0 comentários
O 'casting' para encontrar andar: contratos indefinidos, nóminas altas e mais meses de fiança
Com a demanda disparada e os alugueres mais caros que nunca, a escassa oferta leva aos proprietários a controlar e eleger aos candidatos que melhor lhes encaixam
Encontrar andar face ao novo curso converteu-se numa odisea para muitos estudantes e empregados. O crescimento da demanda pelo fim das classes on-line e do teletrabalho ao 100% choca de cheio com a queda da oferta de moradias em aluguer, um 45% menos que em 2021, segundo o portal imobiliário Idealista. A situação actual deixa claro que não há andares para todos. Esse palco de frustración por parte os que procuram moradia, somado à preocupação de proprietários pelo futuro de seus inmuebles, tem levado aos caseiros a ser mais selectivos e fazer castings para seleccionar ao melhor inquilino.
A pandemia supôs um parêntese no mercado do aluguer, já que reduziu-se o movimento entre cidades e a queda da demanda trouxe consigo um respiro nos preços. "A situação agora está muito pior que dantes do Covid pela mudança de hábitos de aluguer activo, a concentração da demanda e a pouca oferta", expõe a Consumidor Global José María Alfaro, coordenador geral da Federação de Associações Imobiliárias.
'Castings' ao melhor inquilino
Alfaro explica que, ante o temor de ter problemas pelo incumprimento dos contratos de arrendamento, os proprietários costumam fazer entrevistas selectivas para escolher ao inquilino que mais segurança lhe transmite. Uma das práticas mais habituais é a de exigir um maior número de meses de fiança. "O máximo legal é pedir três meses a modo de fiança, mas há proprietários que pedem mais, seguramente porque desconhecem a lei", assinala.
Em opinião deste profissional do sector, "que se peça mais dinheiro de fiança não garante que depois não vá ter impagos, mas é um primeiro filtro que utilizam para se proteger". Alfaro conta que também é habitual perguntar pela vida trabalhista do possível inquilino, o tipo de contrato que tem, e até em que empresa trabalha, além de solicitar nóminas recentes que garantam solvencia e estabilidade ou que as despesas do aluguer não superem o 30% da renda. "Tratamos de aplicar um filtro por questões objectivas, ainda que é verdade que em muitos casos não seja do todo justo", acrescenta.
Avais e solvencia
Juan García começa em menos de um mês seus estudos de mestrado em Palma (Mallorca) e ainda não tem moradia. "Os preços têm subido muito, ademais cobram-se aparte outras despesas que dantes estavam incluídos no aluguer, como a comunidade", explica. Em sua busca de andares na cidade balear, García assegura que uma das principais barreiras com a que se encontra é a negativa de alugar a estudantes por não garantir solvencia. "A mim me jogaram para atrás em vários andares por temas de avais e nóminas, é desesperante", assinala. Cabe remarcar que no caso concreto de Palma, a oferta de andares de aluguer tem caído um 78%, a cifra mais alta, segundo dados de Idealista.
Outro caso é o de Luz María Sánchez. Esta estudante de Biologia Marinha na Universidade de Girona acaba de mudar de moradia para este novo curso. "Em todos os andares que visitamos nos pediam ao menos dois meses de fiança, num inclusive pediam três", conta a jovem. "A oferta é muito baixa e por andares de bastante antiguidade pediam-te uns 1.000 euros", assinala. Se for o caso, a jovem tem tido que facilitar a seu caseiro as duas últimas nóminas de seus pais a modo de aval .
Seguros de aluguer
Um dos detalhes que assinala José María Alfaro, da Federação de Associações Imobiliárias, é o da segurança jurídica. "Os proprietários sabem que se há algum problema judicial com os inquilinos, não vão poder recuperar as chaves de sua casa num prazo médio de oito meses, por isso querem se assegurar e pedem tantas condições".
Para este tipo de casos, também existem os seguros de protecção de aluguer que, em opinião de Alfaro, "estão muito bem, mas ao final o que faz é aumentar custos que repercutem na renda ou se solicitam ao inquilino". Em qualquer caso, este profissional assegura que um seguro para o aluguer não é a melhor solução. "Assegura-te que cobras os impagos, mas não em que prazo nem em que condições se recupera a casa", sublinha.
Futuro incerto
Os profissionais do sector apontam que o problema dos alugueres se encontra em vilo e à espera dos efeitos que gere o aplicativo da nova lei de moradia, com a que se pretende limitar os preços. "É um projecto que sabemos que tem a quase todo o sector na contramão, aos proprietários também, pois achamos que não se lhes tem tido em conta", opina María Matos, directora de Estudos e Porta-voz de Fotocasa .
Por sua vez, o porta-voz de Idealista, Francisco Iñareta, assegura a Consumidor Global que o futuro do aluguer em andares compartilhados "passará inevitavelmente pela evolução do estoque deste produto, e toda a medida que não esteja focada a aflorar mais oferta só conseguirá que subam os preços e que seja mais difícil encontrar uma habitação em aluguer".
Desbloquear para comentar