Embora a sua origem remonte a mais de 2000 anos, de vez em quando, o kombucha volta a ganhar protagonismo e a converter-se no centro da atenção. Recentemente, muitas figuras públicas foram fotografadas com esta bebida –ou que a promoveram diretamente --, como a cantora Lady Gaga ou a atriz Gwyneth Paltrow. Este termo desconhecido para alguns consumidores faz referência à fermentação natural do chá verde e açúcar realizada por uma colónia de bactérias e leveduras que se chama Scoby.
Ao conter bactérias vivas, trata-se de uma bebida probiótica que, por isso, ajuda a promover o tracto gastrointestinal saudável. Também lhe são atribuidas propriedades antioxidantes, antiinflamatorias e de melhoria da imunidade. E este é o gancho usado pelas marcas que o fabricam para vender o chá kombucha como uma bebida saudável e inclusive milagrosa, que todos deveríamos beber. Mas, há evidência científicas de que isto seja verdadeiro ou é um golpe publicitário? As especialistas consultadas pelo Consumidor Global lembram que os alimentos milagrosos não existem e insistem nos riscos do consumir kombucha caseiro.
Estudos 'in vitro'
A fama do kombucha é tal que tem inclusive um Dia Mundial próprio, celebrado a 21 de fevereiro. Com esta publicidade que o rodeia e a boa publicidade que as marcas lhe conferem, é fácil de acreditar, de olhos fechados, no que contam sobre este produto. No entanto, os estudos sobre os seus benefícios só foram realizados in vitro, ou seja, em testes de laboratório, até o momento, destacando vantagens como prevenir a oxidação celular e melhora a digestão. "Seria interessante se todas estas propriedades se evidenciassem em estudos clínicos com pessoas e assim se soubesse o verdadeiro impacto que tem na saúde humana ou no tratamento de certas patologias", explica ao Consumidor Global María Carmen Japaz, especialista em nutrição e dietética no centro Amadag e membro de Top Doctors.
Até hoje, não há evidência científica dos benefícios do kombucha. "Além dos oferececidos por alguns dos seus ingredientes mque se podem encontrar também noutros alimentos", concorda a nutricionista María do Mar Silva. Apesar disso, este chá vende-se como um remédio natural para uma grande variedade de problemas digestivos, inclusive como "a injeção de vitaminas e energia que teu corpo precisa", segundo a marca Flax & Kale, e conhecida antigamente como a medicina de Deus. Além disso, as marcas vendem-no a um preço bastante elevado, quando comparado com outros chás. Komvida Kombucha vende o litro da sua bebida por 3,72 euros, Flax & Kale vende 400 mililitros por 2,99 euros, um litro de Captain Kombucha custa 3,89 euros e por 700 mililitros da bebida de Kombutxa o utilizador tem que pagar 8,67 euros.
Uma fama merecida?
O kombucha parece seguir a linha dos chamados superalimentos, produtos aos quais se atribuem qualidades muito saudáveis, como as bagas de Goyi, as sementes de chía ou a espirulina. A verdade é que estes produtos são saudáveis, mas não deve cair no erro de pensar que pode suprir as necessidades nutricionais só com apenas alguns ou que seu consumo pode neutralizar uma má dieta. "Não sou partidária de idolatrar um alimento. O destaque deve pôr-se no quão benéfica é uma dieta como um todo e não em considerar as propriedades excecionais de uns quantos alimentos isolados", afirma Japaz.
No caso do kombucha, a mencionada associação com certas celebridades, influentes para muitos consumidores, é uma das razões da sua fama e de que sesteja na moda. "Estas pessoas são prescriptoras e fiamos-nos de que se elas o tomam é porque é bom. No entanto, o seu público não tem filtro, não se dirigem só a pessoas saudáveis, e para aquelas com certas condições de saúde o seu consumo não é recomendável", conta Silva. "Acho que a popularidade deste tipo de alimentos deve-se ao crescente conhecimento que temos da microbiota intestinal humana e como a sua alteração se relaciona com muitas patologias", acrescenta Japaz. No entanto, este efeito probiótico do chá kombucha, uma das suas principais reivindicações, é encontrado noutros outros produtos mais habituais, como o iogurte, o kéfir ou o pão de massa mãe. "São todos alimentos fermentados que nos fornecem microoganismos benéficos para a flora intestinal", afirma esta especialista.
Cuidado com as versões caseiras
Além da opção de comprar esta bebida já pronta para beber, há quem prefira fabricar o seu próprio chá kombucha em casa. Na internet pode-se encontrar facilmente a colónia de bactérias Scoby, necessária para a fabricação, e inúmeros de vídeos tutoriais para obter esta bebida. Assim, por 24,95 euros pode-se comprar 350 gramas de Scoby na Amazon. Porém, "se não se faz em condições determinadas de saúde e sabendo o que se está a fazer, o chá kombucha pode produzir problemas de segurança alimentar", adverte Silva.
A elaboração desta bebida começa com um chá muito açucarado, com entre 10% e 15% de açúcares --que se reabsorvem durante a fermentação e os restantes 2% residuais-- ao quais é adicionao o fungo Scoby. "Como resultado desta fermentação é produzido álcool. Num litro de chá kombucha terá entre 3,5 gramas de álcool", alerta Japaz. Como consequência, sforam descritos efeitos adversos como reações alérgicas ou dor de cabeça. Além disso, seu consumo, tanto artesanal como comercial, está contraindicado para pessoas com o sistema imunológico debilitado ou com problemas de microbiota e digestivos. Também não é recomendável a grávidas e em mulheres durante o período de lactação. Nesse sentido, ambos os especialistas insistem na importância de personalizar todas as recomendações nutricionais de acordo com as necessidades, ao momento biológico e à sensibilidade da cada pessoa.