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O perigo do investimento de Tesla (e outras tecnológicas) em bitcoin para pequenos ahorradores

Javier Roibás

Una persona visualiza la variación de precios del bitcoin en internet

Poucos sabem como funciona em realidade ou de que depende que seu valor se dispare ou se desplome, mas todo mundo tem ouvido falar do bitcoin, a rainha das criptomonedas. Alguns o chamam o ouro digital, e inclusive, têm chegado ao catalogar como um novo valor refugio para os investidores que, no marco de uma crise económica como a actual, querem manter a salvo seu dinheiro. Desde a irrupción da pandemia sua cotação disparou-se e nesta mesma semana atingiu seu máximo valor histórico --38.523 euros—após que Tesla anunciasse um investimento de 1.250 milhões de euros nesta criptodivisa. Os experientes consultados por Consumidor Global advertem de que devido a sua alta volatilidade ainda está longe de ser um valor refugio como, por exemplo, o ouro, o dólar ou a dívida soberana de países muito estáveis como Alemanha. Asímismo, o Banco de Espanha e a Comissão Nacional do Mercado de Valores (CNMV) saíram ao passo da euforia desatada e advertiram aos pequenos ahorradores de que as criptodivisas são instrumentos complexos "que podem não ser adequados" para seu perfil. Seu preço implica um alto componente especulativo "que pode supor inclusive a perda total do investimento", alertam.

No entanto, sim que se posicionou como uma alternativa quando as rentabilidades dos investimentos de risco se vêem limitadas devido à tendência bajista dos mercados em momentos de turbulência económica. Assim, quando os experientes que gerem grandes carteiras têm mais difícil dar um pelotazo na carteira, o bitcoin sai ao resgate. "É o rei do risco alto e das grandes voltas, mas também dos batacazos. É a selva na que te metes quando vais a por todas", assegura Luz Parrondo, directora do posgrado em blockchain e outras tecnologias da Barcelona School of Management da Universidade Pompeu Fabra.

Apple e Amazon, depois dos passos de Tesla?

Segundo Jaume Sozinha, cofundador de Criptan, uma fintech valenciana especializada em operar com este tipo de activos, a volatilidade do bitcoin corrigir-se-á no futuro quando seu mercado seja mais amplo. A quantidade de dinheiro que move a dia de hoje --capitalización-- é pequena em comparação com a do ouro, por exemplo. Isso implica que a pouco que os investidores comprem ou vendam seu preço fluctúa de forma acusada. No entanto, "o bitcoin está a começar a ser conhecido e seu mercado está a crescer, o qual fará que num momento dado seu preço seja mais estável", assegura Sozinha.

De facto, os últimos grandes movimentos que se produziram em torno da criptomoneda apontam nessa direcção. No final do passado outubro Paypal anunciou a possibilidade de comprar e vender qualquer divisa digital através de sua plataforma e nesta mesma semana Tesla desvelou um investimento de 1.500 milhões de dólares --uns 1.250 milhões de euros-- em bitcoin, além de aceitá-lo como médio de pagamento. "Está a produzir-se uma adopção em massa por parte de grandes empresas, fundos de investimento e investidores institucionais e o resto não se vai ficar atrás. Amazon, Apple e grandes fundos de investimento podem ser os seguintes", augura Jesús Lorente, experiente em fiscalidad e criptodivisas e sócio de Seico Consultores. De facto, nessa linha apontam também os analistas do banco de investimento RBC Capital Markets, que consideram que a companhia de Cupertino deve seguir os passos de Tesla e apostar pelo bitcoin.

Os incertos factores que regem seu preço

As acções de uma empresa, os bonos soberanos ou as divisas têm algo que respalda e incide sobre sua cotação, como a estabilidade de um governo ou uma nova tecnologia. No entanto, no caso da principal criptomoneda, "não há nada detrás", sublinha Parrondo. "Não depende de nenhum governo nem do estado da economia real. Seu valor só depende da especulação, da fé e das expectativas dos investidores", agrega. Tanto é assim, que a criptomoneda se revalorizó um 19 % depois do anúncio do investimento de Tesla e o 8 de fevereiro sua cotação atingiu seu máximo histórico. No entanto, tão só dois dias depois o valor retrocedeu um 4,42 % --até os 36.820 euros--.

