Um bom chuletón no seu ponto não tem rival, pensa Alejandro. Ele sempre foi muito de carne. Ao princípio, as recomendações tanto da OMS como da World Cancer Research Fund, que há anos aconselham a reduzir o consumo de carne vermelha a um total entre 350 e 500 gramas por semana, o irritam sobremaneira. Depois passou por uma fase céptica e seguiu olhando para outro lado --no seu menu de meio dia nunca faltava um bom pedaço de carne , ainda que fora com um suplemento de 2 euros--. Tudo mudou durante o confinamento. Uma tarde de março, sentado no sofá de casa, picou-lhe a curiosidade e abriu a nova Biblia (Netflix). Depois de ver Cowspiracy, What the health e The game changers, conhecer o funcionamento de matadouros e fazenda, e ser consciente do impato do consumo de carne no meio ambiente, decidiu, em silêncio, que queria uma mudança.
Como ele, metade dos clientes da Vegan Food Clube (VFC), uma startup de Valência de túpers vegans ao domicílio, não são vegetarianos nem vegans. "Tu podes ser vegan, omnívoro, flexitariano ou o que queiras, mas há uma tendência ainda mais potente que é a de reduzir o consumo de carne. Podes pedir lancheiras vegans ao meio dia e pela noite comer um hambúrguer. Ao final, comer mais leve e saudável é recomendável para todos", explica o fundador da Com Gosto Consulting, Manel Morillo Prieto, que afirma que negócios como VFC aderem a esta tendência com o delivery, que em 2020 cresceu 60%.
VFC: no momento justo e o lugar adequado
A ideia de criar a Vegan Food Clube "nasce em pleno Covid, quando as pessoas tomaram consciência do que comia e do impato que tinha no planeta. Ao mesmo tempo, são muitos os que estão fartos de cozinhar em casa", expõe à Consumidor Global Pablo Alcolea, CEO da VFC, uma das únicas empresas de túpers 100% vegans ao domicílio que há em Espanha junto com a Wonderfood. Há seis meses, VFC começou a entregar pedidos, e desde então já serviu mais de 15.000 pratos. Qual é o segredo do seu sucesso?
"Desde que nasceu o Wetaca (2014), as empresas de túpers ao domicílio são tendência. Também está a colar forte todo o tema de lancheiras para empresas. Tem custado a consolidar porque é uma mudança de hábito importante, mas continuará a crescer", aponta Morillo. Além disso, Espanha está entre os 10 países mais vegetarianos do mundo --10% da população segue uma alimentação maioritariamente vegetal--, segundo um estudo, pelo que mais de 4 milhões de pessoas em Espanha apostam numa dieta plant-based. "Cada vez cozinhamos menos. Está confirmadísimo. É a base do movimento delivery", diz Morillo em referência ao segredo do sucesso da VFC em tão pouco tempo e ao "escesso de procura" que têm este tipo de serviços.
Como funciona e quanto custa?
Como Wonderfood, ou Apeteat e Zámparte, que têm opções vegans entre os seus pratos, a Vegan Food Clube oferece pratos de assinatura flexíveis com menus semanais a escolher entre 45 pratos que vão mudando. As entregas realizam-se às terças-feiras no domicílio ou no escritório e chegam a toda Espanha excepto às ilhas Baleares, Canárias, Ceuta e Melilla.
A VFC oferece três planos semanais --de 6, 12 e 24 pratos-- por 30, 55 e 100 euros respectivamente, ou seja, entre 4 e 5 euros o prato. Em Wonderfood, por exemplo, os pratos dos seus menus custam entre 6,5 aos 8 euros. "Contratar um serviço de túpers ao domicílio sai um pouco mais caro que cozinhar em casa, mas se factorizas o tempo não. Depende de quanto valores o teu tempo", resume Alcolea.
Os mais pedidos
A lasanha vegetal, o curry de manga e o macarrão com molho de cogumelos são os mais procurados pelos clientes da Vegan Food Clube.
"Ao estar focalizados no produto vegan estamos mais pendentes das novas proteínas vegetais e podemos oferecer preços bastante competitivos para que mais pessoas tenham acesso à comida plant-based. Sim, também trabalhamos com a Heura. Gostamos muito", aponta Alcolea sobre a oferta gastronómica da VFC, que muda todas as semana sa partir das novas criações do seu chef, Rodolfo Castro.
Adeus ao menu de meio dia?
"Tem os dias contados como opção maioritária. Vai reduzir-se até ficar mais próximo do localismo. Desapareceu o cozido madrileno? Não. Ficam 15 ou 20 locais, mas é algo tradicional", explica Morillo, que afirma que o do primeiro prato, o segundo prato, o vinho, a sobremesa e a sessão de uma hora e meia durante a semana está a desaparecer.
No seu lugar, "é cada vez mais habitual optar por uma comida leve, ágil, mais saudável e que favoreça a digestão. Daí o aparecimento em massa de meis menus", acrescenta. Ao mesmo tempo, os lineares dos supermercados estão a encher-se de pratos preparados, e a Vegan Food Clube chegou na semana passada a Portugal e em novembro aterrará em França. "Existe um nicho de mercado importante que ainda não está coberto", afirma Morillo.