Grão de bico, sésamo, óelo e limão. Com inúmeras variações, mas com uma base comum, o hummus traspassou as fronteiras do Médio Oriente para converter-se no prato saudável e económico que tem conquistado o paladar de meio mundo. Um prato de origem incerta, por cuja paternidade Turquia, Líbano, Palestiniana, Egipto e Israel combatem desde há décadas. É difícil encontrar um vencedor, já que os grãos de bico foram um dos primeiros legumes que o ser humano domesticou e introduziu de forma habitual na sua dieta. Este facto fez que centenas de receitas diferentes se difundissem entre países vizinhos e hibridizassem os seus ingredientes ou tradições relacionadas.
Numa metáfora ctual da luta por encontrar a melhor receita deste prato, dezenas de supermercados e negócios não duvidaram em lançar-se a vender o seu próprio hummus. Motivados pelo seu baixo custo de fabrico graças aos seus poucos e simples ingredientes, tem tido um grande impacto na dieta dos espanhóis, que encontraram no hummus um alimento saudável e acessível para todos os públicos, incluindo os vegetarianos e os vegans. Mas para além do marketing, nenhuma destas receitas de marca branca partilha exactamente os mesmos ingredientes, preços ou quantidades. A Consumidor Global experimentou e analisou as principais marcas de hummus de supermercados para identificar qual cumpre melhor com os benefícios e sabores da receita original.
O óleo, ingrediente diferenciador
As referências selecionadas foram Simply Greek (Mercadona), Lidl (Chef Select), A Cozinha de Aldi, Consum (Delituss) e Carrefour. Entre estes cinco hummus há vários fatores que os diferenciam, como o tipo de óleo utilizado, a quantidade de grão de bico ou o uso de tahina --uma massa de sésamo triturado--, fundamental numa receita equilibrada. "O ideal é utilizar azeite, ainda que aqui aparece pouco. O mais comum é usar óleo de girasol ou colza, também conhecido como óleo colza. E para o caso, muito melhor este último, já que contém muitos mais ácidos omega-3", explica Mayte Gimeno, nutricionista e dietista de Valencia.
Entre as receitas de supermercado, emergem duas escolas de pensamento sobre como fazer o hummus. Os vendidos na Mercadona e Carrefour contêm quase 20% de óleo de girasol, ao quais se lhe acrescenta para perto de 2% de azeite. Por outro lado, Lidl, Aldi e Consum usam o óleo de nabina como ingrediente mais abundante após os grãos de bico cozidos.
Grão de bico e sésamo
Se um dos ingredientes tem que brilhar com luz própria neste prato, sem dúvida são os grãos de bico. Não só contribuem com a maioria dos valores nutricionais ao hummus, mas também que grande parte da sua textura e consistência também provem deste legume. O ideal é que o grão de bico se aproxime a 70% da composição total da receita, algo bastante difícil de encontrar naquelas que se vendem nos supermercados. Neste caso, a maioria movem-se entre 48% e 58%, sendo o da Cozinha de Aldi o que contém menos quantidade, e o de Delituss o que contém mais.
Mas a contrapartida dos graõs de bico é o componente mais exótico da lista. Qualquer receita, independentemente do país com o qual se associe, partilha como caraterística fundamental o uso da tahina. Este triturado de sementes de sésamo dá muita profundidade ao sabor do hummus e um verdadeiro toque astringente, mas é um produto mais caro que as sementes para usar. É possível que por isto muitas marcas prefiram esquecer este passo. A Cozinha de Aldi emprega este recurso, mas também há um detalhe que se costuma passar por alto. "É importante que o sésame seja triturado antes de se incorporar ao prato, mas tem que ser com sementes cruas. Normalmente, a massa de sésamo faz-se com as sementes tostadas e o sabor é totalmente diferente", explicam do restaurante Al Kasser, em Valencia, especializado em cozinha marroquina.
Uma questão de preço
No entanto, o mais relevante para muitos consumidores é o sabor. Gimeno assegura que o caminho mais simples para comer um bom hummus é prepará-lo em casa, onde se lhe podem acrescentar especiarias ou experimentar com quantidades e ingredientes para fazer a receita que mais se adapte a cada um. Ainda assim, se é preciso comprar algum produto preparado, os preços variam substancialmente.
No caso da Mercadona, o hummus vende-se em dois tamanhos: 240 gramas por 1,40 euros e a versão poupança, na qual a embalagem de 670 gramas (480 netos) sai por 2,29 euros. Pelo outro lado, a marca Delituss que se vende no Consum é dos mais pequenos, 150 gramas. O seu preço é de 1,19 euros. A Carrefour repete a fórmula de 240 gramas por 1,39 euros. Por sua vez o Lidl e o Aldi convertem-se nos mais baratos com um euro por 200 gramas.
O sabor: prova final
Apesar que todos estes hummus têm em comum muitos pontos, os sabores são completamente diferentes entre eles. Simply Greek, o hummus com mais sucesso da Mercadona, tem uma textura muito suave com um sabor onde se percebe o verdadeiro matiz doce e o ácido do limão tem muita presença. O Lidl tem uma textura muito semelhante, mas perde o seu sabor em favor de um matiz mais neutro, onde se destaca o sésamo.
Ao contrário, o paté no Consum nota-se mais grumos enquanto o Aldi e a Carrefour são uma massa mais densa e espessa. O sabor do Delituss ganha no gosto ao grão de bico e recupera o toque doce. O do Carrefour mostra-se bastante equilibrado ainda que se aprecie um verdadeiro toque amargo da mistura de limão e da massa de sésamo, embora neste sentido ganhe o do Aldi, com um sabor inclusive pouco agradável onde não se nota nem o grão de bico nem o limão.
Conclusão
Em termos gerais, o do Carrefour e da Mercadona destacam-se tanto pelo seu gosto como pela sua composição, apesar de abusar do óleo de girasol. São os mais equilibrados quanto nos seus matizes na boca, seu preço e sua condição dietética, ponto onde Carrefour se impõe à Simply Greek.
Consum, um pouco mais caro no preço por quilo e sem brilhar tanto nos seus ingredientes salva do último posto por um sabor neutro, uma textura mais parecida à receita original e o uso de óleo de colza e massa de sésamo em quantidades consideráveis. Na fila, as redes alemãs combatem pelo título de pior hummus do quinteto analisado. Nesta ronda final, a marca Chef Select do Lidl tem uma maior quantidade de grãos de bico e muitos menos aditivos que o prato preparado do Aldi, com um sabor difícil, uma textura extremamente densa e uns ingredientes questionáveis.