A revenda de ténis de edição limitada é um negócio em expansão que pode ser muito lucrativo se se conhecer o mundo, mas também tem uma elevada componente de sorte. Apenas alguns modelos oferecem retorno elevado e é dificil adquirir os mais cobiçados pelo preço de lançamento original.
Para identificar quais os ténis mais procurados existem diferentes plataformas que actuam como autênticas bolsas de valores, nas quais se equilibra a oferta e a procura e nas quais se fixa o preço de referência para compradores e vendedores. Para entender a magnitude dos benefícios que se podem obter, em 2020 as referências mais desejadas, neste mercado secundário, foram as Air Jordan 1 Retro High que a Nike lançou em colaboração com Dior. O preço médio de revenda atingiu os 8.960 euros, isto é, multiplicou por cinco o valor original do produto (1.697 euros).
Uma subcultura em ascenção
O desejo pelas sneakers está em pleno apogeo e um caso ilustrativo é o de Raúl Bérgamo. Como explica a Consumidor Global este engenheiro de som, de 33 anos, estabelecido em Madri, cultiva esta paixão há mais de uma década e calcula ter investido cerca de 12.000 euros em ténis nos últimos três ou quatro anos. A sua colecção inclui 30 pares de diversos modelos de Nike Air Max e de Air Jordan, entre outros. Uma das suas mais recentes aquisições foi umas Air Jordan 4 Retro x Off White, lançadas em julho, em colaboração com o aclamado desenhador norte-americano Virgil Abloh. O preço de venda original deste modelo foi de 225 euros, mas ele pagou 900 euros a um particular, que contactou através de Wallapop. E não foi a sua compra mais cara. Por outro modelo chegou a pagar 1.200 euros em revenda.
Mais um sinal de que a subcultura das sneakers vive uma época dourada é o aparecimento de lojas físicas que se dedicam, em exclusividade, a este negócio. Uma delas é a Plug Town, um estabelecimento de Barcelona, que abriu suas portas em novembro de 2019 e onde se podem comprar directamente modelos exclusivos. A proprietária do estabelecimento é Kira Tormo, mas, de facto, o responsável pelo negócio é seu filho Erik Parra, de 18 anos. Como explica o jovem, têm contactos no mundo para conseguir modelos exclusivos e, apesar de estarem a ter sucesso, também sofrem com as flutuações do mercado, com alguns modelos que baixam de valor e que devem vender acima dos preços de referência. "Somos um negócio e se os compramo caras temos que procurar a maneira de obter um benefício", assegura, com resignação, Erik.
Os sorteios
Para obter um par de ténis de edição limitada existem várias opções. Uma delas, a mais clássica, é fazer fila durante horas na porta da loja onde se lança o produto em questão. No entanto, existe outra via bem mais confortável, ainda que implica ter mais sorte. São os denominados raffles.
Trata-se de sorteios online em que as marcas anunciam antecipadamente o lançamento de um determinado modelo e onde os consumidores se inscrevem para, no caso de ser eleitos, comprar um par de ténis ao preço original.
O secretismo da Nike
As edições limitadas da Nike e da Adidas são as mais procuradas na revenda de ténis. Ambas possuem as suas próprias plataformas digitais (tanto para dispositivos móveis como para site) em que os consumidores se podem inscrever nos sorteios. O funcionamento de ambas difere um pouco, mas a esencia é a mesma, e ganhar um destes sorteios é muito difícil. O Consumidor Global entrou em contacto com a Nike em Espanha para saber quantas pessoas, em média, se inscrevem nos seus sorteios, mas a marca recusou fornecer essa informação.
Para além das applicações das empresas, também se pode participar em concursos através de plataformas de algumas lojas multimarca como a Sneakers and Stuff (SNS), que tem estabelecimentos físicos em Nova Iorque e Tóquio, entre outras cidades, a londrina END ou a espanhola SVD (Se Vais Descalzo), com locais em Madrid e Barcelona.
Quem fixa o preço?
No caso do consumidor ter ganho um sorteio e pretender obter lucro financeiro, em vez de ficar com os ténis, existem várias plataformas que funcionam como uma bolsa de valores para definir os preços de referência.
O líder deste setor é a empresa norte-americana StockX, que, em 2019, segundo dados próprios, representou 71% das operações de um mercado que movimentou mais de 5.000 milhões de euros. Nesta plataforma de negociação, como no Ibex 35 ou no Nasdaq, a oferta e a procura estão equilibradas e os preços estão definidos. Na verdade, para saber se é possível obter retornos elevados, para um novo modelo que será lançado em breve, é aconselhável verificar, neste site, a flutuação de seu valor.
Venda em mãos
Além da plataforma norte-americana, a outra opção mais popular para revender os ténis é publicitá-las em aplicativos como o Wallapop e realizar a transacção directamente com um particular. A principal vantagem que os revendedores encontram neste caso é a possibilidade de não pagar impostos por poder fechar o negócio em mãos.
Mas, como explica a este meio um especialista em fiscalidade e sócio director de Castelhana Consultores, Rafael Ruiz, a revenda de produtos deve ser tributada. Desta forma, depois de ter conseguido uns ténis a 225 euros e revendido a 900 euros, os 675 euros de lucro obtidos devem ser refletidos em resultados como mais-valias. "Até 6.000 euros de lucro tributa-se a 19%", detalha Ruiz. No entanto, caso alguém não declare esses benefícios e coloque o dinheiro directamente no banco, Ruiz garante que, esses valores, "não costumam fazer soar os alarmes" da Agência Tributária.