Com a chegada do calor de junho, muitos bares e restaurantes de toda a geografia espanhola adaptam as suas cartas para os novos ingredientes de verão. Saladas, gaspachos e como não podia ser de outra forma, pimentos Padrón. Este prato típico da Galiza é uma pequena iguaria de verão que muitas vezes engana os consumidores com o seu nome, já que na maioria das vezes não se trata de pimentos Padrón como tal.
O truque está nas nuancas. Durante anos, antes de ser criada a denominação de origem protegida deste produto, catalogou-se esta variedade de pimentos, pequenos, verdes e sabrosos, com o nome padrón ou tipo padrón. Este nome não tem nada a ver com a sua suposta origem, a localidade de Padrón, na Corunha, mas sim com a forma como esta espécie de pimentão doce e picante se tornou conhecida na cultura e na história do país.
Denominação de origem
O problema começa quando num local se pede uma porção de pimentos Padrón e na realidade se tratam de pimentos do tipo padrón. Pode parecer banal, mas na verdade trata-se de uma batalha constante entre os agricultores galegos e a indústria alimentar. "Não se podem comparar. Ainda que sejam o mesmo tipo de pimento, o clima influencia totalmente o aroma e o sabor. A forma de cuidá-lo, o tipo de solo, a seleção que se realiza… Tudo isto é um valor acrescentado na qualidade do produto", assinala Milagres González, presidenta do Conselho Regulador da Denominação de Origem Protegida do pimento de Herbón.
Herbón ou Padrón? A denominação de origem oficial refere-se a pimentos de Herbón como origem da sua procedência, a parroquia onde se cultivaram pela primeira vez depois de chegar do México no século XVI, que pertence à localidade de Padrón. Nesta linha ténue é onde se encontra a armadilha habitual. Segundo González, se num restaurante põem na carta Pimentos de Padrón está a referir-se ao lugar de procedência e em vez disso Pimentos padrón refere-se à variedade. O típico é encontrar a primeira opção, ainda que não costumam provir de Galiza nem muito menos contar com um selo que o certifique.
De Marrocos ao prato
Juntamento com o norte de Portugal e zonas como Almería, Marrocos converteu-se num dos maiores exportadores de pimentos desta espécie para Espanha. Na verdade, várias empresas galegas acabaram pro construir ali suas estufas, assegurando que a qualidade do solo e as condições climatéricas permitem cultivar pimentos de qualidade durante todo o ano ao contrário da Galiza, onde só podem ser colhidos entre maio e outubro. "O que não dizem é que também têm uma mão de obra bem mais barata. Além disso, ainda que se parta da mesma simente, a denominação de origem implica uma série de protocolos muito claros, desde a semente até o prato do comensal", explica à Consumidor Global Miguel López, secretário da União de Consumidores da Galiza.
O representante da plataforma de consumidores insiste em como nem sequer a Galiza tem calado a luta por defender a denominação de origem. Os agricultores são conscientes de que podem vender o produto que obtêm das suas pequenas parcelas sem problemas. Portanto, custa muito organizá-los em torno de uma mesma causa, já que obteriam menos benefício ao agrupar-se debaixo do selo de origem protegida. E essa pequena produção, unida à sazonalidade do pimento, fá-los vulneráveis às grandes remessas que vêm de Marrocos. "A nossa única opção é integrar todos os produtores para defender o valor do pimento de Herbón no governo", afirma López.
Como reconhecer um pimento de Herbón?
Os consumidores também podem exigir o seu direito de verificar se os pimentos de Padrón de um restaurante são da Galiza ou se têm denominação de origem. Reconhecer um verdadeiro pimento de Herbón não é complicado, sobretudo se se tem em conta algumas nuances importantes. "A primeira é que, se não são colhidos entre maio e outubro, não são pimentos de Padrón reais. É um produto com datas marcadas pelo clima, atingindo o seu ponto máximo de sabor e quantidade em julho e agosto", afirma José Modal Ferro, gerente da Pementos Carmucha, uma empresa com mais de 90 anos dedicada à colheira e venda destes pimentos.
A forma e a cor destes vegetais também é um selo característico das colheitas das terras de Padrón. Modal faz finca-pé no tamanho, entre uns dois e cinco centímetros. Uma medida maior daria uma pista de que não são da zona. A cor típica é verde escuro e apagado, com uma tonalidade afastada dos pimentos castanhos convencionais, e o seu sabor é intenso e fresco. "E tal e como reza o ditado, se comes um prato e não tiver nenhum picante, é muito provável que não sejam de Padrón", conclui o empresário.