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As reservas sobem em Madrid à medida que os preços dos menus sobem: quanto se gasta em comida

O aumento de preços não tem sido um obstáculo intransponível para os restaurantes da capital, onde a maioria dos almoços e jantares já foram reservados para as próximas semanas.

Juan Manuel Del Olmo

Uma mesa num restaurante em Madrid onde o preço do menu está a subir / UNSPLASH

Com o Natal àao virar da esquina, é altura de perguntar no trabalho quem vai jogar na loteria neste ano, de planear as férias e de seleccionar o melhor restaurante para celebrar o jantar de Natal. Apesar de que a inflação também assola o setor da restauração, em Madrid as reservas adiantaram-se face a outros anos.

Juan José Blardony, director geral da associação empresarial Hotelaria da Comunidade de Madrid, explica à Consumidor Global que ainda não têm cifras concretas sobre os possíveis aumentos de preço, mas reconhece que, nos últimos meses, os restaurantes reviram as suas tarifas com aumentos à volta de 5%, simultaneamente que a inflação ultrapassava os 10%. Assim, segundo Blardony, o sector repercutia aproximadamente metade do que teve que enfrentar. Agora, celebra, "a inflação moderou um pouco". Apesar do aumento de preços que suportam os restauradores, não se repercutiu tudo. "E o cliente percebe que a subida nos restaurantes não é exagerada", acrescenta. Não só o percebe, como o valoriza.

Um em cada três euros vai para a hotelaria

O que sim disparou foi o número de reservas . "As reservas estão a funcionar estupendamente. Já estamos entre 80% e 90% por almoços e jantares de Natal. Estamos gratamente surpreendidos pelas vontades dos consumidores de vir aos restaurantes", conta Blardony. Este dado tão positivo deve-se, segundo o director geral da entidade, a que há mais previsão, mas também a que a carteira de poupança dos consumidores que se criou durante a pandemia ainda não se esgotou de todo, e à recuperação do turismo. Além disso, trata-se de turistas com muito poder de compra.

Por outro lado, Blardony defende que, em Madrid, a hotelaria trascende o campo gastronómico e funciona como lazer e como interâmbio de experiências. "Pensemos que aproximadamente um em cada três euros da renda disponível dos cidadãos madrilenos vai para a hotelaria", conta Blardony, com um ponto de orgulho mal disimulado na voz.

Um chef prepara uns pratos / UNSPLASH

Ligeiras subidas em Txistu e Lakasa

Txistu faz parte da constelação de restaurantes icónicos de Madrid. Localizado no bairro de Tetuán, tem quase meio século de experiência. Deste restaurante admitem que aplicaram ligeiras subidas, tal como se pode verificar no seu site. A partir de dezembro, contam, é quando eles percebem a subida que lhes aplicam os seus fornecedores, e, portanto, é então quando aumentam os seus pratos. Assim, os comensuais que se apressarem encontrarão, até 7 de Dezembro, três menus disponíveis, por 60, 68 e 79 euros respectivamente, em função dos pratos e do emparelhamento que escolham. A estas três opções há que somar 10% de IVA. A partir do dia 7 de dezembro, os ditos menus passarão a custar 65, 74 e 82 euros, isto é, cinco euros mais cada um.

Também sobem na Lakasa , uma reputada casa de comidas madrilena onde se mima o produto de época. Aqui, o menu de grupo para o Natal custa 75 euros por pessoa, um aumento "muito pequeno" face ao ano anterior, "talvez de dois euros", conta Marinha Launay do estabelecimento. Para compensá-lo, acrescentaram algumas coisas, como acompanhamentos mais especiais ou café. Sim subiram de forma mais notória os menus ao domicílio para as datas chave de 24 e o 31 de dezembro. "São 79 euros por pessoa, mais quatro euros", precisam. Tal como explica Launay, com esta proposta os comensuais levam a caixa para casa com tudo praticamente pronto e uns vídeos para arrematar as receitas. Só faz falta dar um último toque e empratar. "Porque às mães, ou ou quem quer que tenha de cozinhar nesses dias, também lhes apetece sentar", brinca Launay. Além disso, acrescenta que da Lakasa tentam "não baixar a qualidade" e subir "o mínimo" para que tenha um equilibro entre o cuidado ao cliente e a rentabilidade do negócio.

Várias mesas de um restaurante / UNSPLASH

60 euros por pessoa

Launay também aponta que as reservas "adiantaram-se". Na Lakasa "já há umas duas semanas que as pessoas começaram a ligar para reservar". Corrobora a tendência Spathios, uma ferramenta tecnológica dedicada tanto ao planejamento e gestão de eventos como à reserva e exploração de espaços imobiliários em Madrid, Barcelona e Londres. Pol Hevia, cofundador e CEO da empresa, defendeu que "as pessoas e departamentos das empresas encarregados de planificar e organizar as celebrações de Natal sofrem um grande stress e nervosismo", o que se traduz num aumento do tempo com o qual reservam os espaços.

De facto, segundo as suas estimativas, 70% dos espaços para os jantares de Natal reserva-se com seis meses de antecipação. A plataforma já registou, a estas alturas de ano, umas 300 reservas para celebrações de Natal, "o que representa 200% mais que a estas alturas do ano anterior", aponta a empresa. Por outro lado, segundo os números de Spathios, os almoços ou jantares destas datas custam às empresas, em média, 60 euros por trabalhador.

Um grupo de amigos durante um jantar / PEXELS

Mesas maiores

Diurno é um dos restaurantes da moda da capital espanhola. Segundo as avaliações do TripAdvisor, cerca de 5% dos melhores restaurantes de Madrid. Raúl Gómez-Carmona, sócio do grupo Mercado de la Reina (que aglutina, além disso, o Museo Chicote, o Gin Club e La Parrilla de la Reina), explica que, conquanto é consciente de que a inflação afectou muitíssimo os restaurantes de toda Espanha, eles mal tocaram no preço do seu menu. Mais especificamente, só subiram um euro. "Não é porque sejamos melhores nem piores, é porque somos sensíveis ao nosso cliente, sabemos que é um momento muito delicado também para ele e não o queremos penalizar", explica.

Também as reservas da Diurno vão como um tiro. "Neste ano estamos já em 85%, por dois motivos. Em primeiro lugar, porque os almoços e jantares adiantaram-se muito, com esse pensamento de 'por se talvez'. E, em segundo lugar, porque antes tinha limitações na mesa, e neste ano já não. As pessoas tinham vontade de poder reservar uma mesa grande, para todos, de umas 18 ou 20 pessoas. Ao precisar de espaços maiores, os clientes ligam antes para assegurar-se", raciocina Gómez-Carmona.