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Sal gourmet: pagar muito mais pelo mesmo de sempre
Sais de elevada qualidade são vendidos como recurso gastronómico com propriedades benéficas, muitos delas sem demonstrar
Os alimentos conhecidos como gourmet são aqueles aos quais, ou pela sua procedência ou pela sua preparação, se lhes atribui uma qualidade superior. Há vinhos, carnes e inclusive massas que levam este rótulo como afirmação. Mas às vezes essa excelência é difícil de justificar. No caso do sal, a sua composição --íones de cloro e de sódio-- pouco pode mudar de uma variedade para outra.
O factor gourmet destes cristais pode ser atribuido à sua origem, ao processo de secagem ou aos aditivos que possam trazer. Muitas destes sais apresentam-se com pequenas percentagens de especiarias ou ervas aromáticas que acompanham os grãos, que normalmente são maiores e arrendondados que os que se encontram no supermercado. Também há alguns que destacam por ter uma cor característica ou sabor, como o conhecido sal rosa do Himalaya ou o negra kala namak.
O fator preço
Um sal gourmet diferencia-se de outro, sobretudo, no preço. Um quilo de sal comum custa entre 80 céntimos e dois euros na maioria das cadeias alimentares. Ao contrário, algumas versões de luxo podem custar entre 20 e 80 euros o quilo, ainda que se costumam vender em embalagens de 25, 75 e 100 gramas. "A maior diferença que vais encontrar entre um sal normal e o sal rosa do Himalaya é o preço", afirma Fernando Carrasco, nutricionista na clínica Nutrygent de Sevilha.
As marcas que comercializam sais de gama faixa justificam este aumento no preço pelos processos manuais de secagem e recolha realizados à mão, bem como ao facto de vender um "sal puro, sem impurezas nem microplásticos". Mas Carrasco dúvida que a qualidade nutricional destes cristais seja diferente, já que a União Europeia é muito rígida com o controle dos alimentos para permitir a comercialização deste condimento com elementos estranhos. "As impurezas podem ser vestígios de outros minerais, mas em nenhum caso acho que são negativos", esclarece o nutricionista andaluz.
Diferenças mínimas
Então, quais são as principais diferenças entre um punhado de sal comprado no supermercado e outro gourmet? "A composição química é a mesma em ambos casos mas diferenciam-se na presença de aditivos que algumas marcas comerciais levam e o processo de fabricação, onde o sal de qualidade se desidrata ao sol e a sua limpeza se faz de forma manual e artesanal", detalha à Consumidor Global fontes da empresa Salina Espanhola.
No entanto, o único aditivo presente no sal comum é o E-536, para evitar que se compacta dentro do pacote. Além disso, a quantidade retirada é tão pequena que em nenhum caso poderia representar um problema para a saúde. E no processo de recolha, o trabalho manual garante um cristal mais bonito ou grande, mas isso não lhe outorga propriedades especiais.
Sabor e propriedades nutricionais
Para além dos preços e a aparência, o grande gancho comercial dos sais mais caros tem que ver com as suas supostas contribuições nutricionais. "O nosso sal é menos amargo que o convencional e contém todos os minerais necessários para o bom funcionamento do corpo", defende a este meio Miguel Corral, responsável por e-commerce da companhia Saia Gourmet, em Alicante.
Corral onsistem em que o sabor é mais potente e com mais matizes que o do sal quotidiano. Esta afirmação, na verdade, é um dos recursos que mais usam as marcas para vender este tipo de sais. "Uma vez acostumada, já não voltas ao sal de toda a vida", assinala Corral. No entanto, o nutricionista da Universidade de Cantabria, Ramón de Cangas, é muito claro que os sais gourmet não têm nada extra que oferecer para a saúde face ao sal mais típico: "A base é sempre a mesma:, cloro e sódio. Este moderno cloreto de sódio pode dar um pouco de sabor a mais ou uma cor mais interessante na cozinha, mas não contribue com nada de novo no plano nutricional". E sobre os minerais incluidos no sal gourmet na sua composição, este doutor insiste que a sua presença é tão reduzida que teria que tomar uma quantidade absurda de sal para notar os seus efeitos. "Uma maçã ou uma pêra oferecem mais minerais e vitaminas que várias colhetes de sopa destes sais." conclui.
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