e a sua política Covid 0
O ataque da Rússia a Ucrânia afetou o sector da logística, mas não teve tanta incidência nos pacotes que provem da China. "Num mundo globalizado dependes do que aconteça em outros pontos do mundo, isso é inevitável", diz Emili Vizuete, professor da Universidade de Barcelona e especialista em logística. Mas, neste caso, o gigante asiático tem outras rotas para chegar a Espanha e, estas "não se são tão afetadas pelo conflito bélico", enfatiza Cristián Castillo, especialista em logística e professor da Universitat Oberta de Cataluña (UOC).
É que o Covid continua activo. A China tem registado um aumento de contágios . "E como têm uma política de zero casos, com apenas um já confinam cidades e param todo o tipo de atividade", acrescenta Castillo. É o caso da Shenzhen . Considerada o grande pólo empresarial do país, esta cidade possui o quarto porto maior do planeta e desde há umas semanas converteu-se no pesadelo da logística. "Ao cair a actividade em Shenzhen, muitos setores se ressentem, tanto o tecnológico como o têxtil", corrobora Castillo. No entanto, este especialista insiste em ressalta que não há causa desencadeante porque nas questões logísticas "são muitos os aspectos que afetam". Na sua opinião, à situação atual do país asiático somaram-se outros fatores como "a crise dos contentores ou a greve das transportadoras".
Mais consumidores afetados
Patricia Garcia, outra consumidora afetada, explica a este meio que fez um pedido à Shein no passado 8 de março. Mas do website avisam-lhe de que o seu pedido "ainda não saiu do aeroporto da China". Isto surpreendeu, e muito, a García. "No geral, demoram uns 10 dias", diz.
E García não é a única que está nessa situação. "O meu pacote da Shein já leva mais países percorridos dos que eu vou conhecer em toda a minha vida", brinca Patricia M. que há mais de 15 dias que espera o seu pedido.
Outros problemas com os envios
Vizuete assinala que o método de envio que estas empresas utilizam também faz parte do problema. "Para evitar os impostos aduaneiros, empresas como a Shein enviam os pedidos pelo serviço postal normal e não através de empresas de logística, como faz a Amazon", comenta o especialista. Esse truque também faz com que as demoras sejam mais longas e, por isso, "não é um serviço tão rápido", acrescenta Vizuete.
Assim, alguns consumidores já se queixaram a respeito. Na verdade, no Twitter, uma utilizadora lamenta ter tido que ir à alfândega procurar o seu pacote retido. "Pararam-me um pacote ae Shein pelo peso", assinala. Segundo Vizuete, isto acontece quando um pedido pesa demasiado para o serviço postal comum. "E no caso da AliExpress ou Shein o consumidor tem que pagar se quer recuperar a sua compra", conclui.