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Por que a máquina de lavar roupa dos nossos avôs durava toda a vida e a nossa apenas uns anos

Muitos fabricantes encurtam intencionalmente a vida útil de seus produtos, mas o desejo dos consumidores de estarem atualizados também está influenciando a mudança.

Mónica Timón

lavadora

Há algumas gerações, ter o mesmo frigorífico ou televisor durante muitos anos era algo muito comum. Além disso, se se estragava, a reparação era simples e económica. Mas, hoje, é possível que muitos utilizadores tenham experimentado em algum momento, sem lhes dar mau uso e sem motivo aparente, alguns aparelhos que deixaram de funcionar.

Na veradde está demonstrado que, hoje, os dispositivos são programados para ter uma vida útil limitada. Passado esse tempo, uma pequena peça pode romper-se e deixar o aparelho inutilizado, não se permite uma atualização do último software e inclusive consertar uma falha sai mais caro que comprar um aparelho novo. A esta prática conhece-se-lhe como obsolescência programada. Trata-se de uma redução intencional da vida útil de um produto para fomentar a compra de outro novo, o que gera um impacto económico no bolso dos consumidores e enormes quantidades de resíduos, bem como grandes benefícios para os fabricantes.

Uma data de morte fixada na fase de design

Poucas empresas livram-se desta prática. Na verdade, em 2020 a Apple foi acusada de reduzir os seus dispositivos e baterias para promover a compra dos últimos modelos e foi multada em 25 milhões de euros. "O fabricante já calcula o final da vida útil de um produto na sua fase de design", explica à Consumidor Global Alicia García-Franco, diretora da Federação Espanhola de Recuperação e Reciclaje. Isto é, fixar a duração de um dispositivo e electrodoméstico ou a sua data de morte é um passo mais do processo de fabrico.

O que ocorre é que, para aumentar as vendas, os fabricantes limitam a vida dos seus produtos para fomentar o consumo por parte do consumidor. No entanto, a mudança de um dispositivo que ainda funciona por outro novo também nasce de um impulso caprichoso dos próprios consumidores. A isso se lhe chama obsolescência percebida. "É o desejo de ter o último e a perceção de que o modelo que temos está obsoleto, ainda que funcione perfeitamente, algo motivado pela constante publicidade", enfatiza Benito Muros, presidente da Fundação Feniss, dedicada a eliminar a obsolescência programada.

Impacto económico e ambiental

A Fundação Feniss calculou que, ao longo da sua vida, um utilizador gasta entre 50.000 euros e 60.000 euros na compra de aparelhos electrónicos. "Uns 10 ou 12 móveis, impressoras, computadores, televisores, um ou dois veículos, etc", sublinha Muros. Por tanto, gastar-se-ia menos 90% se estes dispositivos fossem mais duradouros, segundo este especialista.

Além disso, o impacto ambiental é "brutal". Não só pelos milhões de toneladas de matérias primas necessárias para consumir ao ritmo actual, mas também pelas toneladas de lixo e de resíduos que gera a população. "A natureza não tem tempo para regenerar todo o consumido e os resíduos são tantos que são enciados para outros países porque aqui já não há espaço", critica Muros.

A reparação como primeira opção

Para combater esta criticada obsolescência, Espanha conta com uma Estratégia de Economia Circular que visa aumentar a vida útil dos dispositivos. Este plano apoia-se num desenho ecológico dos aparelhos para garantir a sua durabilidade ao longo do tempo. Isto, por sua vez, deve permitir que sejam mais fáceis de consertar e reciclar e que incorporem a maior quantidade possível de material reutilizado.

Mas a responsabilidade da cada consumdior é também uma arma muito poderosa para mudar tudo isto. Para isso, os especialistas recomendam não comprar por impulso e consultar antes os custos de uma reparação quando se esgota a garantia. A reparação deveria ser a primeira opção antes de eliminar ou dar por morto um aparelho.