O objectivo das empresas do sector da alimentação vegana, como não pode ser de outro modo, é evangelizar e conseguir que mais consumidores se subam à carroça verde e proteico. Segundo o relatório The Green Revolution da consultora Lantern, um 44 % dos omnívoros (isto é, dos consumidores não veganos) tenta reduzir seu consumo de carne, o que resulta alentador para as marcas. "Existe um runrún, e aqui há um potencial", afirma Jaime Martín, CEO da consultora.
De facto, na apresentação do relatório, o experiente assegurou que em Espanha existe uma "ligeira tendência à baixa do consumo de carne ", conquanto não é tão nítida como em Alemanha, por exemplo. Por contra, há alguns carnívoros irredentos aos que será impossível convencer. Segundo o estudo, um 12 % dos consumidores são supercarnívoros, e declaram comer carne quase todos os dias. Os que sim a vão deixando, explica Martín, não passam directamente aos alternativas vegetais, sina que apostam forte pelos ovos.
Razões para não consumir carne 'plant-based'
Há carnívoros, há consumidores obstinados e há argumentos variados para decidir-se a comer plant-based ou não. Segundo reflete o citado relatório, entre os omnívoros que asseguram não consumir alternativas vegetais à carne, um 32 % o faz porque não "vê a razão da substituir". Menos, em torno de um 19 %, não o faz por questões de preço . Um 17 % justifica-o indicando que seu sabor não é tão bom e um 13 % responde não estar seguro de com que ingredientes se elaboram esses produtos.
Quanto às razões para optar por estas dietas, um 62 % dos flexitarianos afirma que se tem decantado por este tipo de alimentação por motivos de saúde. Um 34 % está preocupado pelos animais e um 34 % pela sustentabilidade. Este último elemento cresce como factor de motivação com respeito ao ano passado, já que em 2021 preocupava só a um 26 %.
Os homens, menos propícios a consumir alternativas vegetais
O consumidor, segundo a análise de Lantern, está algo desorientado com respeito à carne vegetal, conquanto as alternativas ao frango seguem se vendendo: um 35 % dos consumidores tomam-nas, e um 12 % fá-lo habitualmente. Outro clássico são as hamburguesas plant-based, que, ademais, refletem à perfección a divisão por sexos: um 2 % de homens consomem-nas com frequência, uma percentagem que se dobra no caso das mulheres (4 %).
Em general, as mulheres veggies são as que sustentam a tendência e permitem que não se afunde: um 13,2 % das mulheres espanholas o são. Se em 2021 os veggies repartiam-se equitativamente, agora os homens "se dormiram um pouco nestes anos, provavelmente porque primam a saúde em menor medida em suas decisões de tipo de dieta", reflete o relatório.
Triunfo da pizza e as bebidas
Ademais, os consumidores que não são veganos têm valorizado positivamente as pizzas veganas, um alimento que, segundo Martín, sim contribui valor: são mais sãs que as normais, ajudam a comer verdura, solucionam um jantar se vai a casa uma pessoa vegana… Por isso, um 10 % dos omnívoros as consome.
Agora bem, a grande ganhadora em categorias plant-based é a de bebidas vegetais, com Vivesoy e Alpro como líderes. "Espanha conta com um dos mercados de alternativas vegetais ao leite maiores de Europa, que no último ano tem atingido os 370 milhões de euros em vendas. Em volume, a categoria tem seguido crescendo em dois últimos anos, um 5,8 % em 2023", reza o relatório. As mais procuradas são os bebidas vegetais de avena , seguidas das de soja e almendras.
Autocrítica no sector
A perda de quase 600.000 consumidores que seguiam dietas veganas causa inquietude no sector, e os directores sabem que fica muito por fazer. Um da cada dois veggies conhece a marca Heura, segundo Lantern. Ademais, um da cada três veggies conhece a Vegalia, o que resulta "positivo". Mas isso não significa que convençam: a marca de alternativas cárnicas melhor valorizada "só gera identificação com um da cada cinco veggies", assinala Martín. A seu julgamento, o prazer é fundamental. "Se não está delicioso, não já rico ou muito bom, o vamos ter complicado", tem afirmado o CEO.
"Os mais jovens são um target claro, mas não podemos renunciar a outras faixas de idade se queremos impulsionar a indústria do plant-based. Temos que ser mais inclusivos", tem insistido Martín. Também tem explicado que, em ocasiões, as marcas apostam por um marketing erróneo, já que não todos os consumidores desejam o mesmo nem todos estão igual de preocupados pelo futuro do planeta.
"Batiburrillo" nos lineares
Quanto à presença dos alternativas vegetais nos supermercados, Martín explica que agora há verdadeiro "batiburrillo": não sempre se encontra facilmente, estão misturadas com produtos que não são plant-based… Entre as que tentam remediarlo, Carrefour é a corrente na que os veggies encontram mais facilmente seus produtos.
Ao igual que Martín, Florencio García, Head of Europe Plant Based Sigma, se mostra autocrítico. "No ano passado, em plant-based sacaram-se 270 novos produtos em Espanha, e a maioria eram o mesmo", indica. Este experiente também põe o foco na barreira do preço. "Precisamos acercar-nos", insiste.
Paciência e facilidades
Por sua vez, Luke Saldanha, cofundador de Rethink Foods, alega que a indústria precisa "paciência" porque a gastronomia tem raízes culturais muito estabelecidas e não é singelo as mudar.
Assim mesmo, Xavier Mon Companys, ex director geral de Unilever Foods Espanha, conclui que é necessário "lho fazer fácil à gente".