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O "melhor" licor espanhol não é o que imaginas: o controvertido ranking que refutan os experientes

Uma listagem de TasteAtlas situa ao Ronmiel de Canárias como um os 50 melhores do mundo, misturando categorias

barman
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TasteAtlas é um site que se apresenta como um projecto colectivo que dá forma a uma grande guia gastronómica internacional, um mapa de sabores e receitas que proporciona informação sobre platos tradicionais e especialidades de diferentes países. Ademais, os utentes podem deixar reseñas e votar. Assim, se percebe como um cruze estranho entre TripAdvisor e uma guia gastronómica em procura da viralidad. De vez em quando publica algum ranking que causa a indignação de uns internautas e o orgulho de outros. O último é um inventário que descobre quais são os melhores licores do mundo.

Não os mais consumidos nem os mais suculentos, sina os melhores, com toda a polisemia da palavra. O primeiro posto é para o Umeshu japonês, o segundo para o sul-africano Amarula e o terceiro para o Frangelico, de sabor "doce e equilibrado, caracterizado por seus fortes aromas de escarea, chocolate e vainilla". O primeiro licor espanhol aparece na trigesimoséptima posição, e é o Ronmiel de Canárias, que está por embaixo do Baileys (6), o Malibu (19) ou da legendaria tríade transalpina composta por Limoncello (17), Aperol (27) e Campari (33); mas acima do Jägermeister (48) ou o advokaat holandês (49).

Como funciona a votação

Ademais, numa divertida coincidência que quase parece procurada, o posto 43 é para o cartagenero Licor 43. Mas, de onde sai esta classificação? Segundo tem defendido TasteAtlas em anteriores ocasiões, sua metodologia é singela: os visitantes do site votam em função de suas próprias experiências, eles contam os votos e publicam as classificações. Têm mecanismos para verificar que os votos são reais, não de bots . Por isso, sustentam que é "quase impossível" manipular seus resultados, mas todos valem o mesmo, isto é, que não é, em nenhum caso, uma classificação elaborada por especialistas.

 

Consumidor Global tem contactado com TasteAtlas para conhecer detalhes concretos ao respeito. O primeiro matiz que fazem desde a plataforma afecta ao título: falam de uma lista que recolhe "os 50 licores melhor valorizados do mundo", e não simplesmente "os melhores do mundo", que é o que anunciam em redes. Quanto aos números, afirmam que para elaborar a listagem se registaram, até o 15 de outubro, 3.087 valorações, das quais 2.441 foram reconhecidas pelo sistema do lugar como legítimas.

Licores en una estantería / UNSPLASH
Licores numa estantería / UNSPLASH

Não é uma "conclusão global"

Sobre o sentido último da classificação, desde TasteAtlas também recolhem cabo: os rankings, afirmam, não devem se interpretar como conclusões finais e globais sobre alimentação. Longe disso, "seu propósito é promover excelentes comidas locais, infundir orgulho pelos platos tradicionais e acordar a curiosidade por platos que não tens provado", asseguram. Farinha de outro costal. O problema é que um ranking que fala de melhores implica, per se, categorizar e valorizar uma coisa mais que outra.

A Alberto Pizarro, um prestigioso bartender que em 2011 foi eleito como o melhor de Espanha na World Class Competition e hoje em dia está à frente da coctelería barcelonesa Bobby Gin, a lista não lhe convence. A perguntas de Consumidor Global, Pizarro sustenta que é importante conhecer quem elabora o ranking e baixo que critérios, já que "mistura genéricos como o ronmiel, que o elaboram diferentes produtores segundo diferentes critérios de qualidade, junto a marcas comerciais de receita única e consistência de produção".

Un bar donde se sirven Coca-Colas / UNSPLASH
Um profissional serve cocktails / UNSPLASH

Distinção entre produção

"É comparável o ronmiel industrial que se vende a 4 euros a garrafa que o que pode produzir um pequeno projecto de mal 400 garrafas ao ano?", pergunta-se. Com tudo, Pizarro não se molha sobre se é o melhor ou não: arguye que o ronmiel com denominação geográfica protegida "elaborado à maneira tradicional e sem a adição de almatizantes artificiais merece ser reconhecido como um grande licor facto em Espanha, da mesma maneira que os pacharanes tradicionais e os licores de ervas presentes em toda Espanha".

François Monti é uma figura reconhecida no sofisticado mundo dos tragos. Autor de Mueble Bar, O grande livro do vermut e 101 Cocktails to try before you die, é também o director de Amarguería, uma agência especializada em estratégia para marcas de vinho , aperitivos e destilados. "Não, por suposto que não", responde com aplomo à pergunta de se o ronmiel canario é o melhor licor espanhol. "O que ocorre é que o de TasteAtlas parece mais um ranking de popularidade que de qualidade", explica. De facto, na listagem há nomes bem acima que chirrían a este experiente. "Ninguém que esteja um pouco inteirado no mundo dos licores diria que o Frangelico é o melhor licor italiano", arguye.

Un vaso con licor / UNSPLASH
Um copo com licor / UNSPLASH

Uma listagem que "mistura coisas"

Coincide Monti com Pizarro em assinalar que TasteAtlas "mistura coisas": marcas com categorias amplas onde cabem os matizes e as diferentes fórmulas. Por exemplo, o Amaro não é um licor concreto, sina que existem dúzias de variedades. A imprecisión, afirma, é comparável a uma hipotética lista dos melhores destilados do mundo no que aparecesse no número 1 o Gimlet e no número 2 a ginebra. "Não há critério editorial", remarca.

Não é sozinho que se misturem churras com merinas, explica Monti, sina que existe uma legislação européia que determina, no continente, que é um licor e daí não. Para apresentar-se como tal, deve ter ao menos 100 gramas de açúcar por litro.

Omissões na lista

Em Instagram, a listagem tem gerado uma retahíla de apostillas, objeciones e ditames categóricos. Com tudo, soma quase 6.500 likes. "This account got an italy fetish", critica um utente. "Como podem faltar aí o rum cubano, o pisco peruano, o tequila mexicano", valoriza outro, que acusa ao ranking eurocéntrico.

Licor de hierbas / FLICKR - Luis Villa del Campo
Licor de ervas / FLICKR - Luis Villa do Campo

Também há quem se tomam a moléstia em detalhar que o Angostura, que aparece no posto 36, é em realidade originario de Venezuela, e não de Trinidad e Tobago.

Licor 43

A inclusão do Licor 43 parece ter causado menos surpresa. "É um produto de muita qualidade, mas quiçá em Espanha não goza da credibilidade que tem fora", explica Monti, que acrescenta que esta bebida murciana tem muito bom posicionamento em Alemanha ou México.

Assim mesmo, segundo um artigo de Beber Magazine publicado em 2019, o Licor 43 é o licor espanhol "mais vendido no mundo". Por sua vez, a marca afirma em seu site que a primeira década do século XXI foi testemunha da "imparable expansão internacional". "Levamos nosso produto a mais de cinquenta países, como Austrália, Alemanha, México e Estados Unidos, o convertendo no licor espanhol premium mais internacional de todos os tempos", acrescentam.

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