Nem almendra tostada, nem mel, nem clara de ovo. Para além da forma retangular, nem sequer tem aspecto de turrón. Mas, sim terá ginebra de marca-a Porto de Índias e fresas, não? O da garrafa de ginebra no frontal do novo turrón da marca 1880 "é um puro reclamo que causa estupor", expõe o professor de nutrição da Universidade San Jorge de Zaragoza Juan Revenga, quem assegura que em Espanha há turrones mais honestos --a base de açúcar, almendra e ponto--, que sim são turrón.
No entanto, este mau chamado Turrón de gin com fresas, que se vende nas lojas próprias de 1880 e no Corte Inglês, se fez viral em TikTok e em Twitter, onde centenas de jovens asseguram que "o precisam", que "o querem" e que se morrem por "o provar". Consumidor Global, fazendo de tripas coração, provou-o e tem perguntado a vários nutricionistas cuán perigoso é.
Não sabe a nada do que dizem que tem
Elaborado pela empresa Almendra e Mel S.A. em colaboração com a destilería Porto de Índias, nada mais abrí-lo, o Turrón de gin e fresas de 1880 desprende um cheiro que é de todo menos natural. Ao hincarle o dente, o sabor a ginebra Porto de Índias é impossível de intuir. Nem um leve regusto. E o sabor às fresas que invadem o frontal do produto? Nem sinal. Não sabe a nada do que dizem que tem.
Os ingredientes reclamo, os que chamam a atenção do consumidor por ser disruptivos, a ginebra (5%) e as fresas, ambos, "estão numa proporção muito pequena", aponta a tecnóloga dos alimentos Beatriz Robles. De facto, o gin é o sexto ingrediente em proporção, e as fresas não aparecem até o sétimo lugar. Ademais, nas fresas liofilizadas, "o primeiro ingrediente é jarabe de glucosa; o segundo, açúcar; e a própria fresa, o terceiro", adverte Robles sobre o tratamento que tem recebido a escasísima fruta que leva o produto. Então, que estamos a comer quando comemos este doce da marca 1880?
É difícil encontrar um produto pior
O sabor deste Turrón de gin e fresas pode fazer que algum consumidor se lembre de um dos doces mais icónicos da bollería industrial espanhola: a Pantera Rosa. Mas só é porque compartilham colorantes, emulgentes, azeites vegetais "e uma quantidade descomunal de açúcar", aponta Revenga. Mais especificamente, um 42 % do produto é açúcar, o ingrediente principal.
O inovador doce de 1880 contém, basicamente, açúcar e gorduras --44 gramas pela cada 100: das quais saturadas 29 gramas--. A diferença de outros turrones nos que as gorduras procedem da almendra, neste turrón provem/provêm da manteca de cacau e da mantequilla concentrada clarificada, o segundo e o terceiro ingrediente em ordem de importância. Por conseguinte, a nível nutricional "estamos na ombreira dos piores produtos que podemos encontrar no supermercado. O turrón de 1880 tem chegado ao topo", resume Robles. "Quanto menos, melhor", coincide Revenga sobre esta bomba de açúcar.
Turrón a preço de ginebra
Quem decida apostar por esta delicatesen, pode-a encontrar em alguns centros do Corte Inglês --ainda não tem chegado a todos-- por 11,95 euros. Em mudança, nas lojas que tem repartidas por Espanha a própria marca 1880 custa 9,95 euros.
"12 perus a tableta. Quase 40 o quilo. Estás tu que ma compro, dantes me compro a garrafa de Porto de Índias", comenta Larissa em Twitter. Ao mesmo tempo, outros internautas ainda não terminam de se achar que exista um turrón de ginebra de fresa. "Se isso é verdade, há que o provar, e, se não o é, pois a garrafa", explica Luzia na mesma rede social. "Já poderiam o fazer de rum", sugere um internauta. "Eu prefiro o turrón de Lacasitos ", opina Ana. Para gustos, as cores.
Quantos graus de álcool tem?
Por último, mas não por isso menos importante, cabe recordar que o facto de que a marca não declare que este turrón tem álcool "é normal porque só se exige nas bebidas a mais de 1'2 graus de álcool", aponta Robles. No entanto, que não se declare não quer dizer que não se deva ter em conta.
Para poder chamar a uma bebida 'ginebra', esta deve ter 37,5 graus de álcool, e o turrón tem um 5 % de gin de fresa e um peso total de 300 gramas, pelo que "o produto tem duas gramas de álcool", calcula a experiente em divulgação alimentar. Uma proporção que provavelmente não suponha nenhum problema para a imensa maioria de consumidores, mas "as mulheres grávidas e as pessoas com problemas de metabolización do álcool devem o ter em conta", sentença Robles.