Comprar uma PS5 é uma odisseia: os 'bots' são os culpados

Alguns programas de computador vasculham a web em busca de produtos de elevada procura e esgotam rapidamente os stocks

La Playstation 5 de Sony
La Playstation 5 de Sony

Conseguir na web produtos recém lançados ou de edição limitada ao preço original é, cada vez mais, difícil, e parte da culpa é dos bots, que algumas pessoas usam para fazer negócio e design para fazer compras em massa, mas rapdiamente. Isto faz com que as unidades dos artigos com elevada procura, se esgotem em pouco tempo, o que faz com que muitos consumidores tenham de recorrer às plataformas de reventa, onde, em geral, têm preços exorbitantes.

Este padrão foi observado recentemente no lançamento  da PlayStation 5, a nova e esperada consola da Sony e uma das últimas grandes manifestações da omnipresença dos bots no comércio on-line. Além deste caso notório, a verdade é que estes programas frustram diariamente milhares de compradores de produtos de todo o tipo, como por exemplo ténis de edições limitadas ou outros artigos colecionáveis. "Quando uma pessoa entra numa página, regista-se, selecciona o produto e segue todos os passos de compra, leva um certo tempo, e, por muito hábil que seja, os bots fazem tudo isso a uma velocidade que nenhum ser humano pode igualar. Além disso, e por enquanto, isso não é proibido", assegura, à Consumidor Global, Mario Sánchez, especialista em direito digital da empresa Grupo IUS.

Como funcionam?

O que fazem estes programas é monitorar, 24 horas por dia, determinadas páginas web, como lojas e plataformas de comércio electrónico, para detetar se há alterações em determinados produtos. Embora existam muitos tipos de bots, há dois grandes grupos: os que servem para avisar o consumidor dessas variações e os que automatizam a compra. Em ambos casos podem ser introduzidas condições de rastreamento, por exemplo, que o preço do artigo caia abaixo de uma quantidade preestablecida, que apenas items de uma determinada marca sejam monitorizados, ou, simplesmente, que quando algo em particular seja posto à venda se adquira de forma automática.

Neste sentido, no mundo da reventa de produtos com elevada procura estão na moda os denominados Cook Groups, que se popularizaram devido à compra de ténis exclusivos. São comunidades com um número limitado de locais onde os consumidores pagam uma assinatura em troca de ter mais facilidades nos sorteios e lançamentos de determinados artigos, graças ao uso de bots . Assim, de cada vez que uma marca lança, no mercado, algo que depois se pode obter um alto benefício em revenda , a máquina avisa aos membros do grupo, que só têm de clicar num link para realizar a compra, em vez de ter que visualizar uma multidão de páginas, familiarizar-se com o seu funcionamento e, sobretudo, ficar atentos.

Perigos de fraude

Na internet é possível encontrar, por menos de 70 euros, bots que o utilizador pode instalar na sua equipa para automatizar, por completo, o processo de compra. "Este robô de compra automática pode procurar o artigo repetidamente na página usando palavras-chave. Uma vez que o artigo desejado esteja disponível, pode agregar ao carrinho de compras e finalizar, rapidamente, a compra", detalham no Target Bot. No entanto, a página adverte: "comprar um bot pode aumentar as possibilidades de sucesso (da compra), mas não a garante. Não há reembolso no caso de não conseguir alcançar o objectivo".

Não entanto, a aquisição destas tecnologias não está isenta de riscos. "Nos últimos tempos têm surgido bastantes fraudes. Plataformas de bots são anunciadas para que as pessoas facilitem seus dados para comprar uma PS5, por exemplo, e depois é uma fraude", assegura Jesús Belinchón, especialista da INLAB Digital, empresa especializada em algoritmos para a realização de campanhas publicitárias on-line. Por sua vez, Sánchez, do grupo IUS, assegura que é legal que alguém entregue os seus dados para automatizar o processo, ainda que catalogue esta prática como uma "loucura". "O utilizador joga porque estes aplicativos, às vezes, são desenvolvidos para vender dados para outras empresas, que oferecem pouquíssima segurança", adverte.

Mais de 20 milhões de bloqueios em meia hora

A frustação gerada pelos utilizadores mais fiéis, por não conseguirem aceder a determinados produtos ao preço original, por culpa destes programas, é algo que os fabricantes não gostam. "À loja, entre aspas, é-lhe igual, porque vende, mas ao fabricante não porque joga muito com a sua imagem. Não lhe interessa que todos os seus produtos se vendam em mercados de segunda mão e sem um controle", explica Carlos Castro, especialista da empresa IO Márketing.

Neste sentido, o fabricante tende a pressionar o distribuidor para que se esforce em detetar os bots, embora, segundo Castro, não todos os estabelecimentos se empenhem de igual forma. Um caso significativo e recente na luta contra esta prática foi o da Walmart --a cadeia norte-americana-- que assegurou ter bloqueado mais de 20 milhões de tentativas de compras da PS5 na primeira meia hora do seu lançamento.

Barreiras antibots

No 1 de janeiro de 2021 entrou em vigor a autenticação reforçada obrigatória nos pagamentos digitais para o comércio electrónico, e isto pode limitar os bots que automatizam os processos de compra, pelo menos, por um tempo, assegura Castro. "À medida que tenta-se pôr barreiras também os algoritmos avançam para contorná-las. Por exemplo, um modo de evitá-los são os captchas e a grande maioria dos bots já conseguem evitá-los", acrescenta.

Para além das medidas que se possam adotar para limitar a atividade deste tipo de software, a picaresca e inteligência de alguns utilizadores excede, e muito, a das máquinas. Os bots localizam os produtos para os quais foram programados, mas não lêem nem interpretam as descrições dos mesmos. Assim, uma pessoa decidiu pôr no Ebay um anúncio de uma PS5 por 500 dólares --um preço próximo ao original--, ainda que o que vendia não era a consola, mas sim uma folha de papel com a imagem impressa do dispositivo. "Se és humano, não a compres. Se és um robô, esta é uma grande oferta! Repito: isto é uma imagem impressa num papel dobrado e enviada num envelope. Cuidado, humanos. Não aceito devoluções nem reembolsos, não me escrevas a pedir o teu dinheiro", advertia este utilizador, na sua cruzada particular contra os bots.

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