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A guerra da batata: França já não é o único rival de Espanha

Ver nos supermercados produtos nacionais todo o ano nem sempre é possível, já que fornecedores de outros países entram no mercado com preços mais baixos

Núria Messeguer

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Em Espanha há cerca de 2.000 variedades de batata registadas. No entanto, nos lineares dos supermercados durante os meses de inverno é difícil encontrar alguma made in Spain . Pelo contrário, o consumidor encontrará um amplo sortido francês."A batata francesa é mais bonita, branca e sem terra", destaca Alberto Duque, membro da Coordinadora de Organizaciones de Agricultores y Ganaderos (COAG).

No entanto, o tubérculo gálio ficou relegado para segundo plano depois que a Autoridade Européia de Segurança Alimentar proibiu um dos gases que os fornecedores franceses utilizavam para prolongar a sua conservação. Além disso, o consumidor espanhol está a cada vez mais consciente da qualidade dos alimentos e procura nos supermercados dos produtos autóctonos. Mas, apesar disso, em Espanha tem surgido novos competidores, como os países do Norte de África e Israel.

Problemas com a batata francesa

O plantio  da batata, no geral, começa em Espanha no início da primavera. Depois, entre agosto e setembro recolhe-se e põe-se à venda. No entanto, durante uns meses do ano os supermercados recorrem à batata importada de França para suprir a escassez da espanhola.

"Os franceses são os reis da batata de conservação", afirma Eduardo Arroyo, agricultor e presidente da Associação de Produtores de Batata de Castilla e León. Esta referência faz menção ao tubérculo que se recolhe durante a sua temporada, mas que se aguenta ou mantém --de forma artificial-- durante nove meses a baixa temperatura. "A França pelo tipo de terra e clima que tem consegue conservar melhor as batatas. Em Espanha, no entanto, oxidam-se mais", afirma Duque. No entanto, este método de conservação tem sido questionado. Em 2020 a Autoridade Européia de Segurança Alimentar (EFSA) proibiu em todos os estados da União Europeia o uso de clorprofame (CIPC), um dos componentes que se utilizam para manter o tubérculo em conservação durante vários meses. A decisão baseou-se em diversos estudos que assinalavam que este gás era perjudicial tanto para a saúde humana, como para o meio ambiente. Por isso, este ano a importação da batata francesa de conservação caiu em Espanha 6,7% face à campanha anterior, segundo dados da Federação Espanhola de Associações de produtores exportadores de frutas, hortaliças, flores e plantas vivas (Fepex).

Agricultores espanhóis assumem a liderança

"Os supermercados não tiveram escolha a não ser mudar de fornecedores e começar a prestar atenção aos nacionais", sublinha a este meio Arroyo. Neste sentido, a Mercadona foi uma das redes de alimentação que optou pela mudança, impulsionando a revalorização da batata nova espanhola. "Que um dos grandes te faça caso e muda tudo, já que depois os outros supermercados segui-lo-ão", insiste Arroyo. Assim, no passado ano a Mercadona comprou mais de 92.000 toneladas de batatas de origem espanhola, 7% mais que noutras campanhas.

Por outro lado, em Espanha começaram-se a impulsionar outros métodos de plantio e a produção já não está localizada só no centro e o norte do país. "Agora também se cultiva na Andaluzia e Múrcia. Devido ao clima são umas batatas mais precoses e podem suprir a escassez dos meses de inverno", explica Duque da COAG. Assim, ainda que o mercado espanhol continue a precisar da batata francesa para oferecer este produto ao utilizador todo o ano, "são muito poucos meses, de novembro a fevereiro, e isto vai diminuir a cada", comenta Duque.

Um campo de batatas / PIXABAY

A entrada de uma nova concorrência

No entanto, a batata espanhola conta com novos competidores, para além da versão francesa. Trata-se dos países  do Norte de África e Israel. "Tirámos os franceses e agora temos os africanos", brinca Duque.

Tanto a batata espanhola como a africana são variedades novas, isto é, frescas, que não passam por nenhum processo químico. Na opinião de Duque, se a versão espanhola se diferencia da francesa pela qualidade, dos africanos distingue-se pela astreabilidade. "Eles têm uns preços de mercado mais baixos porque as condições laborais dos seus trabalhadores são mais precárias, utilizam pesticidas proibidos em Europa e, além disso, não passam por tantos controlos fitossanitários", queixa-se este agricultor. Desta forma, e segundo Duque, a única forma de competir com esta batata é que o consumidor "entenda por que tem que pagar um pouco mais e assim não fomente estas práticas".

Questão de preços

O preço da batata nova espanhola no supermercado oscila entre os 0,90 euros e 1,40 euros o quilo. Atualmente o produtor espanhol recebe 35 céntimos por quilo de batata vendida, uma quantidade "boa", segundo apontam alguns profissionais do setor, já que se chegou a pagar a 6 céntimos o quilo. "Uma vergonha", sublinha Duque.

No entanto, a batata nova africana e israelita tem um preço médio de 1,20 euros o quilo, um custo inferior. Neste sentido, Arroyo assinala que "agora o consumidor olha para o tipo de batata que compra, se é nova ou de conservação, mas não tanto na procedência do produto". Por isso, este produtor considera que, às vezes, o utilizador acaba a comprar batata africana sem o saber. Por isso, os agricultores recomendam prestar mais atenção aos rótulos. "Por mais 20 ou 30 céntimos, o consumidor pode adquirir um produto mais ético e de origem espanhola", conclui Duque.