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Por que o pulpo que comes em Espanha não é galego, barato nem fresco
l aprecio do cefalópodo autóctono disparou-se desde faz anos por uma demanda desmedida e a grande maioria importar congelado desde águas africanas
Galiza está a cada vez mais cerquem de perder a um de seus símbolos mais internacionais. O pulpo galego, a matéria prima para fazer o conhecido pulpo a feira, é um vizinho a cada vez mais difícil de encontrar na costa norteña. A captura desmedida, uma demanda insostenible e a influência de mercados internacionais tem provocado que o molusco nacional se converta num produto quase de luxo.
A grande maioria de pulpos que se comem em Espanha procedem das águas de Mauritania e o Sáhara. Estes destinos fazem parte de um sistema baseado em explodir um recurso de moda na cozinha e nos supermercados com preços muito afastados de seu custo real.
Por que não há pulpo galego?
A produção do pulpo galego depende de muitos factores. De facto, nos anos com costa vazia e os de bonanza sempre se intercalaram sem uma explicação clara, ainda que a pesca intensiva pela grande demanda deste produto tem sido um das origens do problema. "Dantes não tinha um controle das capturas nem se tinha em conta o ciclo de reprodução. Desde que aprovaram-se algumas medidas em 2019, controla-se tanto a idade do animal como um limite de toneladas máximo", explica a Consumidor Global Roberto Pereira, presidente da Associação de Pulpeiros de Carballiño-Arcos.
Nestes anos de escassez explicam a flutuação de preços do pulpo, mas não só do produzido em Galiza. Ao converter num produto demandado a grande escala, as capturas galegas não são suficientes para satisfazer a fome dos espanhóis por este produto. Então, aparecem os cefalópodos dos mares africanos. Estas peças congelam-se e enviam-se ao mercado espanhol. Quanto aos preços, Pereira sublinha como a demanda faz que estes aumentem de forma desmedida para o consumidor médio. "Vi-os subir desde os sete euros o quilo até os 15 euros. Há empresas em Japão que pagam melhor que em Espanha, pelo que se especula com o produto para sacar mais benefício, ainda que tenha que estar congelado um ano inteiro sem sair à venda", explica Pereira.
Pagar mais sem importar a origem
O custo do pulpo fixa-se baseando em várias características. A primeira é o tamanho. Numa escala do 1 ao 10, o pulpo classifica-se em pequeno, médio ou grande, o que se relaciona com seu peso. Mais dos três ou quatro quilos considera-se grande e se é menor aos 2 quilos inclui-se-lhe dentro da categoria de pequeno.
Quanto à origem do pulpo, segundo explicam fontes da Associação de Pulpeiros, este não afecta tanto ao aprecio final. É muito difícil distinguir a carne de um pulpo galego da de um africano e seus sabores são similares, insistem. No entanto, segundo os dados dos últimos anos, o custo do pulpo que se come em Espanha tem crescido, sem responder à oferta de capturas totais. O que era um produto de temporada se converteu num must da cozinha e os restaurantes espanhóis.
Sem a protecção da denominação de origem
Outro perigo que sofre o pulpo galego é que não tem uma denominação de origem. Por isso, é muito singelo comprar pulpo africano, o trazer a Espanha e o vender como pulpo galego. "O sabor é similar, mas não é o mesmo consumir um pulpo fresco recém sacado do armazém que um que vem congelado e se transportou. Uma vez chega aqui, não obstante, é muito fácil catalogá-lo de galego e vendê-lo assim no restaurante", assinala María Soto, responsável pela Cofradía de Pescadores de Portonovo.
Ademais, a importação é necessária se tem-se em conta que os espanhóis consomem cerca de 60.000 toneladas anuais de pulpo. Se em 2019 os armazéns galegos venderam 2.129,57 toneladas de pulpo, isto implicaria que tão só o 3,5 % do pulpo consumido em Espanha vinha, realmente, de Galiza. "É uma pena o que ocorre porque se esmaece a qualidade do pulpo da zona, que é um produto incrível", conclui Soto.
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