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García Carrión e Félix Solís agrian o vinho de Valdepeñas: "Dão gato por lebre ao consumidor"
A União de Uniões assinala às certificadoras, que teriam cometido dejación de funções, e explica as graves repercussões para a denominação de origem, que conta com marcas tão conhecidas como Vinha Albali e Dom Simón
Numa das maiores regiões vitivinícolas do mundo, soleada, pouco fértil e esforçada, a sombra da dúvida escurece os campos e amargura os tragos. A princípios de outubro saltou a notícia de que a Audiência Nacional citava como imputados a directores de Félix Solís e García Carrión, dois das adegas mais importantes da Denominação de Origem (DO) Valdepeñas, por uma suposta fraude na venda de vinho .
Agora, os tribunais terão que dirimir se estes grupos venderam como "criação", "reserva" e "grande reserva" vinhos que não cumpriam com o período mínimo de envejecimiento que exige a própria denominação. Isto é, se deu-se gato por lebre. O conflito vem de longe, e as quantidades são enormes.
Centenas de milhares de litros a mais
Segundo detalhava O País, Félix Solís (que possui entre suas marcas mais destacadas Vinha Albali e Os Molinos) teria vendido como criações 472.745 litros mais dos declarados aos supervisores.
Por sua vez, as quantidades verificadas pelo gigante García Carrión, que no ano 2022 facturar 1.000 milhões de euros e é o dono do celebérrimo e asequible Dom Simón, mas também de Pata Negra ou da marca Senhorio dos Planos (em 2014 era a assinatura de vinhos com denominação de origem mais vendida) também não cuadraban com o declarado às autoridades inspectoras.
"Luta de poderes" entre dois gigantes
Estas irregularidades teriam ocorrido durante os anos 2017 e 2019. Já em fevereiro de 2021, a prestigiosa Guia Peñín falava de "luta de poderes entre dois gigantes produtores, Félix Solís e García Carrión, capazes de mudar o rumo de uma DO que leva tempo à deriva". Ainda mais, qualificavam a situação de Valdepeñas de "dramática em várias frentes", tanto por "a paulatina perda de protagonismo" como por "a complicada situação interna que atravessam, inclusive com a possibilidade de que o Conselho Regulador fique sem a representação produtora".
Em abril de 2021, pôs-se sobre a mesa que as duas adegas poderiam ter mentido sobre a elaboração, sobre o período de envejecimiento e sobre a permanência em barrica de roble. As suspeitas de uma fraude implicam, ademais, a outros actores do sector: o juiz também lembrou dirigir o procedimento contra as certificadoras Sohicert SA e Liec Agroalimentar SL, que poderiam ter feito a vista gorda e actuar como "cooperadores necessários".
Acusações cruzadas
Tudo começou com uma acusação de García Carrión que se voltou em sua contra. Assinalou a seu grande rival, Félix Solís, mas a lupa das autoridades fixou-se em ambos. Esta situação provocou o desaparecimento do conselho regulador. Depois da citación, Félix Solís defendeu-se assegurando que, se os números não cuadraban do tudo, era porque nas investigações não se tinham tido em consideração "as existências de vinho em armazéns, extremo que será acreditado no processo de instrução".
Neste contexto, a União de Uniões, entidade que agrupa a ganadeiros e agricultores de diferentes territórios de Espanha, tomou cartas no assunto e anunciou que se personaría como acusação popular. A perguntas deste meio, a União explica que este assunto vai ter consequências para a DO Valdepeñas, todas elas perniciosas para a cada um dos colectivos.
Grave prejuízo económico para o viticultor
"Para o viticultor, a consequência a meio e longo prazo do descrédito da DO é a diminuição do preço da uva, que pode passar de 0,40 €/kg aos 0,20 €/kg da mesma variedade cencibel (tempranillo), de ser uva qualificada a não o ser. Isso supõe uma deterioração de suas rendas, que levam anos afectadas por conflitos no sector elaborador que têm suposto a dissolução de facto da interprofesional que geria a DOP", explicam fontes da entidade.
Para os consumidores, estas irregularidades provocarão "um descenso no consumo ao não ser fiáveis as propriedades organolépticas da categorização de vinhos da DO, consequentemente a desconfiança no consumo de vinhos de criação e reserva, já que não é 'fiável' o que se diz no Edital da DO depositado nas instâncias comunitárias", argumentam desde a União.
"Gato por lebre"
Não se andam com médias tintas na associação, desde onde apontam que o consumidor não deveria preocupar pela segurança alimentar, mas sim no que diz respeito às diferentes propriedades dos vinhos.
"Estão a dar-lhe gato por lebre, estão a defraudar-lhe no preço, estão a dizer-lhe na etiqueta que o vinho que se dispõe a consumir tem um processo de elaboração sensivelmente diferente de um vinho do ano e quando passa pela caixa lhe estão a cobrar o duplo, o triplo ou o cuádruple do que deveriam lhe ter cobrado. São estes motivos para a preocupação, por suposto que sim", arguyen.
Dejación de funções das certificadoras
Para que as coisas se tenham feito assim de mau, alguém tem deixado fazer, bem porque sacava tajada ou bem porque sabia que à longa beneficiar-lhe-ia. "O papel das certificadoras, mais exactamente a suspeita de dejación de suas funções de controle e certificação, está no centro do procedimento judicial. O que tem ocorrido, com a mais que provável connivencia do sector bodeguero e da administração regional, é que se confiou nas bondades da certificação privada", raciocinam desde a União.
Isso significa que as entidades de controle, certificação e inspecção se deixaram em mãos de empresas, "denostando a possibilidade de articular órgãos de gestão com capacidade de desenvolver as tarefas de controle que marca a legislação comunitária, estatal e autonómica de maneira transparente. Esta aposta lhes saiu cara, e é uma das questões que mais está a condicionar o futuro do modelo de DOP agroalimentares", acrescentam os agricultores. Por que se fez assim? "São mais dúctiles à hora de olhar para outro lado", consideram.
Defesa da DOP
O consumidor, acrescentam desde a União, deve ser consciente de que as DOP não são somente selos de comercialização, senão que figuras de qualidade diferenciada como esta DOP ou o IGP são "instrumentos a potenciar porque impedem a deslocalización produtiva e mantêm o tecido produtivo e social, erigiéndose num motor de desenvolvimento em nossos povos".
Agora bem, se a DOP, "seja de vinho, seja de turrón de Xixona" começa a separar do território e da produção, se debilita. "E esta aliança entre agricultores e ganadeiros e os consumidores tem de reforçar-se", acrescentam. Dois reptos para uma zona que sempre tem levado por bandeira a quantidade.
Defesa dos procedimentos
Em seu momento, García Carrión denunciou os factos que pesquisa a Audiência Nacional e defendeu que conta "com a traçabilidade de todos seus vinhos e com as auditorias legalmente exigíveis e certificadas por organismos independentes que acreditam a correcta elaboração e comercialização de seus vinhos sob a DO Valdepeñas".
Mas o clima continua enrarecido. Julián Martínez Lizán, conselheiro de Agricultura de Castilla-A Mancha, reconheceu que este caso "danificava" a imagem da DO Valdepeñas. Também provam a delicadeza do assunto as dificuldades que este meio tem tido para encontrar fontes dispostas a falar sobre o mesmo. Nem a Conferência Espanhola de Conselhos Reguladores Vitivinícolas (CECRV) nem Asaja Cidade Real têm contestado aos correios, e outros importantes agentes do sector têm recusado oferecer seu ponto de vista.
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