É como ter um carro sem gasolina. Ou um telemóvel sem bateria. Não serve para nada. As influencers posam com ela. Muitos jovens herdam-na, a limpam-na e levam-na a passear porque é cool. Outros, utilizaram-na toda a vida. E claro, esta onda, esta moda, este aumento inesperado da procura de câmaras analógicas, que remonta a dois ou três anos atrás, "arrasou com os stocks mundiais de filmes a cor da Kodak", explica o técnico comercial da loja Casanova Foto, Marcel Villier. Uma escassez que se traduz, no melhor dos casos, num racionamiento de dois filmes por pessoa por mês.
"Escassez não, os stocks são nulos. Não temos filmes de cor nem são esperados. Há meses que não chegam. A Kodak fabrica três por mês, e são para a sua família. Ninguém o entende", lamenta-se o dono La Tienda de las Fotos, no bairro de Salamanca de Madrid . O problema agravou-se desde que a Fujifilm desistiu da foto analógica a cor por falta de interesse --representava 1% da sua facturação--, e a Kodak é o único sobrevivente.
Esgotados na FotoPrix
"Pedimo-los todas as semanas e há um mês e meio que não chegam. Há um problema sério com o revendedor", expõem do FotoPrix da rua Orense, em Madrid. "A fotografia analógica voltou a estar na moda, mas os filmes# estão esgotados", concordam da outra loja da mesma rede em Fuencarral .
No FotoPrix do El Retiro só ficam os Ilford HP5 Plus 400 de 35 fotografias, que são em branco e preto e custam 10,85 euros. "A maioria das pessoas prefere a cor, mas acabam a usar de branco e preto porque não há mais remédio", expõe a este meio o proprietário de Foto Carrete, uma loja on-line especializada em fotografia analógica, Juan Nieto, que explica que os formatos mais procurados, hoje e sempre, são os de 35 milímetros e 120 milímetros. Parece que as câmaras analógicas que querem capturar a cor de um pôr-do-sol não são para este Verão.
Racionamento de filmes
Por sorte, após pesquisar um bom momento na internet, a loja e laboratório fotográfico Visualkorner de Barcelona sim tem Kodak Colorplus 200 (6,95 euros), o filmes mais económico da multinacional norte-americana. O inconveniente chega ao ler um pouco mais abaixo: "Devido a problemas de stock de origem, só poderão se vender 2 filmes por pessoa".
O Kodak Gold está esgotado, e muitos outros filmes e vários artigos também, mas ainda lhes ficam Kodak UltraMax 400, um filme de cor do qual se podem adquirir um máximo de 10 unidades por pessoa, pedido e mês por falta de stock. "Sabem que este mercado tem data de caducidade, que passará de moda, e que não lhes daria tempo de amortizar uma fábrica nova", diz o responsável pela Visualkorner, Josep Calvo, sobre a produção da Kodak, que é insuficiente para satisfazer a procura dos consumidores. "Em janeiro, a Kodak subiu os seus produtos entre 20 e 40%. Ainda assim, há lojas que multiplicam o preço dos filmes para aproveitar da situação", acrescenta este perito.
Ao dobro do preço
O mesmo filme Kodak Colorplus 200 de 36 exposições vende-se na loja on-line Foto Carrete por 13,80 euros, ou seja, ao dobro do preço que noutros comércios. "Nós os conseguimos através de 30 pontos de venda a nível europeu, por isso temos stock, ainda que acabar-se-á", aponta Nieto, que assegura que lhe dá "vergonha" ter estes preços, mas "é o que há".
Nesta loja também têm filmes Kodak Gold (13,80 euros) e inclusive uma das últimas remessas que circulam da Fuji, o Fujicolor C200 (14,75 euros). "Somos pessimistas pese a bater recordes de vendas a cada mês desde há anos. Eu estou a congelar filme para uso privado", lamenta o proprietário da Foto Carrete, que vaticina que "a fotografia analógica morrerá de sucesso". Na Amazon sucede algo semelhante: vendem-se filmes Kodak ColorPlus e Kodak Gold em packs de três por ao redor de 50 euros, um preço exorbitante.
Lista de espera
No website da Fotocasión, outra das grandes lojas de fotografia em Espanha, ao entrar em qualquer dos artigos anteriormente citados, aparece um símbolo de perigo e um pequeno rótulo que confirma o falhanço da busca realizada: "Em lista de espera".
Face à escassez dos seus próprios armazéns, a "Kodak procura agora quem lhe fabrique seus filmes", aponta Villier. "Tu te podes comprar um carro antigo e o combustível segue sendo o mesmo. Mas, em matéria fotográfica, as empresas digitalizaram-se e as coroas de ancoragem estão no curva final de sua vida, pelo que será difícil que se possa solventar dita problemática", expõe a este meio o experiente em logística, Cristian Castillo.