Nem um skate rodando rua abaixo, nem um jogo improvisado com a bola nova e muito menos um duelo de piçoes. Agora as crianças e os adolescentes distraem-se com o Instagram, Youtube, Twitter e Twich. Além disso, desde que chegou a pandemia do Covid-19 o consumo de entretenimento digital e redes sociais entre os jovens espanhóis --crianças e adolescentes-- aumentou 170 %.
O uso cada vez maior deste tipo de plataformas digitais tem feito com que muitas empresas, em especial as alimentícias, usem personagens conhecidas para lançar uma mensagem de compra que atinja mais rápido esse público. No entanto, entre os produtos que se promovem chama a atenção a quantidade de imagens com comida pouco saudável ou fast food. Tanto é que o Conselho Audiovisual da Cataluña (CAC) alertou da grande superexposição de alimentos ricos em gorduras, açúcares ou sal por parte de algumas celebrities. Especificamente, o organismo detetou 50 vídeos publicados em várias redes, com mais de 30 milhões de visualizações cada, que fomentam o consumo excessivo de produtos pouco saudáveis. Na verdade, 75% dos casos analisados, o influencer aparece a consumir estes produtos. enquanto transmite "uma mensagem positiva e complacente", como indica o CAC.
Promos muito disimuladas
O marketing sempre aproveitou a atração dos famosos para obter o máximo proveito de determinadas campanhas. Isso não é nada novo. Mas agora a publicidade de alimentos é bem mais subtil, ainda que igualmente invasiva. Na opinião de Ainhoa Torres, professora e especialista em redes sociais na Universidade CEU San Pablo de Madrid, isto deve-se a que "os utilizadores não são conscientes de que estão a consumir conteúdos pagos e promovidos" e a razão disso, em grande parte, é que "os influencers não o apontam da maneira adequada".
Na verdade, do estudo realizado pela CAC, extrai-se que 58% dos vídeos analisados não assinalam que o seu conteúdo é comercial e os 42% restantes utilizam expressões do tipo publi, sponsor ou promoção que podem passar despercebidas. Além disso, segundo Torres, "muitos destes famosos assinalam o patrocínio no final do texto ou do vídeo, quando a grande maioria dos utilizadores nem chegam a esse ponto".
Instagram, a gallina dos ovos de ouro
As novas redes sociais, mais visuais, impõem-se entre o público jovem e as marcas de comida e alimentação sabem disso. Por isso, o Instagram é para muitas delas a vitrine perfeita para dar a conhecer as suas novidades ou produtos."O objetivo é estar no top of mind do consumidor", alerta Torres. Esta expressão inglesa refere-se àquela marca que aparece em primeiro lugar na mente do utilizador quando pensa num serviço ou artigo. E para conseguir esta meta publicitária entre as gerações mais jovens, as empresas têm que se posicionar muito bem no "TikTok, YouTube e em especial, no Instagram", sublinha Torres.
Mas a ascensão deste tipo de promoções por parte dos influencers com certos alimentos, também coloca em alerta os nutricionistas. Um exemplo é a publicação no Instagram do perfil Hoy Comemos Sano, que junto a uma receita de um "pequeno-almoço saudável" coloca como ingrediente indispensável um produto da marca de cereais Weetabix. "Neste caso seria bem mais saudável se nós mesmos acrescentássemos a nossa própria farinha em vez deste produto", diz Alejandro Lado, psicólogo e nutricionista no centro Grulla de Madrid. Para evitar cair neste tipo de armadilhas, a professora Torres insiste na importância de que os pais formem os filhos e lhes ensinem a detetar este tipo de conteúdos. E Lado sublinha a necessidade de "começar a familiarizar-nos com o rótulo e deixar de cair nestas afirmações publicitárias".