A conspiração dos dentistas contra o Halloween

Os especialistas alertam sobre o consumo excessivo de doces e produtos açucarados, e incentivam os pais a conscientizarem os filhos da importância de uma boa higiene oral

Uma dentista avalia os dentes de uma criança depois de muito açúcar no Halloween / PEXELS
Uma dentista avalia os dentes de uma criança depois de muito açúcar no Halloween / PEXELS

Chega a Noite dos Mortos, chega o Halloween. Depois de uns anos de paragem pela pandemia, esta festa volta a despertar a ilusão de milhares de pessoas, que prepararam ao detalhe os disfarces mais terríveis para gerar o caos onde vão. Mas esta festa não implica só jovens em discotecas, mas também muitas crianças  que se disfarçam e recolhermcaramelos, o conhecido "truque ou travessura", é toda uma experiência. No entanto, alerta, pais! Os dentistas, conscientes do alto nível de açúcar presente nestes produtos, fazem um alerta.

Porque trata-se do grande dia para eles. "As crianças saem mais que antes, é uma coisa generalizada. Para eles é a grande festa, porque é só um dia", declara Paloma Pardo, mestra do Colégio Portugal (Madrid). Conquanto a pandemia conteve as suas vontades de aterrorizar o pessoal, Pardo reconhece que agora a festa é muito maior. "Neste ano, na escola, celebramo-la cada um na sua sala, mas mais, com muitas mais actividades. E depois vão buscar os doces e vão até os pais disfarçados", afirma. "Hoje é o grande dia. Há uns anos começou-se com esta tradição, mas agora vão todos, e a casas diferentes", sustenta.

Doces por um dia

Pardo, que acredita que se gostam tanto de se disfarçar é porque "enfrentam o medo, enfrentam os seus próprios temores", aponta que os mais pequenos "estão mais mentalizados, mais conscientes" em torno do não abuso dos produtos com açúcar. No entanto, ao tratar-se de um dia especial, "hoje sim que comem doces", confessa.

E estas, segundo a dentista Sandra Solís, "são muito prejudiciais". "Agora no Halloween todas os doces que vão consumir, como os chocolates, tudo leva açúcar e, como tal, é perjudicial", valoriza. No entanto, esclarece que "ainda que agora seja uma época mais propensa, estão constantemente a comer doces, chocolate, bolos e bolachas, que levam açúcar, e sumos e molhos com açúcares adicionados". "Batatas fritas, gusanitos… Todo leva açúcar e está muito implementado na dieta, consomem regularmente… e não são benéficos", alerta.

Una dentista extrae un diente a una niña por una caries por los excesos de Halloween / PEXELS
Uma dentista extrai um dente a uma menina por uma caries pelos excessos de açúcar no Halloween / PEXELS

Assim atua o açúcar contra os dentes

Para entender por que estes produtos não são bons para as ccrianças, devemos recorrer à ciência. "A saliva protege contra as caries, mas quando se come açúcar, a boca fica mais ácida e a saliva tem que trabalhar mais para lhe devolver o PH e tirar à boca a acidez", explica a médica. "Se constantemente introduzimos açúcar, é mais fácil que ataquem as bactérias durante o tempo que a saliva demora em estabilizar o PH", acrescenta. Por isso, "é preferível comer doces de uma só vez que comer guloseimas a cada duas horas, diariamente", afirma Solís.

Para a especialista é fundamental não só que as crianças "tenham uma rotina de higiene oral", mas que mais que "concienciar os pais para que eduquem as crianças na higiene dental". "Têm que explicar aos seus filhos que podem gostar muito de açúcar, mas também gostam dos bichinhos na boca, que podem lhes criar caries. Dizer-lhes que, se não se cuidam bem, vão sentir dor e estar incómodos", propõe.

A responsabilidade dos pais

Por isso, Solís aconselha aos pais "supervisionar a escovagem para confirmar que o façam bem, com pasta de dentes com flúor e que sejam dois minutos bem contados", e incentiva o enxágue "como complemento". "Os enxágues levam flúor para tentar proteger ao máximo", afirma.

O doutor em Odontología Rafael Flores também chama a atenção dos familiares neste tema tão importante. "As crianças devem ter hábitos adquiridos. Uma criança deve escovar a boca, tem que ir ao dentista, e em casa deve ensinar-se a higiene oral", indica. "O pai tem que supervisionar a escovagem e estar em cima da criança, tem uma tarefa importante", insiste.

Dos niños se cepillan los dientes llenos de azúcar en la noche de Halloween / PEXELS
Duas Crianças escovam os dentes cheios de açúcar na noite de Halloween / PEXELS

Familiarizar-se com o dentista

Apesar do risco desta festa, o doutor Flores lembra que "não se trata de tirar o Halloween ou de se colocar cntra ele. Não tem de ser demasiado rígido". Assim, sugere "não perder a perspectiva da criança como criança: têm que ser felizes". O melhor que podem fazer os pais, é "controlar os hidratos, doces e açúcares que tomam, dosificar e tentar que a criança não esteja toda a tarde com algodão de açúcar e depois durma sem se limpar os dentes". "É fundamental escovar os dentes todos os dias, comer de forma controlada, tentar não abusar e ter uma boa higiene oral", reitera.

Para Flores, é importante "chegar bem preparado, com uma higiene correcta". "A criança não pode não ter ido ao dentista em dois anos, tem que estar familiarizado com ele. Se já tem dois dentes tocados, tem muitas mais cédulas para uma caries séria", avisa.

Desde uma caries até perder um dente

Uma boa higiene oral é o melhor ataque face a essas bactérias dos produtos com açúcar que ameaçam conquistar a boca dos mais pequenos. Neste sentido, Flores recorda que "tão importante é uma caries num dente definitivo como num de leite". "No final, é uma concentração de bactérias importantes e podem dar lugar a problemas graves", assinala.

O consumo descontrolado de açúcar sem higiene posterior pode dar lugar a caries. Se esta não se trata, "desenvolve-se uma pontite, que é uma inflamação do nervo do dente", diz o médico. Nesse caso teria que fazer uma pulpectomia, o que para os adultos é um tratamento de canal. "Se não se faz, pode-se formar um absceso ou um flegmão, o rosto pode inflamar  e precisar inclusive de tratamento hospitalar", previne. Também se pode formar uma fístula, que é sintoma de que há uma infeção. O mais grave, alerta o médico, é que "se não se trata um absceso, a criança pode acabar por perder o dente". Os especialistas têm uma mensagem clara para os pais: a melhor defesa é um bom ataque.

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