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O efeito regenerador das flores comestíveis: mais que uma moda gastronómica
Estas plantas, que brotam para além dos restaurantes de alta cozinha, são alimentos saudáveis por descobrir
Estão na literatura e na arte desde sempre, desde os hieróglifos egípcios até Matisse e Os Beatles; estão em San Valentín, no Natal, nos casamentos e em todas as mesa que se apreciem. E também nos pratos: as flores comestíveis ganham popularidade, não como um tempero veggie nem como a pátina de postura ou uma moda gastronómica com a de dar cor a um gin-tonic, mas como uma forma natural e elegante de enriquecer uma salada ou uma sobremesa.
"Ainda que nada possa trazer de volta a hora do esplendor na erva, da glória nas flores, não devemos nos afligir, porque encontraremos a força na lembrança". Escreveu-o um dos paladinos do romantismo, William Wordsworth, que encontrou nas flores uma imagem icónica de beleza intensa e fugaz. Hoje, transferi-los para a gastronomia representa um detalhe bom e bonito (não mais barato) para conquistar qualquer convidado.
As flores da jarra saltam para o prato
Innoflowers é uma das empresas espanholas mais fortes do setor. Aragonesa, proclama no seu site que as flores "saltam da para para a mesa". Para além deste dístico, também publicitam que são "saudáveis, divertidas, coloridas" e que podem se lidas como "um capricho, um prazer ou um jogo". Laura Carrera, diretora geral da empresa, conta à Consumidor Global que foi fundada em 2016, mas que já tinha experiência prévia neste vistoso mundo.
Vende tanto a supermercados como a pastelerías e ao cliente final, e sua diretora geral reconhece que "o assunto das flores comstíveis sempre tem foi controvertido". Na verdade, quando eles começaram, o Governo de Aragón desconhecia como rotular o produto quanto a controlos sanitários, mas agora já existe uma regulação específica.
Bandejas de flores comestíveis desde 6,90 euros
No entanto, Carrera não o vê como algo inovador, mas sim como um mais um degrau mais de uma longa escada: "As pétalas de rosa usaram-se sempre, e também há geleias ou óleos de flores", argumenta. Comê-las diretamente é só uma evolução. O mesmo pensa Mariano Bueno, especialista em agricultura e horticultura sustentável, que conta a este meio que as flores se comeram "desde a Pré-historia", mas que, em Espanha, sobrecarregada por longos períodos de pobreza, se perdeu esta riqueza gastronómica.
Os preços variam segundo o tipo de flor, mas não é um produto barato. Por exemplo, a bandeja de 40 flores de borragem custa na Innoflowers 6,90 euros. Segundo a empresa, o sabor desta pequena jóia de chamativos tons azuis lembra o pepino. Como todas os seus espécimes, são pré-selecionadas à mão. Por outro lado, com estes artigos convém não se descansar à sombra da bananeira: a data de consumo preferencial (que não de validade) depende da cada planta, podendo ir desde os três ou quatro dias após a colheita até os oito.
Ausência de químicos
Mariano Bueno explica que quem queira iniciar-se no consumo de flores deve procurar "o certificado de produção biológica". Hoje em dia, afirma, ainda que se lave bem a planta, "os químicos e os insetiidas já estão dentro", pelo que a única garantia viria com o certificado.
Carrera explica que na sua empresa utilizam tratamentos "respeitosos com a planta, com o meio ambiente e com as pessoas", com procedimentos saudáveis e sustratos muito cuidados.
Um produto difícil de tratar
Na Innoflowers também têm produtos mais especiais, como rosas cristalizadas tingidas de dourado ou prateado. Definem-nas como "autênticas jóias naturais". O aspeto é o de frágeis doces que poderiam deslumbrar os clientes de uma pastelaria gourmet. E o preço também: custam 11 euros. Neste caso, a data de validade é de um ano desde a sua embalagem.
Carreia conta que o método de prova e erro tem sido o que lhes permitiu ver o que funcionava e o que não funcionava. "Agora temos dois hectares a pleno rendimento, com 50 variedades de plantas", explica. Fala da Innoflowers como um projecto instigante, no qual, no entanto, o produto é "difícil de tratar".
