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Medo nas farmácias pelo preço do teste de antígenos: se não é rentável deixar-se-á de vender
O anúncio da ministra de Previdência Carolina Darias gera um grande desconcerto nas boticas de medicamentos, que vêem como o novo preço de venda está muito por embaixo do de aquisição
"O Governo baralha um preço de 2,5 euros, inclusive menos, para os teste de antígenos", assegurava o 12 de janeiro a ministra de Previdência Carolina Darias. Ao dia seguinte, nesta quinta-feira, a Comissão Interministerial de Preços dos Medicamentos, que depende do Ministério de Previdência, tem fixado um preço máximo de 2,94 euros para os teste de autodiagnóstico do Covid-19 que se vendem nas farmácias espanholas. Uma restrição que entrará em vigor a partir do sábado.
A decisão tem sido aplaudida por grande parte do sector sanitário, que vê necessária esta medida, ainda que consideram que chega "tarde" e que deveria se ter posto em marcha dantes do Natal. Depois de liberar-se sua venda faz já mais de seis meses, "não faz sentido que ainda tenha quem especule com isso", sustenta o presidente do Conselho Geral de Enfermaria (CGE), Florentino Pérez Listra. No entanto, nas farmácias não opinam o mesmo.
Adeus ao negócio do século
"A 2,94 euros não posso vender teste de antígenos. Se compro-os como até agora, não posso. Venderei dois para urgências", adverte a farmacêutica Mireia Galup, em cuja botica estas provas vendem-se a 6,95 euros. Na mesma linha, o presidente da Associação de Empresários Farmacêuticos de Madri (Adefarma), Cristóbal Pérez da Manzanara, expõe a Consumidor Global que a medida do Governo lhe parece "fatal" porque acaba de comprar 900 teste a 3,62 euros e a partir do sábado "vendê-los-ei baixo custo". Na farmácia barcelonesa da rua Pau Claris 111, Àngels explica que já não comprarão mais teste. "Onde os vamos comprar por menos de 2,94 euros?", pergunta-se.
Os que fizeram acopio e compraram milhares de teste "queriam sacar tajada e o conseguiram, de modo que agora má sorte", resume a farmacêutica María Luisa Rodrigo, quem explica que sabe de colegas que os compram a 3 e os vendem por 9 euros.
De ganhar muito a vender a perdas
"Ainda que o preço fixado implicará que a maioria das farmácias dispense neste momento os teste por embaixo do preço de aquisição, os farmacêuticos sempre temos posto por diante a saúde dos pacientes e o interesse sanitário em frente ao económico", tem manifestado o presidente do Conselho Geral de Colégios Oficiais de Farmacêuticos, Jesús Aguilar, uma opinião difícil de escutar numa farmácia.
"O estoque que tenho se vai a perdas e já veremos se o posso assumir", lamenta Galup. "Se vendem-no-los por 4,5 euros, sacá-los-emos por embaixo do preço de aquisição, e isso não me parece justo", aponta outra farmacêutica. Alguns deles enfatizam que o novo preço máximo dos teste de antígenos não lhes parece mau, "o problema é que temos estoque e que não sabemos se os laboratórios vender-no-los-ão por embaixo de 2,90 euros".
"Terá desabastecimiento"
Ainda que em algumas farmácias afirmam que muitos revendedores não têm teste de antígenos disponíveis, são maioria as que asseguram não ter problemas de estoque e que sempre há algum provedor que sim tem oferta.
No entanto, outros já antecipam um novo desabastecimiento similar ao que se viveu durante os dias prévios a Natal. "Terá desabastecimiento porque os provedores levar-se-ão os teste a outros países onde os possam vender mais caros", aponta o presidente de Adefarma. O único ponto no que coincidem todos os farmacêuticos é em que o Governo vai "tarde e mau" desde o início da pandemia. Durante o confinamiento "estivemos a dois vai-as. Depois, os teste chegaram tardísimo às farmácias. E agora tem tido que chegar uma sexta onda para que fixem o preço a última hora", lamenta Galup.
Por que só fixam o preço nas farmácias?
"Poremos um preço asequible, diziam, mas asequible para quem? Para as farmácias não é asumible. Terá que ver…", reflexiona Galup, que se mostra partidária de regular preços desde que se fixem pára todos: também nos laboratórios e nas clínicas.
O problema "é que a indústria farmacêutica está em mãos de três e os vendem caros", explica Rodrigo, quem acrescenta que neste momento o mayorista tem teste, "mas não entram novas marcas".
Que opinam os consumidores?
Depois de conhecer o enfado e desconcerto que impera entre os farmacêuticos, Consumidor Global tem perguntado aos consumidores que lhes parece o novo preço máximo dos teste de antígenos. "Se são tão necessários para controlar a pandemia, devem ser acessíveis quanto a preço e localização. Não se pode explodir o benefício quando há bicos de demanda ", aponta uma jovem.
O que se tenha fixado um preço mais baixo "facilita o acesso aos teste e controla o benefício das farmácias, mas o que seria um sucesso é que se vendessem nos supermercados e em outras lojas", opina uma cliente de avançada idade.
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