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Há vida para além de Carlos Rios: este creme de cacau sim é 'realfooding'

Natruly tem um untable de escareas mais são que o produto do influencer que custa 6,95 euros e se pode comprar em Carrefour

Núria Messeguer

carlos riete

No mês de outubro em Espanha tem estado marcado por dois temas do mais variopintos: um creme de cacau e um vulcão em erupção. Parece um chiste, mas não o é. Se pudesse-se medir que assuntos têm protagonizado os debates nacionais --já seja entre amigos, com a família, por WhatsApp , nas notícias ou em Twitter -- provavelmente estas discussões levar-se-iam a palma.

Vulcanólogos aparte, os espanhóis fizeram-se experientes em etiquetado alimentar e em como actuam os dátiles triturados num creme de cacau --que se comportam mais parecido ao açúcar que ao dátil--. O drama de Carlos Rios tem marcado um dantes e um depois, e agora debater se os cremes de cacau são sãs ou não parece um desporto nacional. Em todo o caso, há vida para além de Nutella, Nocilla e Carlos Rios, como é o caso de Natruly que, segundo os experientes, é mais sã que a do influencer, ainda que, isso sim, unicamente se recomenda seu consumo ocasional.

Após a tormenta

Pouco fica por dizer do debate que se gerou em torno do creme de Carlos Rios. Jornalistas de outros meios, telejornais, youtubers, profissionais e cidadãos pronunciaram-se por activa e passiva sobre esta questão que a equipa de Consumidor Global pôs sobre a mesa.

"O etiquetado não é mais que um episódio, o cisma se arma quando ele [Carlos Rios] alude o erro e ataca a profissionais da alimentação. Não é uma crítica ao etiquetado, há uma crítica ao discurso", assinala Aitor Sánchez num vídeo da caixa de Schrödinger. Beatriz Robles, tecnóloga dos alimentos e divulgadora científica, considera que esta polémica servirá para deixar claro que "mudar o açúcar de mesa por dátiles não significa açúcares 0". Robles foi a primeira em dar-se conta de que Rios a tinha "envolvido" no packaging do creme.

É melhor o creme de Natruly?

Na actualidade, há muitas alternativas healthy à Nocilla e a Nutella. A de Carlos Rios é uma, mas não a melhor. Natruly, outra empresa espanhola, tem em seu catálogo um creme a base de escareas --e não de castañas , como a do influencer-- que resulta muito gustosa no paladar e tem, ademais, um perfil nutricional muito "correcto", como assinala Mireia Cabrera, nutricionista na consulta Júlia Farré de Barcelona. A base de um 43 % de escareas, fibra de achicoria , gordura láctea, cacau desgranado e lecitina de girasol, o produto de Natruly não peca de doce e tem um consistente sabor a escarea. E, só tem 3,6 gramas de açúcar, em frente aos 16,7 gramas do creme de Carlos Rios.

"Nunca pensamos que chegaríamos a atingir estes valores, mas depois de dois anos de tentativas frustradas demos com a fórmula", explica Octavio Laguía, cofundador e director de marketing de Natruly. Cabrera considera que este creme de cacau "é uma boa alternativa aos cremes azucaradas tradicionais". Não obstante, como enfatizam tanto ela como Robles, segue sendo um produto de consumo ocasional. Assim mesmo, Cabrera incide que a mistura de Natruly destaca por conter "uma alta quantidade de fibra, um dado incomum neste tipo de alimentos".

A carambola da fibra de achicoria

O produto de Natruly utiliza a fibra de achicoria para endulzar a massa de escareas . Este ingrediente, longe de ser uma planta amazónica como sugere sua exótico nome, é uma erva que cresce em Espanha. Ao longo da história, as raízes deste matojo empregaram-se para muitos fins; na posguerra espanhola, por exemplo, era considerado um substituto do café.

Desde faz uns anos, a achicoria empregou-se como uma espécie de edulcorante que, ademais, também ajuda a criar textura e cremosidad aos alimentos. O cofundador e director geral de Natruly, Octavio Laguía, assinala que dar com este alimento "foi uma autêntica carambola" e que, sem a presença desta planta, o creme não tivesse sido possível. "Ao princípio empregamos açúcar de coco, mas não conseguíamos rebajar demasiado o nível de açúcar do creme e também não tinha consistência". Mas como uma simples erva pode endulzar um alimento? Segundo Robles, o segredo da achicoria arraiga em que as raízes destas contêm "açúcares simples" e por isso, quando se incorpora numa receita, emula o sabor doce.

O creme de cacau de Natruly / NATRULY

Um preço elevado

O creme de Natruly não é precisamente barata. Custa 6,95 euros o bote de 285 gramas, quase o duplo que a de Rios. Mas desde a empresa não o escondem, sina que se orgulham. "Quando lanças um produto no supermercado há três variáveis que se devem ter em conta: o sabor, se é saudável ou não e o preço. Nós escolhemos as duas primeiras", explica Laguía. Na actualidade, este untable, vende-se na página site de Natruly e também em algumas correntes de distribuição como Carrefour.

Outro aspecto que também infere no preço do produto de Natruly é a extensa quantidade de escareas que traz consigo o creme. "Pensa que a Nutella tem um 13 % de escareas e a nossa um 43 %", se escuda Laguía. "É quase a metade", acrescenta a nutricionista Cabrera. Esta grande quantidade de frutos secos também repercute nas calorías --500 kilocalorías pela cada 100 gramas-- e as gorduras --40,5 gramas pela cada 100 gramas--. Mas "são valores compreensíveis dados os ingredientes que a conformam", enfatiza Cabrera.

O comportamento "pretencioso" de Rios

"Nós nos reunimos com Rios em mais de uma ocasião e lhe explicamos como fazíamos nosso creme", explica Laguía a Consumidor Global. "Em toda esta polémica acho que Rios tem tido um comportamento um tanto pretencioso, ele sabe melhor que ninguém que há mais alternativas à Nutella no supermercado, mas o apresentou como se fosse sua revolução", assinala o porta-voz de Natruly sem nenhuma pizca de rancor ou enfado por plagiar "quase" seu produto. Para Laguía, isto não é uma competição. "Quantos mais sejamos na equação, melhor; o objectivo é tirar clientes à indústria dos ultraprocesados, dá igual se apanha-mos a mim. Mas deixemos de pendurar-nos medallitas", incide.

Desde Natruly sabem o que é brigar com a indústria dos ultraprocesados como empresa pequena, sem contar com uma multidão de fãs como os que respaldam a Rios. Um processo que melhorou com a chegada das redes sociais. "Na actualidade há mais vozes que calar, e isso não se paga com dinheiro". Ainda que o empreendedor destaca que o repto agora é detectar "as grandes corporações que se escondem dentro do selo orgânico, que são muitas".