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Existem macro quintas de porcos porque os consumidores só querem carne barata?
Espanha converteu-se no país europeu onde se consome mais carne, às vezes à custa do bem-estar da sua principal matéria-prima
A polémica com as macro quintas abriu, uma vez mais, o debate em Espanha sobre como tratam os porcos nalguns negócios, um dos animais mais consumidos pelos cidadãos. O ditadi que diz "do porco ao pé" pode-se aplicar no mercado espanhol. Para o consumo e até para operações médicas pioneiras –como o primeiro transplante com sucesso de um coração de porco para um humano–, este tipo de gado é explorado de múltiplas formas e nem sempre como deveria.
Segundo a Greenpeace, dos cerca de 910 milhões de animais destinados ao consumo humano a cada ano, 56 milhões são porcos. Da organização falam de um crescimento brutal nos últimos anos da produção de suínos. "Espanha foi o país que mais cresceu quanto ao censo deste tipo de animais entre 1996 e 2020, chegando a ser 22% do total", valorizam. Segundo dizem, Espanha não só cresceu neste sentido, mas também se converteu no país europeu onde mais carne de porco se consome, de forma muito excessiva.
Macro quintas para oferecer preços baixos ao consumidor
"Os porcos são explorados em fábricas em condições pouco desejáveis. Como a do grupo Fortes, que engloba a marca El Poço. Ali a superlotação e a sujidade são deprimentes", declara a Greenpeace. Ainda que a organização defenda a pecuária extensiva, afirma que em Espanha dão "má vida" aos porcos. "É uma autêntica indústria: o produto não importa, trata-se de produzir muito, rápido e barato. E ainda que digam que cumprem os padrões de bem-estar animal, isso não é o que vemos", denunciam.
Unai Beitia, co-proprietário da exploração familiar basca Itturbaltza, põe o foco na forma de consumo dos utilizadores. "Não só se explora o porco, mas sim os produtos que se podem produzir e vender baratos. A indústria produz barato porque é o que o consumidor está disposto a pagar", analisa, e precisa que, em 2022, os espanhóis não destinam nem 10% do seu orçamento à alimentação.
Em Espanha há 48.000 quintas pequenas
Segundo Beitia, a sua exploração produz lombos que vende por 24 euros o quilo e que no Carrefour ou Lidl se encontram por uma gama que oscila entre os 3 e 8 euros. "Não podemos produzir mais barato", lamenta. Do seu ponto de vista, o consumidor gosta do modo de produção das macro quintas, que só mudará quando "valorizar o que compra e em vez de um iPhone tenha uma frigorífico com produtos de qualidade".
Da União de Pequenos Agricultores e Ganadeiros (UPA), ainda que apostem em fechar as quintas que não cumpram os regulamentos, sustentam que "48.000 quintgas em Espanha são pequenas e umas 2.000 fazem parte da categoria maior (macro quintas)". "O tecido espanhol tem que estar baseado em pequenas e médias explorações familiares", afirman.
Do porco aproveita-se tudo, até na medicina
A exploração de porcos também chegou ao campo da medicina. Prova disso é a notícia do transplante de um coração de um porco modificado geneticamente a um homem de 57 anos nos Estados Unidos. Segundo Fabiola Leyton, professora colaboradora dos Estudos de Direito e Ciência Política da Universitat Oberta de Cataluña (UOC) e especialista em bioética, isto deve-se à forma como a sociedade considera o animal como "um objeto de consumo, como mero instrumento ao uso à medida dos seres humanos".
A especialista, que chama a atenção em torno do complicado processo no qual os porcos são envolvidos e ao número de animais que são prejudicados para que um transplante tenha sucesso, acusa o consumidor de considerar que "a vida de qualquer animal vale a pena se ele obtiver seus direitos satisfeitos" e que "já não importa nem a consciência do animal, que está totalmente à nossa disposição".
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