Não há verão sem gazpacho. Com a chegada do calor, esta comida típica do estío se cuela em todas partes: nas cozinhas dos lares, em anúncios e programas de televisão, nos restaurantes, nas redes sociais e, por suposto, nos supermercados, onde a oferta de gazpachos embalados não deixa de crescer e a guerra por ser o mais vendido está mais reñida que nunca.
Bem longe fica no ano 1991, quando a marca Alvalle criou o primeiro gazpacho embalado. Agora, nas geladeiras dos supermercados se podem encontrar mais de 40 variedades diferentes desta refrescante sopa a base de tomate, azeite de oliva e hortaliças. De facto, os de Belém Esteban e Pepa Muñoz arrasam a tal ponto que Alvalle --que no ano passado liderava o mercado com uma quota a mais de um 20 %-- tem visto como suas vendas em Espanha caíam ao redor de um 50 % durante as últimas semanas, segundo apontam fontes do mercado.
Uma concorrência feroz no pior momento
"Não sê se será pela novidade, mas agora se vende mais que o Alvalle", aponta uma dependienta de Carrefour sobre o gazpacho fresco Sabores da Esteban, que desde que saiu no final de abril desaparece como por arte de magia dos lineares do Corte Inglês e Carrefour, entre outros supermercados. "Com o que se vende tem que estar bom. Saem como churros", acrescenta a mesma reponedora. Ao mesmo tempo, a chef com estrela Michelin Pepa Muñoz aliou-se com Lidl para sacar seu próprio gazpacho --Origem e Tradição--, que também está a colar forte. "Estão a fazer muita publicidade e a verdade é que se vende muito bem. A gente leva-lho muito", explica uma dependienta da corrente alemã.
Alvalle tem visto como os gazpachos de Belém Esteban e Pepa Muñoz lhe comiam a tostada no pior momento possível, justo após que a multinacional estadounidense PepsiCo --proprietária de Alvalle-- tenha investido durante o último ano 37,3 milhões de euros na nova planta de gazpachos Alvalle --localizada em Alcantarilla (Múrcia)-- para elevar sua produção. Como é lógico, em PepsiCo estão muito preocupados com o fenómeno gastronómico da Esteban, tal e como asseguram fontes do sector. Não em vão, os arcos de segurança de Carrefour, por exemplo, estão forrados com publicidade de Alvalle, que também conta com frigoríficos ao lado dos caixas para fazer seu produto mais visível num momento de dificuldade.
Uma imagem vale mais que mil palavras
Nas primeiras semanas após seu lançamento era praticamente impossível conseguir um gazpacho de Sabores da Esteban, e é que a de Paracuellos segue tendo um tirón indudável. "Se tu és capaz de identificar esse produto com a pessoa que lhe dá nome se produz uma simbiosis do mais exitosa", aponta Ana Jiménez, professora de economia da Universitat Oberta de Cataluña (UOC), sobre este novo gazpacho fabricado pela empresa murciana Cool Vega Company, que também se encarrega de fazer o da chef Pepa Muñoz.
"Tem que ter um encaixe perfeito que o público entenda rapidamente, e no caso do gazpacho de Pepa Muñoz a associação é clarísima", acrescenta Jiménez, quem opina que Origem e Tradição, a sopa fria da reconhecida chef, terá mais perdurabilidad no mercado que o da Esteban.
O preço também não ajuda a Alvalle
Os gazpachos embalados são um recurso muito prático para complementar as comidas. Ademais, em sua maioria "são produtos processados que a nível nutricional estão muito bem", aponta a dietista e nutricionista Susana Rodríguez Costa, de Nutriciona Group. Todo isso tem feito que em nosso país se consumam mais de 68 milhões de litros de gazpacho ao ano, uma cifra que tem animado a personagens da imprensa rosa a sacar suas próprias marcas. O último deles tem sido o nutricionista e influencer Carlos Rios, também conhecido como o criador do movimento realfooding, que na semana passada lançou seu próprio gazpacho.
"As diferenças nutricionais entre o da Esteban (2,99 euros) e o Alvalle (3,55 euros) são inapreciables. Eu recomendaria ambos a meus pacientes", explica Rodríguez. "Têm uma diferença de preço demasiado grande para tratar-se de dois produtos tão similares", sentencia a experiente.