"Existe um desconhecimento sobre os factores que regem seu preço", aponta Nereida González, consultora do área de Análise Económica e de Mercados de Analistas Financeiros Internacionais (AFI). Nesse sentido, esta experiente acrescenta que o facto de que não esteja regulado e as próprias características de seu mercado são outros dos riscos aos que se ate um investidor que decida destinar uma percentagem de sua carteira a esta criptomoneda. Nessa linha também apontam a CNMV e o Banco de Espanha. "Os preços das criptomonedas formam-se em ausência de mecanismos eficazes que impeça sua manipulação, como os presentes nos mercados regulados de valores. Em muitas ocasiões os preços formam-se também sem informação pública que os respalde", aseveran ambas entidades.

Mudança de visão

Apesar de que não se possa considerar ao bitcoin como um valor refugio nestes momentos, o verdadeiro é que no contexto do coronavirus se produziu uma mudança da visão sobre este activo. Em 2017 seu preço chegou a máximos históricos naquele momento --uns 16.500 euros--, depois afundou-se e o letargo durou até a pandemia do coronavirus. "Depois dessa borbulha --a de faz quatro anos-- teve medo a que fosse desaparecer. Agora já não existe esse temor e há uma confiança plena em que o bitcoin está para ficar", asevera Parrondo. Nesse sentido, considera que a tecnologia na que se baseia esta criptomoneda, o blockchain, não só consolidar-se-á, sina que estará presente a todos os sectores.

"É destacable a mudança de tom dos bancos centrais quanto às criptodivisas. Agora parecem mais dispostos a trabalhar na emissão de divisas digitais próprias", sublinha por sua vez a consultora González. São os telefonemas CBDC --Central Bank Digital Currency, isto é, Moeda Digital do Banco Central, por suas siglas em inglês-- e, segundo Parrondo, o debate suscitado durante a pandemia em torno de se o dinheiro em numerário ia desaparecer é um dos factores que tem impulsionado essa nova visão. Conquanto o uso do bitcoin como médio de pagamento ainda não está muito estendido, e a dia de hoje se percebe mais como um valor especulativo, a experiente González considera que "se está normalizando a existência deste tipo de moedas", como ocorre com Libra, a criptodivisa de Facebook .

Bitcoin, limitado a 21 milhões

Um dos argumentos que se empregam para comparar o bitcoin com o ouro é o facto de que ambos são recursos finitos. Assim, quando Satoshi Nakamoto --o pai da criptomoneda mais famosa-- criou o bitcoin limitou sua quantidade a 21 milhões de unidades. Na actualidade calcula-se que se minou –como se denomina ao processo de obtenção deste activo-- o 85% das reservas e se estima que demorar-se-á mais de um século em extrair o resto.

No entanto, Parrondo não lhe dá nenhum tipo de relevância a essa tentativa de paralelismo. "A intenção de Nakamoto era criar uma moeda que se utilizasse para pagar e que se gerasse à margem dos bancos centrais e dos interesses particulares dos governos. Agora, se precisam ampliar a quantidade de unidades criarão um fork --isto é, outro programa informático no que se tome como base o código fonte original-- e farão bitcoin 2", insiste. Sobre este aspecto, o experiente Lorente difere e assegura que se isso ocorresse "a maioria da gente deixaria de crer no bitcoin e seu valor ir-se-ia a zero". Por tanto, considera muito improvável que isso suceda.

Má fama

Um dos fantasmas que tem perseguido ao bitcoin nos últimos anos --devido em parte ao oscurantismo em torno do minado e às dificuldades para o adquirir-- é a associação de seu uso com actividades fraudulentas.

No entanto, a experiente da Pompeu Fabra sublinha que esta moeda é "igual ao dinheiro em metálico, mas em digital", e defende que "os pagamentos fraudulentos que dantes se podiam fazer ao levar um maletín cheio de bilhetes num avião a outro país, agora alguns os fazem com esta criptomoneda porque chega em segundos. Se estigmatiza muito ao bitcoin, mas ao final vai ser nosso metálico", augura.