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As pastilhas Trident '60 minutos de frescura' recebem a desaprovação de clientes e dentistas
A marca norte-americanos, propriedade do grupo Mondelêz International, utiliza esta afirmação para vender mais, mas os médicos lembram que mastigar uma pastilha aromatizada por tanto tempo não é bom
A primeira mordida é a melhor. É uma explosão do mais refrescante e agradável. O mau é que, como quase todo o que é bom, o sabor se desvanece demasiado rápido. E em poucos minutos, a deliciosa pastilha converte-se numa borracha de mascar sem graça e mole. Por isso, a Trident tem uma gama à qual chama '60 minutos de frescura'. Será que dura assim tanto ? Muitos clientes afirmam que a afirmação da marca é falsa, e os dentistas lembram que não é bom mastigar uma pastilha por mais de 20-30 minutos.
Uma das coisas que mais incomodam os consumidores na hora de mascar uma pastiçha --o único alimento que não se come-- é que perca o seu sabor em pouco tempo. As empresas fazem estudos de mercado, detectam esta insatisfação dos consumidores com respeito à durabilidade, "e lançam um produto no qual realçam, justamente, este aspecto", expõe a este meio a directora do mestrado em marketing e gestão comercial da Universidade CEU San Pablo, Arancha Mielgo. E claro, com a afirmação de 60 minutos de frescura, "o consumidor entende que o sabor inicial durará uma hora", acrescenta a especialista. Ainda que, na realidade, não seja verdadeiro.
Os Trident 60 minutos não duram o que prometem
A gama '60 minutos de frescura' da Trident conta com os sabores menta, hortelã e morango. Mas encontrar um consumidor que garanta tal durabilidade é uma missão impossível. "O sabor não dura uma hora", comenta Virginia na Amazon. "De qualidade-preço são excelentes, mas decepcionaram-me quanto à durabilidade. O sabor não aguenta 60 minutos", critica outro no marketplace norte-americano.
O sabor a hortelã "dura uns 20 ou 30 minutos e depois já não sabem a nada", comenta Rosana. "Não dura 60 minutos. Aos 10 min ficam chatos", alerta outra internauta. "É verdade que o sabor dura bastante. De facto, são dos que mais duram, mas não se aproximam dos 60 minutos que diz a marca", aponta Lulú. Por isso, muitos consumidores concordam e afirmam que a frescura não dura o que anuncia a Trident. "Dou-lhes 4 estrelas porque não me parece bem que ponham que duram uma hora... e nada que ver", critica outro.
Uma prova parcial
Como cobre as costas a Trident ao fazer uma afirmação tão concreta? Quem pode garantir que a frescura dura o que prometem? A empresa norte-americana baseia a sua publicidade num painel próprio levado a cabo em 2015 por Especialistas Sensoriais da Mondelêz Internacional, grupo ao que pertence a Trident, segundo se detalha no dorso do pacote. Como é lógico, "há um interesse da marca por trás destes estudos, cujos resultados é difícil que sejam negativos se são pagos pela própria empresa", aponta a especialista em publicidade Lorena Martí.
É importante ter em conta que as pastilhas se regem pela mesma legislação que têm os alimentos. Neste caso, por limitarem tanto o tempo, limitam-o a 60 minutos, "se não se cumprisse poder-se-ia alegar que incumprem o artigo número 7 do Regulamento 1169/2011 do Parlamento Europeu, no qual se especifica que a informação alimentar deve leal e não deve levar ao engano ao consumidor", expõe a nutricionista especializada em segurança alimentar, Beatriz Robles.
Destacar ou morrer
"A marca joga com esse insight --sensação ou crença profunda do consumidor-- porque ninguém vai reclamar que a frescura ou o sabor de uma pastilha não dura 60 minutos", aponta Martí, que explica que no setor das pastilhas é difícil se destacar e que as marcas agarram-se "ao que for" com forma de se diferenciar e vender mais.
Aos fabricantes "preocupa-lhes a crença popular de que as pastilhas são más para a saúde, mas o que teria que fazer a Trident, tal como recomendam médicos e odontólogos, é promover umas pastilhas cujo sabor dure 20 minutos", resume Mielgo.
Os riscos de mastigar uma pastilha mais do que o necessário
Os dentistas concordam na hora de alertar sobre os riscos que comporta mastigar pastilha em excesso. "Mais de 30 minutos a mastigar ma pastilha não seria adequado, e três pastilhas por dia é a quantidade máxima recomendada", detalha Bruno Baracco, vogal da Junta de Governo do Colégio de Dentistas e Estomatologistas de Madrid (COEM). "Recomenda-se não mastigar pastilha durante mais de 15 minutos seguidos", apontam daClínica Dental Doctores Navarro.
Segundo os dentistas, um consumo excessivo não é bom para os músculos da mastigação, pode acentuar o bruxismo e manter a hipertrofia em pacientes com problemas articulares, produz um desgaste dental por causa dos ácidos que se segregam ou pelo atrito excessivo, e pode gerar problemas de gases. Por isso, incitar os consumidores a mastigar uma pastilha durante 60 minutos também não é o mais saudável.
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