Ao introduzir um código postal de Santa Cruz de Tenerife, o 38008, por exemplo, num comércio on-line que opere em Espanha, o mais provável é que o e-commerce de turno não realize nem ofereça o envio de pacotes ao arquipélago das Canárias. Algo similar acontece ao escrever Las Palmas, e já não digamos La Palma, no motor de busca de lojas de duas dos supermercados mais importantes de Espanha, que não estão nas Canárias. Algo que não sucede com Mercadona, Spar, Lidl, Carrefour, até certo ponto Alcampo, e Aldi, que acaba de desembarcar.
"Não há resultados para La Palmas", é a mensagem que aparece no motor de pesquisa de lojas da Eroski, a quinta rede de supermercados em Espanha, com uma quota de mercado do 4,5 % e mais de 1.000 estabelecimentos, mas nenhum nas Canárias. Ao escrever Tenerife na secção Procura a tua loja do website do Dia , os únicos pontos vermelhos que aparecem sobre o mapa do arquipélago não são os do logo do quarto maior grupo de distribuição em nosso país, mas sim os dos hospitais.
Dia e Eroski "colidem" nas Canárias
Em 2020, depois de quase 10 anos nas Canárias, Eroski fechou o seu hipermercado de 11.300 metros quadrados no El Mirador (Las Palmas) e abandonou o arquipélago dentro do seu plano de desinvestimento. "Não tiveram em conta as exclusividades desta zona ultraperiférica e cairam", expõe a este meio o responsável pela Associação Espanhola de Revendedores Autoservicios e Supermercados (Asedas) nas Canárias, Alonso Fernández.
Por seu lado, o Dia, que em 2020 tinha oito estabelecimentos em cinco municípios das ilhas, já não está presente. "Não temos nenhuma loja nas Canárias", confirmam desde o serviço de atendimento ao cliente do Grupo Dia. "Estiveram em duas ocasiões, mas não se adaptaram à mecânica económica e promotora das ilhas e lhes foi muito mau", aponta Fernández sobre a rede de distribuição, que opera a nível internacional e é presidida por Stephan DuCharme.
Por que passam das ilhas?
"O território no qual Eroski quer actuar nos próximos anos já está definido: é o que denominamos de Zona Norte", expõem à Consumidor Global da rede basca ao lhes perguntar por um hipotético regresso às Canárias. Por conseguinte, sa ua zona prioritária limita-se ao País Basco, Catalunha, Baleares, Galiza e outras comunidades do norte, ainda que "nunca descartamos crescer no resto do território nacional". Ao tentar falar com o Grupo Dia sobre se tem intenções de regressar às Canárias, a empresa optou por guardar silêncio. Do mesmo modo, Consum, outra das grandes a nível nacional, está focalizada na zona de Levante e não tem presença nas ilhas.
Dada a sua localização, para ter presença no arquipélago é necessário estabelecer uma planta logística que facilite a distribuição. O que requer um importante investimento. Além disso, os trâmites aduaneiros representam um custo extra. Mas se falamos de volumes como os do sector alimentação, "não acho que os cusos extra logísticos, incluído o transporte, nem o tema da fiscalidade, sejam o motivo principal da ausência de redes tão importantes", aponta o especialista em logística e professor de Economia da Universidade Oberta de Cataluña (UOC), Cristian Castillo, que assegura que, pese a que ainda há potencial para investir ali, "a introdução de novas marcas parte com o hándicap de que já há companhias muito assentadas que repartem o mercado".
As líderes do arquipélago
Em 2020, abriram no arquipélago 12 novos supermercados. No ano seguinte, o número de aberturas foi ainda maior: 14. Ao todo, as ilhas dispõem de 1.070 estabelecimentos de alimentação, ou seja, por cada 1.000 habitantes têm 296 metros quadrados de súpers, um número muito similar à média da península --304 metros quadrados--, segundo dados da Alimarket correspondentes a 2021.
Hiperdino (27,9 % da superfície), rede pertencente a Dinosol, Mercadona (20,4 %) e Spar (16,4 %) partilham a maior parte do bolo e contam com centenas de estabelecimentos. A presença do Carrefour, com 19 lojas, é menor. E a de Alcampo , por exemplo, é quase testimonial: "agora mesmo contamos com três hipermercados e não temos previsto de abrir nenhum mais", aponta a responsável por comunicação da rede do Grupo Auchan. "Se as companhias querem, ainda têm margem para investir, e o Aldi é o melhor exemplo disso", aponta Castillo.
Aldi sim aposta por Canárias
A rede alemã acaba de inaugurar a sua primeira plataforma logística nas ilhas, que fornecerá os súpers que a rede prevê abrir nos próximos meses. "As Canárias desempenham um papel estratégico no plano de expansão da companhia", asseguram fontes do Aldi à Consumidor Global. "Queremos abrir mais 10 estabelecimentos em 2022 e mais 20 nos próximos três anos", acrescentam. Por sua vez, Castillo explica que tanto Aldi como Lidl continuam com destacamentos muito poderosos de penetração em Espanha, e isso inclui às zonas mais periféricas.
Os planos do Lidl para o arqupélago contemplam um investimento de mais de 100 milhões de euros nos próximos dois anos, destinado a somar 11 novos estabelecimentos aos 32 que já tem. Ao mesmo tempo, "a nossa previsão é abrir um novo súper em Lanzarote . Em todas as ilhas temos 85 supermercados Mercadona", apontam da corrente de Valência. "Chegou o momento de investirem nas Ilhas Canárias", diz Castillo.