Poucos minutos antes das onze da noite. A parte mais previsível do jantar de Natal chega ao fim, os comensais deram conta do menu e alguém levanta-se da mesa para trazer uns torrões, outro agarra o presunto, há quem aproveite para apanhar o comando da tv e mudar o programa que aborrece; e algum, que tem umas palavras preparadas (que são poucas, mas são sentidas), dirige-se ao frigorífico. Aguarda-se, por mais um ano, um clássico digestivo e borbulhante: a sidra El Gaitero. Há cinco anos, uma garrafa de 75 centilitros da sidra gasosa desta marca custava, aproximadamente, 1,50 euros. Não é uma estimativa baseada na memória: o Lidl publicou um tweet em 2017 no que dizia que, no seu folleto, o preço indicado desta bebida era de 1,49 euros. Ao publicá-lo, esse valor ficou congelado.
Mas hoje, a mesma garrafa vende-se nos supermercados por um preço próximo aos 2,35 euros, o que significa que aumentou 56% em cinco anos. Tal como reflete o INE, a inflação continua a atingir a alimentação, mas noutras bebidas a subida não foi tão forte.
Todas as sidras sobem pelo vidro e pela cortiça
A Consumidor Global perguntou pelas razões do aymento a um conhecedor do sector da sidra, que prefere não dar o nome. Esta fonte esclarece que não é consumidor habitual de sidras espumosas (como é o caso da bebida do El Gaitero objeto de análise), mas sim de naturais tradicionais asturianas, e que estas bebidas também aumetaram, mas algo menos. "Nas barras de sidra, que é a forma como eu consumo esta sidra, o preço final para o consumidor subiu, em quase todas as marcas comerciais, aproximadamente 0,50 euros por garrafa nestes dois últimos anos. Os preços rondam os 3,5 euros a sidra sem denominação de origem protegida (DOP) e 4 euros a sidra com denominação de origem protegida", diz.
Em qualquer caso, o aumento é um rumor que paira sobre o sector. No Verão passado, os meios de comunicação social asturianos relatavam que a inflação tinha forçado subir o preço da cidra a subir 30 céntimos o preço, entre outras razões, pelo notável aumento do vidro e da cortiça.
Aumentos de 50% nas de marca branca
Segundo reflete DataMarket, a sidra E Gaiterlo aumentou 26,72% no último ano. Mas não foi a única: a sidra biológica da marca galega Maeloc subiu 30%, e a garrafa de 25 centilitros da Ladrón de Manzanas dispara 40,22%. No entanto, o maior aumento chega em dois de marca branca: tanto a sidra asturiana El Mayu (da Mercadona ) como a sidra espumosa Dia Sidrello (Dia) sobem 51,25%.
Estes aumentos notáveis não se dão na cerveja: o pack de seis latas da cerveja Mahou Clássica aumentaram no último ano 10,23%; enquanto algumas da San Miguel desceram mesmo de preço. A Consumidor Global perguntou à El Gaitero para conhecer a razão do aumento, mas não obteve resposta.
Aumento contido na DOP
Luis Benito García é o director da Cátedra da Sidra de Astúrias da Universidade de Oviedo, que se ocupa unicamente das sidras DOP (a achampanada do El Gaitero não se enquadra neste guarda-chuva de qualidade). "No caso dos produtos acolhidos, posso informar que a subida de preços foi muito contida", diz.
Entre os motivos do aumento, menciona que "os custos de produção aumentaram a todos os níveis", conquanto no caso da sidra DOP, "a maior parte da produção é consumida na região, pelo que os custos de transporte são consideravelmente mais baixos. Além disso, na sidra natural no general, a garrafa é reutilizável (trata-se de uma indústria sustentável e sem pegada de carbono)", recalça. El Gaitero também tem uma sidra amparada com este selo, a natural espumosa Etiqueta Negra, que no Alcampo custa 4,30 euros.