A loucura pelos superalimentos continua. Primeiro foi o kale, depois surgiu a quinoa, também a espirulina, a kombucha e agora é a vez do jackfruit. A lista de alimentos milagrosos atualiza-se quase ao mesmo ritmo que o perfil de um adolescente no Instagram. Sem dúvida, é uma moda insaciável.
A jackfruit ou jaca é uma verdadeira incógnita. Segundo os utilizadores que a provaram, esta fruta destaca-se por ser muito parecida à carne quanto à textura e exterior. Mas que propriedades tem? No que se destaca? A Consumidor Global consultou vários especialistas para conhecer que há por trás do novo hit veggie que conquista certos paladares.
A fruta maior do mundo
"Conheci a jackfruit numa viagem ao Sri Lanka. Ao princípio quando me ofereceram um prato pensava que era frango", explica Julia Huthmann cofundadora da Jacky F. Biojackfruit, uma empresa que exporta esta fruta para a Europa. Este produto é originário do sul da Ásia, mas também o podemos encontrar "nalgumas regiões da América Latina ", como lembra Mateo Carpio, diretor e chef do restaurante Flax and Kale Passage em Barcelona, que o oferece na sua carta. Por sua vez, considera-se a fruta maior do mundo, já que algumas peças podem chegar a pesar 50 quilos, ainda que o habitual é que rondem entre os 30 e 35 quilos.
O tamanho também surpreendeu Pablo M, um jovem fotógrafo que tem percorrido várias cidades do mundo com a sua câmara. "Quando a vi pela primeira vez pensei que era como uma protuberância que tinha saído da árvore, não pensava que era um fruto". É que, à primeira vista, a jackfruit não parece uma fruta apetecível. De dimensões exorbitantes (90 centímetros de altura e 40 de largura), possui uma cor verde e sua casca é rugosa com pequenas saliências. O aroma também não beneficia a exótica fruta. "Quando a retiras da árvore tens que a deixar uns dias separada para que seque e, nesse momento, exala um cheiro muito forte", acrescenta Pablo, que recorda que lhe aconselharam a untar os dedos com óleo no momento de a abrir, "mas não o fiz e fiquei com as mãos pegajosas durante uma semana".
Um sabor inesperado
No caso da jackfruit o bom está escondido no seu interior, na vagem, composto por até 500 gomos de cor laranja que protegem as sementes. Estas são do tamanho de uma tâmara e não são comestíveis. A jackfruit pode ser comida tanto crua como cozinhada."Se a queremos cozer e preparar junto com mais alimentos tem que estar no seu estado mais verde, porque se não, desfaz-se na frigideira" avança Carpio. Ainda assim, no que respeita ao sabor, há discrepância de opiniões. Por um lado, Pablo M. pensa que a jackfruit "sabe a pastilha industrial", enquanto o chef Carpio, considera que o paladar pode parecer o de "uma maçã verde" e Katrine Haussler, sócia de Huthmann na empresa Jacky F. Biojackfruit, opina que "é muito insípida e não tem um gosto marcado".
Mas os especialistas não diferem mais tanto em suas propriedades. A jackfruit pode-se considerar um sustitutivo proteico, rico em fibra e baixo em açúcares. Para Haussler, na verdade, "é o alimento ideal para aqueles vegans ou vegetarianos intolerantes ao gluten que não podem comer seitan". Além disso, os especialistas veggies afirmam que a maior vantagem deste fruto é a sua versatilidade. Tem a capacidade de adquirir qualquer sabor ao ser cozinhada. "É um alimento base, como a quinoa, o arroz ou o tofu", acrescenta Carpio. Esta caraterística, longe de ser uma limitação, é uma vantagem para os que não comem carne, porque apresenta uma infinidade de combinações."Pode-se cozinhar com curri, como se fosse pulled pork (carne de porco desidratada) ou também como se fosse carne picada para fazer hambúrgueres, tacos ou wraps", diz o chef Carpio.
Alimentos bons, pior, não milagrosos
Mas quais são os benefícios reais da maior fruta exótica do mundo? "Tem vitamina C e provitamina A e propriedades antioxidantes. Proporciona mais de 1,7 gramas de proteína por 100 gramas", defende Haussler, uma acérrima defensora dos poderes milagrosos da jackfruit. Ainda que, Beatriz Robles, nutricionista e divulgadora cientista difere. "É verdade que para ser uma fruta tem algo mais de proteína, mas está muito afastada de outros alimentos como são o grão de bico, as lentilhas ou os ovos, que sim têm uma quantidade muito elevada". Este superalimento, mais especificamente, tem uma quantidade semelhante de proteína à de uma manga – 0,8 gramas por 100 gr -- ou uma banana – 1,3 gramas por 100 gramas--. "Daí que não seja nada excepcional", diz Robles.
Além disso, alguns profissionais insistem que não se deve cair na armadilha de achar que só um ingrediente pode compensar uma má dieta ou uma vida sedentaria. Mireia Cabrera, nutricionista na consulta de Júlia Farré, assinala que"os nutricionistas, não somos muito fãs do conceito de superalimento, porque acreditamos na alimentação como um conjunto e "as redes sociais e a indústria alimentar propiciam o aparecimento de alimentos milagrosos, mas antes de ingressar numa moda deve-se ter em conta o ponto de vista nutricional e jamais ficar obcecado com isso", conclui.