Quem disse descarbonización? A demanda mundial de carvão atingirá neste ano uma cifra recorde a mais de 8.500 milhões de toneladas, o que implica um incremento de 1,4% com respeito a 2022, segundo dados da Agência Internacional da Energia (AIE).
Mesmo assim, a instituição assinala as profundas divergências entre as economias e a expectativa de que o consumo diminua gradualmente até 2026, o que supõe a primeira previsão de quedas no uso desta fonte de energia para o horizonte de previsões.
O carvão em Europa e EE.UU.
Num relatório sobre o carvão publicado nesta sexta-feira, a AIE adverte de que o aumento global da demanda em 2023 "oculta marcadas diferenças entre regiões".
E é que o consumo vai caminho de cair bruscamente na maioria das economias avançadas, incluídas caídas recorde na União Européia e Estados Unidos, de ao redor de 20% a cada um.
A demanda aumenta em Índia e Chinesa
Por contra, a demanda de carvão nas economias emergentes e em desenvolvimento segue sendo muito forte, aumentando um 8% na Índia e um 5% em Chinesa em 2023 devido à crescente demanda de electricidade e a débil produção hidroeléctrica.
Assim mesmo, o documento destaca que a deslocação da demanda e a produção de carvão para Ásia "se está a acelerar", já que Chinesa, a Índia e o Sudeste Asiático representarão em 2023 três quartas partes do consumo mundial, em frente a só uma quarta parte em 1990.
As previsões
De tal modo, espera-se que o consumo no Sudeste Asiático supere neste ano, pela primeira vez, o dos Estados Unidos e o da União Européia. Assim mesmo, até 2026, Índia e o Sudeste Asiático são as únicas regiões onde o consumo de carvão está preparado para crescer significativamente.
Nas economias avançadas, por contra, a expansão das energias renováveis no meio de um débil crescimento da demanda de electricidade seguirá impulsionando a diminuição estrutural do consumo de carvão. Não obstante, para a AIE a demanda de carvão teria tocado teto neste ano e, após o máximo histórico atingido em 2023, confia em que o consumo de carvão diminua até 2026, a primeira vez que o relatório prediz uma queda no uso de carvão como fonte de energia.
Passado, presente e futuro
"Temos visto quedas na demanda mundial de carvão algumas vezes, mas foram breves e causadas por eventos extraordinários como o colapso da União Soviética ou a crise do Covid-19. Desta vez parece diferente, já que o declive é mais estrutural, impulsionado pela formidable e sustentada expansão das tecnologias de energia limpa", assegura Keisuke Sadamori, director de Segurança e Mercados Energéticos da AIE.
A agência espera que a demanda mundial de carvão caia um 2,3% para 2026 em comparação com os níveis de 2023, inclusive em ausência de políticas climáticas e de energia limpa mais sólidas, como consequência da importante expansão da capacidade de energia renovável que entrará em funcionamento nos próximos três anos.
O ponto de inflexão
Neste sentido, destaca que mais da metade desta expansão global da capacidade renovável produzir-se-á em Chinesa, que actualmente representa mais de 50% da demanda mundial de carvão, o que dará como resultado uma queda da demanda chinesa de carvão em 2024 e que se estabilize até 2026.
"A diminuição prevista da demanda mundial de carvão poderia marcar um ponto de inflexão histórico", aponta a AIE, ainda que os cálculos da agência antecipam que o consumo mundial manter-se-á acima dos 8.000 milhões de toneladas até 2026.
Reduzir as emissões
"Para reduzir as emissões a um ritmo coerente com os objectivos do Acordo de Paris, o uso constante de carvão teria que diminuir significativamente mais rápido", acrescenta.
Quanto à produção de carvão, o relatório aponta a que Chinesa, Índia e Indonésia -os três maiores produtores de carvão a nível mundial- rompam recordes de produção em 2023, impulsionando a produção mundial a um novo máximo em 2024. Estes três países representam na actualidade mais de 70% da produção mundial de carvão.