O estratagema da aplicação Bling: "doe" 100 euros para sobreviver

A 'fintech' promete ajudar o utilizador a evitar os números vermelhos, mas os especialistas alertam do perigo desta solução

Um molho de notas / PEXELS
Um molho de notas / PEXELS

Chega o Natal e aumenta a despesa em comida, jantares e presentes. Nestas datas, a muitos consumidores passa-se-lhes pela cabeça pedir dinheiro para chegar ao fim de mês. No entanto, os empréstimos costumam ir acompanhados de juros altos. Por isso, algumas fintech, como a Bling, cativam o utilizadores com afirmações muito gulosas como 100 euros "grátis".

O seu objectivo é "ajudar as pessoas e evitar que fique no vermelho", segundo detalha o seu cofundador Benjamin Daudignac. "Só tem que descarregar a app, dar os dados bancários e, em poucos dias, o utilizador recebe na conta bancária um adiantamento de 100 euros máximo", explica. Recebe-os num prazo máximo de três dias, mas se se precisa do dinheiro mais rápido, "cobram-se então sete euros", reconhece à Consumidor Global.

Outra forma de se endividar

Para além desses sete euros, Daudignac afirma que "não há juros a pagar" e faz questão de diferenciar o serviço da Bling dos microcréditos. "Em Espanha são muito caros: adiantam-se-lhe ao consumidor 300 euros e acaba a pagar 400. Com a Bling é diferente, porque os adiantamentos são grátis e só se paga se se quer ter o dinheiro já. É opcional", manifesta. Mesmo assim, o cofundador da app admite que o seu serviço "sim individa" o consumidor. "Mas essa dívida é mínima", insiste.

"É outro tipo de dívida porque os custos são mais pequenos", analisa Elisabeth Ruith-Dotras, docente da Universitat Oberta de Cataluña (UOC). Segundo esta especialista, este tipo de aplicações são utilizadas recorrentemente por "pessoas que não planificam bem ou não têm recursos e precisam do dinheiro urgentemente, como millennials e pessoas da geração z". Apesar de que a Bling não peça juros pelo adiantamento, "quando há comissões, como neste caso, que cobra sete euros, a TAE é positiva", garante.

Página de inicio en internet de la app Bling / BLING.ES
Hmepage da app Bling / BLING.ES

Um perigo se não se têm recursos

Ruith-Dotras avisa de que o problema deste tipo de empresas é que são "um perigo" para as pessoas sem recursos ou com pouco planeamento. "Em lugar de pedir um pequeno diantamento e pagá-lo no mês seguinte, o consumidor deveria planificar e poupar todos os meses", sugere. É que, ainda que o serviço oferecido por esta app não seja igual a um microcrédito, "é muito provável que o utilizador acabe tendo que pedir empréstimos ao acumular as dívidas", diz a especialista.

Os utlizadores entram assim num círculo vicioso. "Se não têm recursos, o banco não lhes dará os empréstimos", expõe a professora da UOC. Nesse caso, "as alternativas são entidades como a Cofidis, nas quais pagam juros exorbitantes de 20, 30 e inclusive 50%", afirma. No entanto, Ruz-Dotras critica a falta de educação financeira em Espanha. "As pessoas só se preocupam se chega a fim de mês quando vêm que não chega", conclui.

Acesso à tua conta bancária

A ling não vive do altruismo e a app não dá os 100 euros a ninguém sem verificar antes a sua solvência. O consumidor deve "comprovar um documento de identidade e conectar-se com sua conta bancária" para que a plataforma possa "ler os três últimos meses de movimentos", expõe Daudignac. Esta prática, ainda que legal, pode resultar perigosa.

"A solicitação da conta bancária é necessária para comprovar que a conta é correta e avisar o utilizador sobre saques a descoberto e previsões de liquidez", afirma Sara García Carrascosa, delegada de proteção de dados da Legálitas . Ainda que seja legal, este dado resulta uma garantia para a Bling para, em caso de não devolução do empréstimo, incentivar o cliente para obter o dinheiro de volta.

Intercambio de dinero entre dos personas / PEXELS
Intercâmbio de dinheiro entre duas pessoas / PEXELS

Até três meses para devolver o dinheiro

Na hora de devolver o adiantamento, um algoritmo "calcula a data na qual o utilizador poderá devolver o custo, com base nos rendimentos dos últimos três meses", afirma Daudignac. "O utilizador pode devolver o adiantamento até 24 horas antes desse dia de forma gratuita, e escolher a data de reembolso desde que solicitada até 62 dias após a aceitação", especifica.

"Num máximo de três dias úteis, o utilizador recebe o dinheiro, e nós o recuperamos na próxima folha de pagamento ou renda regular", especifica o diretor. Por enquanto, assegura, emprestaram mais de um milhão de euros em Espanha.

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