Os efeitos benéficos de comer flores
Bueno defende que, quem esteja interessado, experimente sem medo as flores. "Já comemos algumas: a alcachofra ou a couve-flor são flores", expressa. Além disso, argumenta que "também comemos com os olhos", pelo que oa atratividade e a ostentação destas plantas já têm valor em si mesmo. Na gastronomia, como em quase tudo, o primeiro olhar também conta.
Ele mesmo, além disso especialista e pioneiro da agricultura sustentável, cultiva plantas comestíveis e afirma que "quase todas são muito saudáveis", como a capuchinha, "com um delicioso sabor residual a rabanete", ou a sedosa flor de calêndula, capaz de regenerar as células. "Para pessoas que possam ter problemas intestinais ou digestivos é muito benéfica", afirma Bueno.
Uma tendência impulsionada pelo 'MasterChef'
Ver flores num prato não é o mais habitual do mundo. Ainda que Carrera admita que o MasterChef e outros programas de gastronomia têm ajudado a popularizá-la, não é algo que se veja em todos lugares. PPode até haver quem tenha alguma objeção em ingeri-los devido a possíveis produtos químicos. Neste sentido, a empresária conta que nunca teve más experiências, como indigestões ou intoxicações.
"Uma coisa é que a flor te pareça bonita e outra que gostes do seu sabor. O que aconteceu é que alguma vez, de forma pontual, apareceu um pequeno inseto nalguma flor", conta. Este problema, de tamanho minúsculo, ao menos objetivamente, deve-se a que seus tratamentos tentam ser o menos invasivos possível com a planta. "Se queres que o produto seja biológico, tens que ter certa margem", expressa.
Algumas deixam-te a boca dormente e outras têm gosto de mostarda
Entre os sobressaltos, Carrera também menciona a flor eléctrica, "com a qual te adormece a boca". Utiliza-se sobretudo para marketing sensorial, cocktails e coisas assim. Para os que queiram começar a provar, Carrera aponta que a rosa, apesar de ter muito boa imagem, é adstringente. Por isso, recomenda começar com o mini pensamento. "É preciosa e quanto ao sabor é como se comesses uma alface ou um cânone. Além disso, é super saudável, tem muitos antioxidantes", relata.
Para paladares com vontades a mais, a empresária afirma que há de tudo, desde cítricas até picantes. Entre as segundas, menciona a flor wallflower, que tem "notas de mostarda"; a begoña, "azeda, sabe a lima"; ou a chamada flor de alho, a tulbaghia, que se pode usar para as torradas e possui propriedades antitrombóticas.
Florestibles
Florestibles é uma empresa de Alzira (Valência) que também se dedica a este negócio. Rubén, um dos seus responsáveis, conta à Consumidor Global que o ideal, para começar, é ter uma flor comestível "no teu jardim, ou no teu terraço, se tens possibilidade" e ir vendo se te convence o seu sabor. Afirma que uma boa forma de escolher por uma ou por outra é em função das propriedades medicinais que se procurem.
"Eu vivo numa cidade de Valência, e temos uma horta, de forma que há muito tempo que pensava em cultivar", conta sobre a origem da sua empresa. Depois esteve a pesquisar e deu-se conta de que em Espanha só se comercializavam quatro ou cinco tipos de flores comestíveis, "as mais rentáveis". Assim, a sua intenção é levar às pessoas a maior variedade possível, para que o leque de cor, sabor e vitaminas seja maior. Na Florestibles são produtores, mas não vendem diretamente a particulares, mas sim aos revendedores.
Estética ou sabor?
"Isto começou na alta gastronomia, mas hoje em dia há restaurantes a pé que já usam este produto", expressa Rubén. Apesar de que se vá implementando nas receitas, a função principal continua a ser decorativa porque os sabores mais difundidos são os neutros. Nas palavras do especialista, "o mercado exige, sobretudo, estética, ainda que haja chefs que procuram sabores concretos, como o tomilho".
Segundo este especialistas, as flores contêm muitas vitaminas, como acontece com a malva brava, que possui A, B1, B2 e C; as dálias, com propriedades medicinais e fibra dietética; ou a verbena, usada desde há séculos pelas suas propriedades terapêuticas, que pode ajudar a combater a insónia. Definitivamente, um monte de opções por descobrir que já germina na gastronomia.
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