Por que é mais caro o café em grão que o moído no supermercado?

As grandes diferenças de preço entre as duas variedades são difíceis de justificar sem afetar a qualidade do produto

Reportaje Café vf
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Andando pelos corredores do supermercado é possível que alguém se pergunte por que o café em grão, da mesma marca e da mesma variedade, é mais caro que a versão moída. À primeira vista, poder-se-ia pensar que tanto pelo peso total como pelos processos mecânicos que sofre, o quilo de café triturado deveria de ter um custo semelhante e inclusive superior que ao do grão inteiro.

Sobre esta diferença de custo, a empresa Jacobs Douwe Egberts, encarregada da distribuição de um bom número de marcas de café para grandes superfícies, como Marcilla ou Saimaza, explica que o preço final de venda é ficado pelos supermercados. "Desta forma podem fazer ofertas ou fazer planos de venda", detalha à Consumidor Global. No entanto, as principais associações de supermercados espanholas preferem não se pronunciar a respeito quando se lhes pergunta por isto mesmo.

Diferenças de até 79%

Como se pode comprovar na tabela abaixo, em todos os casos há uma diferença notável entre o preço do quilo de café em grão ou moído. Por outras palavras, os consumidores que compram o café em grão das marcas mais conhecidas pagam mais, pese a que depois tenham de o triturar, que quem o adquire directamente moído. O caso com maior divergência de preços é o do café Bonka trópico natural sustentável da Nestlé comercializado no Corte Inglês (79% entre ambas as versões), enquanto o mais semelhante é o café A Estrela natural torrado da Alcampo (2,8%).

A mesma qualidade?

Arnau Cunill, project manager da startup Incapto Coffee, aponta a qualidade como o elemento nuclear na hora de determinar essas diferenças. "O preço mede-se pela qualidade do café, não pelos processos que sofre até chegar ao mercado", assinala o empreendedor.

"O grão de café pode arrastar impurezas ou contar com certas imperfeições devido à recolha ou torra. Os grãos que acabam não sendo uniformes ou que são de pior qualidade, trituram-se e vendem-se como moído, de fotma que esse pode ser o motivo desta diferença de preços", acrescenta.

Perda de sabor e aroma

Muito na linha de Cunill está Karen Quiroga, barista e especialista do Grupo Dromedario, empresa dedicada à importação e torra de café em Espanha. "Percebo que ao comprar café em grão se pode perceber com maior facilidade se está quebrado ou tem algum defeito", diz.

Segundo esta especialista, o café oxida-se em contato com o ar e, uma vez batido, triturado ou perder a casca, este processo químico ocorre duas vezes mais rápido, o que se traduz numa perda de aroma e sabor. Por isso, aqueles grãos mais pequenos ou que sofreram algum problema durante na cadeia produtiva, estariam mais susceptíveis à moagem.

O tamanho sim importa

Por sua vez, desde Cafés Mateu destacam que o tamanho do grão também pode ser um motivo para resolver o mistério: "Nós vendemos o café ao mesmo preço, seja em grão ou moído. O que entendo que pode acontecer é que são diferentes números de peneira, que é como reconhecemos o tamanho dos grãos. O grão que se vende costuma ser de uma peneira 18, maior e arrendondado, enquanto o 16, mais pequeno e menos vistoso, poder-se-ia usar para moer", asseguram fontes da empresa.

Mesmo assim, o tamanho não afetaria à qualidade do produto e tratar-se-ia mais bem de uma questão estética. "Se esta diferença implicasse uma mudança no seu sabor ou na sua qualidade, seria facilmente reconhecível nos controlos de qualidade e inclusive pelo consumidor habitual", acrescentam dos Cafés Mateu.

Uma questão de volume?

Montserrat Prieto, secretária geral da Associação Espanhola do Café, assegura que os processos de produção e controlos de qualidade são totalmente rigorosos. "O café deve contar com uma série de caraterísticas muito concretas para comercializar-se, pelo que os cafés que se vendem nas grandes superfícies têm uma qualidade homogênea e procura-se que seja assim. Nenhuma empresa arriscaria o seu prestígio para poupar uns euros", esclarece.

Segundo o protocolo padrão, o café é degustado pela primeira vez quando se importa como fruto ainda verde e depois se volta a provar uma vez torrado. "De qualquer forma, não se correlacionaria o preço com a qualidade do produto em si, embora pudesse ser mais pelo volume total do que pelo peso”, finaliza Prieto.

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