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O bluff da revolução probiótica: suplementos alimentares desnecessários
A startup Nucaps Nanotechnology espera "revolucionar o setor da alimentação" com as suas microcápsulas de proteínas com ingredientes bioativos para grandes marcas
Os rótulos dos produtos vendem muito mais que a composição real dos mesmos, e qualquer coisa que pareça saudável, ainda que não o seja, é um filão que a indústria alimentar explora para chamar a atenção e aumentar os seus lucros.
Durante mais de cinco anos, a presença de probióticos --microorganismos vivos que, administrados em quantidades adequadas, têm um efeito benéfico ao hospedeiro, segundo a OMS-- em leites fermentados e suplementos alimentares cresce a passos gigantes em Espanha, onde 70% da população consome de forma frequente suplementos alimentares. Face a esta situação, a startup navarra Nucaps quer aproveitar esta moda.
Microcápsulas de proteínas com probióticos
A empresa Nucaps Nanotechnology, premiada como a startup mais inovadora nos prêmios Foodtech Innovation 2021, criou umas nanocápsulas de proteínas alimentares para a administração oral de ingredientes bioativos, fármacos e probióticos. "Desenhamos um sistema de encapsulamento com uma tecnologia à base proteínas naturais", expõe à Consumidor Global Mariano Oto, CEO da Nucaps.
Assim, em função do produto, trabalham com proteína de milho, soja ou lentilha, entre outras, para encapsular extractos, princípios ativos, antioxidantes, princípios farmacológicos e probióticos de uma forma "limpa, segura e fácil de aplicar no mercado", acrescenta o diretor.
Uma revolução no impulso do momento
Os probióticos estão em ascensão e todas as empresas do setor alimentar se estão a envolver. "Temos mais de 20 projetos em curso e em seis meses poder-se-ão consumir probióticos encapsulados em vários laticínios e bebidas", avança Oto, que aponta que as suas microcápsulas de proteínas naturais têm três vantagens. "Eliminamos o uso de plásticos e de componentes químicos; é mais rentável porque encapsulamos a bactéria fresca e evitamos o congelamento; e é mais eficaz porque a absorção é até 30 vezes maior", assegura.
O uso de probióticos em alimentos ou suplementos alimentares "não costuma fazer dano a não ser que se parta de uma patologia de base, o problema é a quantidade na qual estão presentes num alimento --iogurte, leite fermentado ou outras bebidas-- e se é suficiente para que cheguem ao colón, fiquem a viver ali e contribuam com algum tipo de benefício", enfatiza Susana Rodríguez Costa, dietista e nutricionista da Nutriciona Group.
Servem de algo os probióticos?
Enquanto os probióticos vivem uma autêntica bolha, em matéria de alimentação "a União Europeia só tem uma alegação aprovada para as estirpes de probióticos nos iogurtes, que ajudam os intolerantes à lactose a digeri-la. Não há nada mais", explica Beatriz Robles, doutora em Ciência e tecnologia dos alimentos especializada em segurança alimentar. Também há uma estirpe concreta que, numa quantidade exata, ajuda a deter a diarreia provocada por antibióticos em crianças, mas trata-se de um medicamento.
As investigações que existem sobre os possíveis benefícios para a saúde de determinadas estirpres de probióticos "são tão prometedoras como prematuras", aponta Robles, que afirma que todos os suplementos com probióticos que encontramos em farmácias e supermercados "não podemos dizer que funcionem porque não está demonstrado". A especialista salienta que o cerne da questão é a quantidade de microorganismos e batérias que chegam vivos ao intestino grosso, algo que ainda se desconhece. "Estamos a falar de apontar muito muito alto. Agora mesmo os probióticos são como lançar uma bomba a ver se atingimos o alvo, quando o tratamento ao que se aspira é um trabalho de atirador furtivo", diz.
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