A falsa alegação dos iogurtes com bífidus: fazem o mesmo e custam o dobro

As marcas outorgam propriedades quase milagrosas a alguns produtos, mas um alimento é insuficiente para melhorar uma dieta pouco saudável e carente de nutrientes

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A digestão pesada ou a obstipação são problemas que afetam a toda a população, com maior ou menor frequência. Para solucioná-lo é frequente mudar a dieta ou introduzir novos alimentos, sobretudo os que favorecem o trânsito instestinal pelo seu elevado conteúdo em fibra, como frutas e verduras. Assim, existem no mercado produtos que, com palavras singelas, prometem metas difíceis de conseguir: corrigir o trânsito intestinal em matéria de dias só com a toma de um iogurte ou determinadas bolachas .

No entanto, não existem alimentos milagrosos e a melhora do sistema digestivo não depende de um único produto. "Um único alimento nunca será tão potento a ponto de solucionar uma dieta não saudável, pois é uma questão de um estilo de vida e hábitos", assegura à Consumidor Global Domingo Carreira, médico especialista em nutrição no Centro Médico-Quirúrgico de Doenças Digestivas. Segundo o especialista, a publicidade "magnifica do efeito de certos produtos", como os iogurtes Activia da Danone, que se vendem a um preço duas vezes superior aos iogurtes naturais, alegando que activam o trânsito e a flora intestinal. "A verdade é que os iogurtes já de sim têm fermento e, por isso, funcionam como um probiótico", lembra Carreira.

Um preço até quatro vezes superior

Os anúncios sobre o bífidus e suas propriedades para melhorar o trânsito intestinal são bem conhecidos. Personagens como Shakira, José Coroado ou Carmen Machi têm anunciado os seus benefícios com frases como "sorrir a partir de dentro" ou "barrigas felizes". E o mesmo ocorre com as bolachas Digestive que prometem uma melhora intestinal. Mas, ainda que as marcas se empenhem em fazer chegar aos consumidores estas mensagens, "este tipo de iogurtes ou bolachas não traz um benefício extra para o intestino ou a saúde digestiva ou diferente de outros produtos naturais", insiste Victoria Martínez, dietista-nutricionista e responsável por Projectos do Colégio Oficial de Dietistas-Nutricionistas da Comunitat Valenciana.

Nalguns casos, de facto, chegam a estar carregados de açúcares, edulcorantes ou almidones que os fazem prejudiciais para a saúde, explica a especialista. Além disso, o seu preço também costuma ser mais elevado. O quilo de iogurte Activia custa 3,80 euros, enquanto um quilo de iogurte natural da Danone vende-se por 2,18 euros. Isto é, o preço é muito superior no primeiro caso pelas suas supostas propriedades digestivas. E, na área das marcas brancas, a diferença é mais significativa. Pode-se adquirir um quilo de iogurte natural por menos de um euro, pelo que a diferença é quase quatro vezes superior. "O efeito digestivo será o mesmo, mas optar um iogurte natural sairá bem mais barato", insiste Martínez.

O 'boom' dos alimentos funcionais

Os iogurtes já possuem, naturalmente, propriedades positivas para a digestão. A única diferença é que os Activia da Danone têm bifidobacterias, às quais a marca atribui um benefício ainda maior. "Poder-se-ia pensar que, se aumentaram a quantidade de bactérias, têm maior poder ou capacidade como probióticos", acrescenta Carreira. No entanto, não há evidência científica de que seja assim. De facto, "a Agência Européia de Segurança Alimentar (EFSA) estudou e estabeleceu que essas bactérias não têm um efeito positivo especial", explica Martínez.

"Atualmente há um boom dos chamados alimentos funcionais, isto é, aqueles aos que se adiciona um nutriente que melhora um determinado aspecto da saúde. O benefício nalguns não é real, ainda que noutros pode ter vantagens", conta Carreira. Por exemplo, aqueles que adicionam fibra extra "poderiam ser bons para o aparelho digestivo", como sucede com as bolachas Digestive. No entanto, em geral, as bolachas industriais costumam incluir outros elementos prejudiciais, como gorduras vegetais ou açúcares, de forma que, no conjunto, "não traz um benefício maior". Se compararmos os ingredientes, "podem ter mais farinha de trigo integral do que outras bolachas, mas se não reduzirem os açúcares ou os azeites vegetais, não são mais saudáveis", concorda Martínez.

Conselhos para melhorar o trânsito instestinal

Então, qual é a forma mais saudável e natural de adiconar fibra à alimentação? Os especialistas em nutrição coincidem nos pontos chave. É recomendável comer matérias primas que contribuam com nutrientes de qualidade, como fruta, verdura, ovos e iogurte --do tipo que seja--. Também é essencial hidratar-se, seja com água, caldos ou infusões, bem como fazer desporto e gerir o stress para que os intestinos trabalhem.

Por sua vez, Carreira concorda com as medidas mencionadas e acrescenta outros conselhos. Recomenda comer a peça de fruta inteira em lugar de espremê-la ou incluir verduras frescas verdes, como acelgas, alcachofas ou espargos, na dieta. "São as que mais fibra contêm", assegura. Reduzir as gorduras de origem animal e incorporar mais legumes, frutos secos e sementes também é uma maneira de nos sentirmos melhor por dentro. "Nunca insisto com os pacientes, no entanto, que consumam um produto em concreto, mas sim transmito-lhes a ideia geral de introduzir mais fibra. O principal é deixar claro que os maus hábitos não se compensam com um único tipo de produto", conclui Martínez.

 

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