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O Exército, a alta cozinha e as universidades: os verdadeiros consumidores de insetos
grilos, vermes e besouros já podem ser consumidos em Espanha, ainda que sejam cada vez menos as lojas que os vendem porque não há uma crescente procura
Chegou-se a dizer que os insetos são os novos bifes. Mas quem compra na verdade estes produtos? "Tenho tido mais pedidos de restaurantes de alta cozinha, universidades e, inclusive, do Exército, que de consumidores individuais", corrobora Alberto Pérez, fundador e diretor da Insectum, uma das poucas empresas que vende insectos em Espanha.
Em Espanha podem-se comer e vender três tipos de insecos: vermes (Acheta domesticus), grilos (Locusta migratoria) e escaravelhos (Tenebrio molitor). No entanto, a procura ainda escasseia e o padrão legal europeu tem algumas reticencias sobre o consumo e a venda destes animais terrestres.
O que dizem as leis sobre o consumo de insetos
Em 2013 a Organização de Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) publicou um relatório sobre a introdução dos insetos na alimentação humana. Segundo este artigo, estes animais poderiam ser uma possível solução para erradicar a fome no mundo. O alto índice de proteínas destes animais é uma das suas principais qualidades. E não é para menos. Enquanto a carne de frango contém 23% de proteína, o grilo loiro conta com 65%.
Mas, ainda que a ciência já estivesse a olhar para este alimento, o regulamento europeu o olhava com receio. Em Espanha, por exemplo, "não havia leis contra ou a favor", lembra Pérez. Nessa altura funcionava o princípio do reconhecimento mútuo. Isto é, se um país europeu aceitava um inseto para seu consumo, outro país vizinho podia comprá-lo e consumir nas suas fronteiras. Não foi até 2018 quando se confirmou a listagem definitiva, e o que temos na actualidade –o regulamento 2283/2015 da UE–.
Pouca procura e muita investigação
Em 2018 também se deixou a porta aberta a que as empresas interessadas propusessem novos insetos para o consumo. No entanto, como lembra Pérez, "não houve muitas solicitações".
O problema? "Aprovar um novo alimento são anos de I+D e muito dinheiro, como não há uma procura clara e as empresas que há no sector são pequenas, ninguém quis apostar", diz Pérez. Na verdade, sugeriram-se oito insetos para comercializar no mercado europeu, e só três passaram à fase final.
Carrefour e BcnInsects atiram a toalha
Hoje, muitas das lojas que vendiam insetos têm abandonado este negócio. Um exemplo é a banca da Bolets Petràs do mercado da La Boqueria, em Barcelona. Sob o selo da BcnInsects a banca vendia-os como se fossem sacos de tubos. "Com a pandemia começamos a ter problemas de envios e deixamos o serviço", conta à Consumidor Global o funcionário da banca. "Tinha consumidores nacionais, mexicanos e alguns turistas que os provavam por mera curiosidade", reconhece.
Apesar que esta loja já não ofereça este serviço, Petràs quer recuperar a venda de insetos, "uma vez que chegue a esperada normalidade", destaca o empresário. O Carrefour também apostou neste produto. Fê-lo através da empresa francesa Jimini's, mas a tentativa não foi rentável e pouco tempo depois de o incorporar nos lineares o abandonaram, tal como confirmaram fontes da empresa a este meio.. O motivo? "Há muito consumo esporádico, mas é difícil criar uma ingestão recorrente. Não há tradição e também não temos recetário", afirma Pérez.
O inseto: a comida de um soldado
Alguns restaurantes oferecem tapas destes pequenos bichos, em especial os dedicados à cozinha mexicana. É o caso do Güey-cozinha chingona, um restaurante mexicano de Madrid. "Oferecemos gafanhotos grelhados", conta Edson Nava, empregado de mesa do local. Na sua opinião, não é o prato mais pedido da sua carta, mas "duas vezes ou três vezes por semana pedem-os", comenta. Na Güey-cozinha chingona, o prato de gafanhotos vem acompanhado de guacamole e tacos, com um toque de picante. E o seu preço ronda os 7 euros.
Aparte dos restaurantes mexicanos, o Exército também se interessou por estes animais. "Compraram-me um lote muito grande para fazer alguns testes. Afinal de contas, os insetos são nutritivos, pesam pouco e têm uma grande quantidade de proteína, características idóneas para uma comida de batalha", explica Pérez. Segundo este especialista, também as empresas panificadoras os compraram. "Há protótipos de bolachas de grilos, massa com farinha de larva ou pão de escaravelho".
A preço de ouro
O preço dos insetos é elevado. Como não há muita procura, nem também produção, este alimento paga-se quase a preço de ouro. Na loja Isectum, 20 gramas de farinha de verme custam sete euros. "O problema está em que em Espanha se podem produzir e consumir, mas não se podem elaborar, nem embalar, de modo que todo o produto que chega aqui provém de países europeus, como França, Bélgica, Áustria ou Alemanha e isso encarece o preço do inseto", diz Pérez.
Na sua opinião, para que o custo seja regulado e equilibrado é preciso mais procura. "É um negócio pouco rentável neste momento, as empresas ue o integram são porque temos poucos trabalhadores e são pequenas empresas. Eu estou só, compro o que vendo e meu stock é limitado", conclui.
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